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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

CALDINHO DE GALINHA, À CHINESA


Miguel Alves, secretário de Estado Adjunto, era capaz de servir de inspiração para o guião de um filme de um qualquer país do Terceiro Mundo.

Não pode almejar ser o protagonista, pois António Costa preenche indiscutivelmente os requisitos necessários para ser o cabeça-de-cartaz.

A indecência republicana não é nova, aliás tem sido sempre assim com o PS em maioria absoluta.

Não é de admirar, pois o desprezo que o primeiro-ministro tem revelado pelos cidadãos é bem patente nos serviços públicos prestados em Portugal.

Novidade é mesmo o desapego em saber o essencial: por que razão António Costa, apesar de saber, ou dever saber, a situação de Miguel Alves, arrisca a credibilidade democrática que lhe resta?

Em primeiro lugar, porque julga-se o novo DDT; em segundo, porque os seus truques e ficções têm resultado; e, por último, porque sabe qual é a capacidade de escrutínio da imprensa.

Os jornalistas têm medo de fazer perguntas que realmente incomodam o primeiro-ministro, pois sabem que tal pode resultar em dias mais difíceis.

Uma entrevista, tipo caldinho de galinha, à chinesa, pode garantir uma vida bem mais calma e compensadora.

Os tempos são assim, entre arbítrios, graçolas, ostentações, vaidades e vassalagens amplamente cobertas pelos holofotes mediáticos sem qualquer critério editorial.

O presidente não perdoa falhas na execução do PRR, mas tolera mais sem-abrigo, mais mortes por falta de assistência médica, mais atrasos no processo de reforma, mais e mais Odemira e até um governo com um notável arguido.

Os tempos excepcionais de crise são um perigoso rastilho que pode incendiar com este tipo de condutas politicamente patéticas.

A receita de gritar aos sete ventos que a Democracia está em perigo, para esconder a podridão do regime e ganhar eleições, não é eterna.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

REVIVER O PASSADO

 

Egos, decisões e corrupção, que recaem no esquecimento do tempo, têm custos extraordinários que estão mesmo ao nosso lado, no dia-a-dia, por mais que a propaganda tente escondê-los.

Da Saúde à Justiça, da Administração à Economia, da Educação à Segurança, Portugal continua mergulhado num tempo de opções avulsas, truques vis e oportunismos descarados que vão custar mais sofrimento e demorar décadas a corrigir.

Os casos de abandono e incúria do Estado, que vão enxameando o espaço mediático – qual ponta do iceberg –, vão rasgando qualquer veleidade de justiça social e até de Estado de Direito.

Uns, chamam-lhe pragmatismo; outros, encolhem os ombros; e alguns ainda confiam na globalização.

Entretanto, mais campanha menos campanha eleitoral, lá surgem as promessas desbragadas, agora sob a forma de PRR para beneficiar os da mesma cor do poder.

O que é feito da memória?

Estamos a reviver o passado que nos atirou para a miséria, com os mesmos interlocutores e métodos, beneficiando do encobrimento e passividades. 

Os mais velhos chamaram-lhe ditadura, recentemente “asfixia democrática”, enquanto os sempre apanhados de “surpresa” lá seguem o chefe.

São poucas as vezes em que é possível identificar o "culpado", anos passados de demagogia e cumplicidades diversas, das pessoais às institucionais.

Ninguém sabia de nada.

Silêncio!

Take 260921.

O povo é quem mais ordena, e à cautela uma câmara de vigilância em cada esquina.

Os homens do poder, com esta espécie de Esquerda a mandar, agarram o pau como podem, numa mão a insensibilidade social e na outra a incompreensão do desespero.

Fazem lembrar a ignomínia de ditadores e comitivas a fazerem compras nas avenidas de luxo das capitais mundiais enquanto os seus povos morrem de fome.

Vai mais uma vacina?


segunda-feira, 12 de julho de 2021

GOVERNAÇÃO SEM GOVERNO, PRESIDÊNCIA SEM PRESIDENTE


O pântano, o BPN, o BES, o BPP, o BANIF e até o Montepio não nos serviram de lição.

Em vez de mudar, continuámos a eleger os mesmos que estiveram – e estão! – na origem dos maiores roubos financeiros que já custaram milhares e milhares de milhões de euros aos cofres públicos.

Preferimos a falsa estabilidade, que favorece a corrupção e o nepotismo, desbaratando os meios para ter mais Saúde, mais Educação, mais Justiça, mais Economia.

Adiámos, como sempre, a ruptura que poderia ser regeneradora para mantemos o lodaçal de uma crise permanente, dominada pelos mesmos vícios e oportunismos, cujo desfecho já deixou há muito de ser imprevisível.

E António Costa tem o dislate político de ainda tentar a desvalorizar aquilo que está mesmo à frente dos nossos olhos.

E Marcelo Rebelo de Sousa lá continua a fazer de conta, ora recorrendo ao formalismo, ora promovendo mais e mais folclore.

O novo escândalo do Novo Banco, que envolve Luís Filipe Vieira, tem mais um protagonista – Vítor Fernandes – que foi escolhido para liderar a nova instituição financeira que será responsável pela canalização dos fundos da bazuca.

Apesar de todos os avisos, o primeiro-ministro, com a óbvia cumplicidade do presidente, ousaram nomear um “velho” conhecido da banca para meter a mão no balão de oxigénio (mais um) ofertado pela União Europeia.

As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) são, como sempre foram, um dos mais importantes aliados da transparência.

Mesmo nos momentos, e foram muitos, em que alguns tentaram sabotar, interna ou externamente, a investigação dos parlamentares.

Não surpreende, portanto, que uns tantos outros tenham sempre desvalorizado um instrumento que permite rebentar os alçapões criados para esconder do povo aquilo que o povo deve saber.

Depois de tudo escarrapachado documentalmente, do espectáculo dos grandes devedores no Parlamento, o poder ao mais alto nível institucional voltou a "distrair-se" impunemente no silêncio dos bastidores.

Alimentam-nos o sonho de sermos os melhores no futebol, escondendo que apenas a Bulgária é mais pobre do que Portugal no seio da União Europeia.

Governação sem governo, presidência sem presidente, eis o balanço disto.

No momento de uma crise pandémica sem precedentes, Portugal corre para o abismo financeiro, económico e social.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

VALHA-NOS A EUROPA


A semana começa com o credo na boca.

Os olhos e os corações estão concentrados nas negociações europeias para a aprovação do Fundo de Recuperação.

A cimeira europeia dos próximos dias 17 e 18 de Julho vai decidir o nosso futuro.

Sim, dependemos totalmente da solidariedade europeia para comer e tentar respirar nos próximos anos.

Mais uma vez, Portugal, com os socialistas na liderança do governo, é apanhado com as calças na mão, desta vez por causa da pandemia.

Ninguém, mas mesmo ninguém, se atreve a colocar a hipótese de não haver um acordo que faça chover mais dinheiro.

Mas nem tudo são rosas.

A eleição do novo presidente do Eurogrupo, um desastre diplomático para Portugal, não é um bom augúrio.

Apesar do apoio alemão a Nadia Calviño – candidata apoiada por António Costa – foi o irlandês Paschal Donohoe que venceu.

Em tempos de pandemia, e com a Alemanha cada vez menos disponível para pagar os interesses de cada um dos países, algo está a mudar entre os 27 países membros da União Europeia.

E o inicio desta mudança surge precisamente no momento em que Portugal ultrapassou os 260 mil milhões de euros de dívida pública, o valor mais elevado de sempre.

Não estamos tão mal como a Itália, mas também não temos a força da economia italiana, nem poderemos contar com a ajuda da afundada economia espanhola liderada por um governo PSOE/Unidas Podemos.

E o sacrossanto binómio exportações/turismo está em reparação.

É neste contexto que o país tomou conhecimento do "plano" de António Costa e Silva, um documento vago e sempre ao serviço, que nos faz regressar ao passado da discussão do TGV, com um toque de "La Seda" da nova fronteira de produção de hidrogénio.

Já não temos desculpa, porque já vimos e pagámos este filme de terror demasiadas vezes.

E nem mesmo o anunciado plano estratégico para a década, desta vez do PSD, serve para sossegar os mais realistas.

E vai ser, novamente – temos de ter Fé! –, um valha-nos a Europa.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

PATRIOTEIROS E FINGIDOS


O último governador de Macau, do alto da sua impunidade institucional, considerava maus portugueses aqueles que criticavam a administração portuguesa, numa espécie de versão cavaquista do então "deixem-nos trabalhar".

Não tarda nada, a propósito da Covid-19, ainda vamos assistir à mesma rábula tão típica de uma concepção do mundo paroquial em que, aliás, o secretismo e os apelos à união são tão-só uma tentativa infame de alijar responsabilidades.

Apontar os erros clamorosos, para não dizer criminosos, ao falhanço no combate à pandemia continua a ser, na lógica dos patrioteiros de algibeira, uma espécie de ataque ao interesse nacional.

Não importa a verdade, a realidade e o sofrimento de quem vive um dia-a-dia cada vez mais infernal com serviços de hospitais fechados e transportes públicos que mais não são do que uma via verde para ficar doente.

Apenas interessa a boa imagem de Portugal, como se fosse possível garanti-la, na era da informação global, com truques canhestros  e um "milagre" mal-amanhado.

E, assim, lá se vai inventando um bode-expiatório – ontem eram os mais velhos e hoje são os jovens , deixando cair até, preventivamente, o aviso de que não há espaço para uma crise política, tanto mais que a culpa é sempre dos outros.

Infelizmente, os patrioteiros e fingidos continuam impunes, apesar de comprometerem o futuro do país, fazendo gato-sapato de quem tem de enfrentar o vírus e recusa ser tratado como carne para Champions.

O resultado está à vista: debaixo dos discursos oficiais e da capa do Estado estão os números crescentes e assustadores de infectados em Portugal.

Aliás, o desnorte é tal que só faltava mesmo desvalorizar a interdição da entrada de portugueses em diversos países europeus, entre os quais alguns dos principais aliados.

Não valeu a pena tanta ficção, tanta lamechice, tanta opacidade, tanta sabujice política e tanta desonestidade intelectual.

A estratégia de passar verniz por cima dos problemas  a que despudoradamente já se chamou a extraordinária capacidade de improviso dos portugueses , revela até que ponto atravessamos momentos dramáticos e ameaçadores.

O presidente da República e o primeiro-ministro deviam meter a mão na consciência, reflectindo seriamente enquanto é tempo, pois o que o país precisa é de mais acção e menos palavreado, mais prevenção e menos bazófia e mais competência e menos incúria.

É que o nosso futuro não pode depender de patrioteiros e de fingidos.















segunda-feira, 8 de junho de 2020

REGRESSO À (A)NORMALIDADE


A propaganda quer convencer-nos que estamos a regressar ao tempo em que não existia a pandemia.

Mas será, entre os sobressaltos na Grande Lisboa,  que estamos a falar de continuar a aceitar a (a)normalidade de 2019 em que morreram mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo por fome e pobreza?

De facto, pouco ou nada tende a mudar estruturalmente.

A Democracia continua a deixar para trás os mesmos de sempre: os mais pobres e aqueles que mais precisam de auxílio.

E, agora, também tem sido assim com as "ajudas" estatais tendencialmente dirigidas, com a Saúde cada vez mais desigual, com a Educação de faz-de-conta que liquida o elevador social e até com a indiferença quando a Justiça parou.

Os critérios opacos e de geometria variável são a sustentação desta "filosofia" da (a)normalidade que acalenta os amigos e os poderosos do costume ao mesmo tempo que propala uma mensagem de solidariedade para enganar os tolos.

E para credibilizar a léria, até garantem que serão precisos anos para regressar à tal (a)normalidade, ou seja o sacrifício de mais uma geração e atirar os pobres para o Banco Alimentar com direito ao afago da caridosa Jonet.

Face a esta realidade, o que faz o presidente da República?

Alimenta o bailete com umas tiradas tão mistificadoras quanto infantis e lá vai tomando umas banhocas com direito a directos televisivos e ao primetime.

E o primeiro-ministro?

Escolhe um gestor à socapa, garantindo-lhe mais de um mês de "liberdade de movimentos", para apontar o nosso futuro no espaço de uma década.

Dá que muito que pensar...

Com pandemia ou não, os tempos são sempre o espelho de atitude ou apatia, de escolha ou indiferença, de resiliência ou desistência.


segunda-feira, 28 de outubro de 2019

XXII GOVERNO: QUANDO O PRESENTE FAZ LUZ SOBRE O PASSADO


É um início sombrio, envolto em golpes de teatro e várias suspeitas, certamente frustrando as expectativas de uma parte dos eleitores que votaram no PS e da generalidade dos portugueses.

E é muito mais do que um Executivo numeroso, repleto de tachos para os amigos, militantes e simpatizantes de quem tem o poder.

Em suma: é um passo no sentido do regresso ao passado, ainda que sem maioria absoluta, em que os princípios de convivência democrática são vergados pela prepotência e impunidade políticas.

O mais grave é que o XXII governo constitucional mereceu um cheque em branco presidencial no momento de tomada de posse.

E os riscos, mais do que glosados na comunicação social e no que resta de opinião publicada independente, voltam a valer apenas o que valem, ou seja, nada nos tempos que correm.

As nomeações de João Galamba, Antero Luís e Nuno Artur Silva são exemplos paradigmáticos do actual processo de abastardamento democrático.

O secretário de Estado Adjunto do Ambiente é protagonista de um dos negócios de Estado com cambiantes caricatos de que não há memória.

Nem mesmo o eventual inquérito aberto pelo Ministério Público ao negócio do lítio foi suficiente.

Não!

Quem manda é Costa, com Marcelo a sorrir para as câmaras de televisão...

Por sua vez, a participação no Executivo de um magistrado que liderou o SIS e o organismo mais importante da Segurança Interna também não deixa quaisquer dúvidas.

Hoje, tal como ontem, de triste memória, é a confusão entre Política e Segurança, como se fosse necessário recriar uma espécie de cordão sanitário à volta do poder político.

Mas ainda faltava a pérola...

A nomeação de Nuno Artur Silva para a secretaria de Estado do Cinema, Audiovisual e Media traduz a teimosia e a arrogância políticas de António Costa, com Marcelo a continuar a sorrir para as câmaras de televisão.

E nunca é de mais recordar: as críticas decorrem da violação da mais elementar transparência política, e não de qualquer a priori de carácter de quem quer que seja.

De truque em truque, de formalismo em formalismo, os tiques autoritários bem podem servir para a alimentar os senhores do poder, mas tal mina a confiança dos cidadãos.

Who cares?, dizem alguns, contrapondo que o fundamental são os dados macro e estatísticos, as contas mais ou menos certas e a vertigem da modernidade com o lixo debaixo do tapete.

Para quem ainda tinha dúvidas, tudo ficou mais claro...

É o país das elites que temos e merecemos, é a consagração de um bailete ainda mais refinadamente cínico, com Marcelo sempre à espreita de uma qualquer câmara de televisão para continuar a sorrir.

A marca é inconfundível, chancelando a afronta ao bom senso e à ética republicana, a qual, aliás, já nos conduziram ao pântano e ao período mais negro da história da Democracia em que, aliás, António Costa assumiu o lugar de um dos protagonistas.

No arranque da 14ª Legislatura fica cristalino, mais uma vez, todo o descaramento político.

Em que volta a importar tão-só a ilusão de normalidade, em que não cabem os desafios adiados, o desrespeito pelos cidadãos e os esqueletos da República, sejam os cadáveres da Saúde ou as negociatas de Estado, sem esquecer Tancos, entre outros...

Desta vez, António Costa não poderá voltar a dizer candidamente que não sabia de nada, por mais que Marcelo continue a sorrir para as câmaras de televisão.

Vamos assistir aos mesmos erros, abusos e desmandos, outra vez?

domingo, 20 de outubro de 2019

PANTOMINA POLÍTICA SEM LIMITES


A degradação do regime democrático está a atingir níveis impensáveis.

Entre muitos outros, e só para falar nos mais recentes, alguns exemplos sucedem-se: no Estado – com o negócio do lítio –, no governo – com novas nomeações ministeriais escandalosas –, nas Forças Armadas – com a tentativa de enterrar Tancos –, na comunicação social – com o escândalo do Sexta às 9 na RTP –, na Saúde – com o encerramento de Urgências – e na Justiça – com os processos Operação Marquês e Rui Pinto.

E, já agora, depois de todo o branqueamento descarado relativamente ao escândalo do familygate, é o próprio primeiro-ministro, António Costa, a dar sinais, aparentemente, da imperiosa necessidade de travar a promiscuidade ao mais alto nível da governação.

Não há palavras para toda esta pantomina política...

E tal só tem sido possível por força de um governo liderado pelo PS, agora reconduzido em eleições, de uma maioria de esquerda parlamentar que o sustenta por razões de táctica partidária, de uma máquina de propaganda travestida de opinião independente e de um presidente da República que exerce o seu mandato com uma ligeireza que poderá eventualmente estar a roçar a afronta constitucional.

Obviamente, os portugueses querem, antes de tudo, ver a sua vida melhorada e os seus direitos repostos, mas o que está a acontecer é demasiado grave para poder ser ignorado.

A falta de reacção dos cidadãos ao atropelo dos mais elementares deveres de responsabilidade política e de ética republicana constituem o mais perigoso sinal de tolerância, uma espécie de incentivo que já está a resultar num abastardamento democrático com consequências imprevisíveis.

O que se segue?

Uma nova versão da asfixia democrática?

Aliás, paradoxalmente, e de uma forma bem paradigmática, é a própria RTP a dar o "exemplo", conferindo visibilidade ao crescimento do arbítrio e da opacidade que tomaram conta do país.

E, então, o que dizer da indigitação do novo governo sem estarem apurados os resultados eleitorais?

Por um segundo devemos colocar a questão a nós próprios: alguém imagina o que aconteceria se algum destes casos tivesse ocorrido nos anos 80, 90 ou na primeira década do século?

Mais uma vez, com a esquerda no poder, os direitos individuais, a transparência na governação, a liberdade de informação e o combate à corrupção são esmagados pela prepotência de quem tem o poder.