O líder socialista conseguiu.
O caminho percorrido permitiu-lhe atingir cinco objectivos: a liquidação da
credibilidade do governo; a fragilização da autoridade do primeiro-ministro; a
pacificação do seio do PS; a redução dos seus rivais a comentadores
televisivos; e a abertura da porta a um novo governo socialista.
Fruto da sua longa experiência partidária, Seguro conseguiu demonstrar a
falta de credibilidade da equipa governamental, ora dando-lhe a mão no início,
ora cobrando os insucessos gritantes no momento certo.
Com uma estratégia ousada, cavalgando divisões e sucessivos erros da
maioria, Seguro conseguiu fragilizar a imagem de Pedro Passos Coelho e apresentar
uma moção de censura no momento em que este perdeu o seu braço-direito.
Com uma habilidade notável, Seguro conseguiu pacificar o partido despedaçado
por alguns dos responsáveis pelo desastre que obrigou o país a pedir
assistência externa, esvaziando progressivamente quem ainda não aceitou a
derrota de 2011.
Com uma ponta de calculismo, Seguro conseguiu acantonar os seus principais
rivais nas cadeiras de comentadores das estações de televisão, colocando-os na
obrigação de lhe dar cobertura política.
Chegados aqui, é preciso sublinhar que, para já, erraram todos aqueles que
lhe vaticinaram um papel de transição. Aliás, ninguém conseguiu adivinhar que,
passados dois anos da substituição do pior governo socialista de sempre,
António José Seguro conseguisse a proeza de estar à beira de chegar a
primeiro-ministro.
O sucesso é inegável, mas ainda falta o sprint
final.
António José Seguro pode ser um dos candidatos a primeiro-ministro mais
preparados de sempre, mas ainda tem de provar que reúne todas as condições para
assumir uma tarefa tão hercúlea. Para isso, tem de aproveitar o caminho aberto
de par em par, apresentando as linhas-mestras de um projecto alternativo. E
mais: tem de começar a revelar os nomes da equipa que vai liderar, de forma a
convencer os portugueses que o mais recente equívoco chamado Pedro Passos
Coelho não voltará a ser repetido.
Nos próximos tempos, dois factores vão ser decisivos: por um lado, a
demissão de Miguel Relvas vai obrigar a uma clarificação sobre a real
capacidade do primeiro-ministro para continuar a liderar o governo; por outro, a
decisão histórica do Tribunal Constitucional vai acelerar o jogo político de
tal forma que já todos admitem o desfecho há muito anunciado: a queda do XIX
governo constitucional.
Com um presidente da República esgotado e refém do passado, sempre mais
preocupado em manter as aparências do que salvar o país, as eleições legislativas
antecipadas são inevitáveis, mais dia menos dia, mais mês menos mês, mais ano
menos ano.
O vento está a favor do líder socialista. Mas a solução não se alcança com improvisos,
demagogias e rostos do passado, por mais truques, retoques de marketing e encenações grotescas.
Há cerca de um ano, afirmei: «Não falta futuro a António José Seguro, mas
sim coragem política para definir claramente o caminho para reconquistar a
credibilidade perdida do PS».
Ora, chegou o momento, precisamente, do encontro de António José Seguro com
a história.
Face a um
primeiro-ministro que deixou de ter álibis para mais falhanços e trapalhadas, das
mais infantis às de Estado, basta ao líder socialista manter o rumo, ter mão
firme e evitar cair na tentação de branquear os erros passados dos socialistas,
em suma, ter o carácter de não tentar enganar os portugueses com mais falsas
promessas.
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