O país está a acordar para a realidade brutal, depois de anestesiado pela pandemia, selada com o slogan #NinguémFicaParaTrás, entre outros manifestamente exagerados.
E a aproximação de um acto eleitoral é sempre um tónico.
A entrevista que Marcelo Rebelo de Sousa deu aos jornalistas Bernardo Ferrão e Ricardo Costa, na SIC, foi um momento de boa informação que elevou a fasquia do escrutínio para todos os candidatos presidenciais.
O que ficou da entrevista?
Além das mentiras, omissões e até critérios duais, ficou ainda mais claro o mandato inconsequente e o dilema político em que Marcelo se deixou enredar.
Apanhado no seu próprio folclore, Marcelo foi encostado às cordas de cinco anos de colagem ao governo para garantir o apoio dos socialistas nas presidenciais de Janeiro de 2021.
A mais recente "jogada", com Manuel Magina da Silva, é apenas uma amostra do desnorte presidencial e do que ainda virá por aí.
Aliás, também ficámos conversados em termos de Estado: oportunismo a mais sem justificação e seriedade a menos quando se impunha.
Tal como Tancos, o caso de Ihor Homeniuk deixa um imenso rasto que o tempo dificilmente apagará.
E, quanto à reserva por causa dos inquéritos criminais, ainda temos memória dos incêndios de Pedrogão e da fantástica declaração, em Setembro de 2019, em Nova Iorque (prudentemente fora do país), garantindo que o presidente não é criminoso.
De facto, Marcelo sem plano B fica ao nível do artista medíocre.
Cada vez que renegar Costa será visto como o rato que abandona o barco, logo menos votos do PS.
O recandidato vai pagar o preço de estar na fotografia ao lado de o primeiro-ministro, e a crise ainda só vai no adro.
É com perguntas incómodas que a informação pode dar aos cidadãos as melhores ferramentas para escolher.
E, apesar de mais ou menos insulto e represália, dignos de serviçais sem freio, a verdade é que o jornalismo acrescenta e brilha quando é competente, assertivo e independente.
Aliás, levar ao colo um qualquer político, seja ele qual for, nunca tem futuro, nem com subsídios, nem com testas-de-ferro.
Com a dupla Marcelo/Costa, o país acelerou o ritmo de empobrecimento e reduziu a margem de segurança em relação ao abismo.
E a degradação do ambiente político não pára de surpreender.
Um e outro, cada um ao seu estilo, mais finta menos truque, dificilmente conseguirão iludir o descontentamento e o agravamento do pântano instalado.
Bem podem as sondagens insistir no novo amanhã marcelista.
No dia 24 de Janeiro de 2021, no momento de escolher, os cidadãos vão meter a mão no bolso.
E, porventura, tanta selfie, afecto, incúria, trapalhada, propaganda e miséria podem fazer a diferença no momento de depositar o voto na urna.
Será que o artista resiste?