A credibilidade de governantes e políticos diminui à medida que a sociedade
agoniza. Entretanto, a palavra crescimento voltou a ocupar o espaço mediático,
como se fosse simples resolver todos os problemas acumulados ao longo de
décadas.
No momento em que encalhámos na sétima avaliação da troika, vale a pena
tentar perceber o que esconde esta quimera que une os incautos, os oportunistas
e os demagogos.
É preciso olhar para o passado: o crescimento do PIB foi sempre inferior a
3% nos últimos doze anos, tendo registado um enorme tombo a partir de 2008. A relevância
destes números tem um significado muito importante porque as bateladas de dinheiro
da União Europeia facilitaram a tentativa de alavancagem da economia através do
investimento público.
Durante este período, em que todos os desvarios foram permitidos, alguns
dos quais deveriam ser tratados como meros casos de polícia, a dívida pública dobrou,
tendo começado a atingir limites obscenos a partir de 2005.
Estes indicadores revelam uma conclusão indesmentível: o crescimento à custa
do investimento público desenfreado e de mais e mais endividamento não passa de
uma aventura criminosa, que, aliás, nos conduziu à actual situação.
Também importa observar quem ganhou mais com esta andança frenética de
despejar milhões e milhões sobre a economia. A resposta está à vista de todos:
uma meia dúzia de grupos económicos engordaram à mesa do orçamento, alimentando
um sector financeiro imprudente e capaz de tudo para aumentar os dividendos, sem
que as PME's tenham sido devidamente apoiadas.
É preciso denunciar que o rei vai nu, no momento em que o governo prepara com
uma mão mais cortes e com a outra mão uma espécie de plano de crescimento
económico.
Não é suficiente diabolizar a troika. Também não basta fazer meia dúzia de
investimentos faraónicos para alterar alguns agregados económicos e
financeiros. Em síntese: já não basta brincar com as estatísticas para esconder
as teias de corrupção que sustentam os mesmos de sempre.
É preciso dizer que não há soluções instantâneas e milagrosas, neste
momento crucial do país. Para sair dos cuidados intensivos, temos de exigir o
que devia ter sido feito desde o primeiro momento em que Pedro Passos Coelho assumiu
a liderança do XIX governo constitucional: acabar com os privilégios,
domesticar o sector financeiro e os grupos económicos e obrigar a governação a
adoptar um comportamento transparente, responsável e democrático.
Os três pilares da solução estão diagnosticados há décadas. Só falta vontade
política para os implementar. Não em um, dois ou três anos, não à custa de
sacrifícios incompreensíveis de apenas uma geração, mas com tempo, competência
e a força de um caminho seguro. Tudo o resto é conversa fiada, paleio de corrupto
que quer ser tratado com o respeito que não merece.
A questão não é moral ou doutrinal como continuam a propalar alguns cínicos
que só se lembraram da defesa do Estado Social quando saíram do poder.
No momento em que o Governo se prepara para anunciar novas medidas, é
preciso afirmar que o crescimento nem se alcança com facilitismos, nem com doses
de austeridade cavalares, que colocam um povo inteiro à beira do colapso.
Para almejar sair do buraco para onde os portugueses foram atirados, por
meliantes sem um pingo de vergonha, é preciso aprender com os erros do passado
e, sobretudo, resistir aos cantos das sereias, estejam elas à vista ou com um
pé sempre atrás da moita.
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