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domingo, 13 de outubro de 2019

PORTUGAL: NA ROTA DE UMA NOVA ERA


Portugal é um país abençoado e feliz.

De facto, os votos expressos nunca enganam.

E às vezes são exactamente como o algodão: limpam, limpam, limpam...

Ou seja, os portugueses foram indiferentes a Tancos e aos órgãos de soberania colocados "a salvo" in extremis, à decapitação da cúpula do MP que mais combateu a corrupção, à corrupção instalada ao mais alto nível, à degradação galopante da credibilidade do Estado, ao preocupante abrandamento da economia e à astronómica dívida.

Ah, mas isso não interessa nada!

E nem o dia-a-dia dos últimos quatro anos mudou a sua indiferença: os cadáveres do SNS, os pensionistas que esperam e desesperam pela sua reforma, as demissões governamentais, o recuo na aplicação da Lei das Incompatibilidades (chancelado pela PGR), o nepotismo e a partidarização de instituições como a Protecção Civil, entre outras, sem esquecer os desastres florestais e a tragédia humana, a degradação inimaginável dos serviços públicos e a carga fiscal que não pára de aumentar.

Ah, mas isso também não interessa nada!

O que importa é que os portugueses gostaram e votaram pela "geringonça".

E conseguiram!

Resultado: depois de conhecidos os resultados eleitorais, a morte da "geringonça" foi decretada em 24 horas, com mais ou menos truque agora em versão classificada como coreografia.

Uau!

Aqui e ali ainda se vislumbraram algumas lágrimas de crocodilo, mas isso também não interessa nada.

E se o respeito pelo voto popular expresso é este, então o que dizer do silêncio pesado sobre os restantes 47,83% dos votos (abstencionistas, brancos e nulos)...

Ups!

Mais isso também não interessa nada...

Vamos ao que interessa: temos pela frente novos tempos.

Soberanamente, os portugueses abriram de par em par a porta a uma nova realidade, quiçá a um regabofe nunca visto.

António Costa pode não ter a maioria absoluta, mas tem os deputados suficientes para poder fazer o que quiser.

E até programar, mais uma vez, com mais truque menos truque, para serventuário elogiar, uma crise política artificial para almejar a tão sonhada maioria absoluta em eleições antecipadas.

É um Senhor, mais um entre tantos que por aí andam.

Entretanto, a selecção de futebol de Portugal continua a ganhar...

A RTP retoma o programa de investigação jornalística que suspendeu durante a campanha eleitoral...

O presidente da República arranca com um novo argumento - entre a ficção e a novela, desde a saúde pessoal à tentativa de reescrever a história recente -, que promete uma nova dimensão do bailete...

Sim, sim: Netflix, já!

Temos e teremos o que merecemos.

Somos os maiores.

Portugal entrou na rota de uma nova era.

Interesse ou não, seja bom ou mau para Portugal, fica a reflexão para mais tarde recordar.