domingo, 8 de maio de 2016

Estado chroma


Sob a capa de um discurso vistoso e diabolizando quem ainda nos permite ter pão na mesa, literalmente, é caso para dizer que a António Costa está apostado em alimentar um Estado chroma, cavalgando uma sucessão de imagens que ele, e todos nós, sabemos que são apenas e tão-só virtuais, com ou sem túnel à mistura.

O leitor só descobre o chroma quando lhe é permitido ver os bastidores pobres e desinteressantes de uma produção cinematográfica, de um programa de televisão ou de uma sessão fotográfica.

A parede verde no fundo é de estranhar, ao permitir uma diversidade fantástica e uma celeridade inimaginável, mas depois entranha, entranha e até confunde, pois permite a criação da aparência de um mundo perfeito.

Filme a filme, programa a programa, imagem a imagem, take a take, frame a frame, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, tudo parece mudar, numa explosão de cores e formas, mas afinal continua tudo na mesma, com a parede verde, sempre verde, no mesmo sítio.

Um par de meses após o regresso da esquerda ao poder, agora sim, de toda a esquerda, o sonho (ingénuo?) de haver alguma diferença em relação à direita que nos tem governado está à beira de virar pesadelo.

O Estado já nem esconde a falência, a corrupção que o mina e, agora, até faz gala em ameaçar não assumir os contratos que assina.

Só faltava o discurso arrogante e típico de quem anda sempre com o povo na boca mas ignora e espezinha os direitos dos cidadãos.

Em nome de uma legitimidade ilimitada da representação política, logo abusiva e falsa, a megalomania parece não ter limites para quem, fazendo de conta que tudo está bem, mantém o discurso de quem tem os cofres cheios, embora saiba muito bem que eles estão, outra vez, cada vez mais vazios.

É a manipulação mais grosseira, quiçá desprezível, ao serviço da táctica política e partidária, ignorando que o iminente falhanço, mais um, pode ter um preço e impacte devastadores sobre a vida das pessoas e das famílias.

Estamos a assistir, novamente, a momentos surrealistas da vida colectiva do país, emparedado entre o passado, marcado por atitudes delirantes e messiânicas (José Sócrates e Pedro Passos Coelho), e o presente sublinhado pela atitude irresponsável (António Costa).

Só faltava ainda outro tipo de atitude: a felicidade dos afectos (Marcelo Rebelo de Sousa).

Tanta encenação!

Os portugueses merecem mais do que este Estado chroma.

A verdade é bem diferente: nos corredores do poder está em curso uma guerra de interesses para manter a sobrevivência de alguns lugares no Olimpo das facilidades.

Indiferentes à vida dos cidadãos, a realidade aí está, tal e qual como é: se o défice aumentar, então o Estado aumenta os impostos; se a dívida continuar a crescer, então o Estado corta nas pensões; se o emprego não florescer, então o Estado ameaça o sector privado e avança com negociatas que permitem comissões chorudas; se a banca abre falência, então o Estado obriga o contribuinte a pagar.

O Estado é apenas o que parece, porque acreditamos no querem que acreditemos, e permitimos que assim seja.

Será coma?

Será carma?


Até pode ser chroma, mas não o pode ser eternamente, porque até no mundo virtual também há limites.

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