A nomeação de
Franquelim Alves é mais uma prova da vulnerabilidade do regime democrático. A
escolha de um gestor que esteve envolvido no escândalo SLN/BPN ultrapassa o admissível
em qualquer país moderno e civilizado. Aliás, o embaraço na maioria é tal que
até Nuno Melo, do CDS-PP, já o admitiu publicamente.
A opção do
primeiro-ministro já não surpreende, tendo em conta a sua reiterada falta de
cultura democrática, amplamente demonstrada por diversos casos e pela permanência
de Miguel Relvas no Governo; de igual forma, também ninguém ousaria esperar que
o presidente da República pusesse um travão a este escândalo, pelas razões que
são públicas e notórias.
A crise que
está a montante da bancarrota chegou a um tal ponto que os líderes de dois órgãos
de soberania já nem demonstram prudência em evitar pisar o risco do
descaramento político e institucional; de igual modo, alguns socialistas responsáveis
pelo descalabro até já se sentem suficientemente confiantes para tentarem
influenciar a disputa pelo controlo do PS.
O país não
pode ficar indiferente à tentativa politicamente desprezível de branqueamento, seja
ele qual for, como se fosse possível separar o trigo do joio no seio de um qualquer
lamaçal de fraudes, vigaristas e oportunistas.
Enquanto os
portugueses continuam a pagar os desvarios de uma certa casta, com ligações ao
mais alto nível do Estado, habituada a ser protegida pelos mais diversos
poderes, os últimos sinais apenas confirmam que a impunidade continua a reinar.
Se o
Governo já estava moribundo, a partir de agora deixou de ter qualquer hipótese
de sobrevivência, com a agravante de colocar alguns dos seus elementos, com um
passado profissional a defender, perante uma situação profundamente
desconfortável.
Portugal
continua a ser o país de todas as omissões. O fechar os olhos e o fazer de
conta são atitudes que atravessam transversalmente o poder e a sociedade. E
estão de tal forma arraigados que já ninguém se dá ao trabalho de enxergar o atoleiro
em que o país está transformado.
Pedro Passos
Coelho continua a rasgar as promessas que fez aos portugueses. E está a
contribuir para reforçar o quadro dantesco que herdou: um político só tem
futuro no partido se fizer de conta que não vê a corrupção e o tráfico de
influências; um deputado só pode manter o seu lugar se obedecer cegamente à
disciplina partidária; um magistrado tem de estar atento às ordens subliminares
do poder político para não ir parar a uma qualquer comarca do interior; um
empresário tem de se adaptar à maioria no poder para aspirar a beneficiar de
apoios, subsídios e créditos; e até um jornalista tem de ter atenção, pois há
dúvidas sobre quem são os verdadeiros patrões da comunicação social.
A solução
não passa por heróis. Nem por respostas extremistas, violentas ou demagógicas. Nem
tão-pouco pelo regresso ao passado ou a mais e mais maladas de dinheiro sujo
para acorrer às dificuldades de curto prazo.
O país tem
de mudar de atitude e revelar disponibilidade para poder enfrentar um Governo
que não é respeitado e que já nem se dá ao respeito.
Enquanto os
portugueses não se indignarem, o país continuará a estar entregue aos que calam
e comem; aos que nunca meteram um tostão ao bolso, mas fecham sempre os olhos em
relação ao que se passa ao seu lado; em suma, aos que continuam a invocar o
formalismo para manter as aparências e garantir os privilégios.
Os que
nunca se calaram e continuam a resistir têm de redobrar esforços para romper
com este círculo vicioso infernal.
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