A imagem de um presidente fechado no carro, só, às voltas na noite fria, deixando passar o tempo, é o retrato da tempestade perfeita.
Continuamos a resistir na troca da certeza da mediocridade pela incerteza da mudança.
Mas aqui chegados, com Marcelo Rebelo de Sousa em Belém, mais cinco anos, o que nos espera?
A única certeza é um governo de arrogância, em modo de maioria absoluta à portuguesa, com Bloco e PCP moribundos e a direita aprisionada em si própria, face à incerteza da devastação económica, financeira e social, já que politica e institucionalmente não é possível descer mais.
Vamos continuar a ter anúncios e mais anúncios, como aquele dos sem-abrigo que ficaram na gaveta do esquecimento, para entreter aqueles que se contentam em ser entretidos, num ambiente nauseabundo que recorda os tempos de Sócrates.
Do folclore dos afectos vamos passar à exigência de uma presidência domesticada, sempre animada e colorida, mas certamente impotente e inconsequente.
Como é possível regressar, passado tão pouco tempo, ao ponto de partida do desastre?
O paleio da igualdade e solidariedade miríficas continuam a embalar uma população que só tem à sua volta a desigualdade cruel e o exemplo do oportunista assalto ao plano de vacinação.
Confortados pela sempre renovada falácia do grande abraço protector do Estado lá vamos pactuando com o flagício para não abrir uma crise política, enquanto o regime apodrece a cada dia que passa.
Agora com a esperança infundada de um presidente mais escrutinador, apesar de só ter para oferecer mais e melhor do mesmo, a manutenção do status quo, o futuro parece ainda mais sombrio.
Já passaram 10 estados de emergência que nada resolveram, apenas justificaram o que não se fez e devia ter sido feito para aplainar os efeitos devastadores da pandemia.
Entretanto, o SNS continua em plano inclinado, a afundar, qual gigantesco Titanic, entre uma orquestra de elogios estridentes e faustosas promessas renovadas para esquecer na primeira oportunidade.
E as mortes?
As mortes Covid e não-Covid continuam a não despertar o povo, que continua à porta dos hospitais, em ambulâncias, horas e horas a fio, à espera de cuidados de saúde, num dantesco espectáculo renovado.
Incomodados com as críticas crescentes, mas sempre tímidas, o primeiro-ministro e o governo sacodem com cobardia política as responsabilidades, reagem aos factos com a sobranceria dos culpados, fortes e certos da impunidade, indiferentes ao resultado da sua própria incúria.
E a Justiça, sem meios e vontade, continua ausente quando se trata de investigar crimes perpetrados pelo poder mesmo à frente dos nossos olhos.
E o presidente continua a sorrir.
Está tudo perdido?
Calma!
Vem aí Adolfo Mesquita Nunes, o rapaz da GALP, uma das empresas mais interessadas no projecto aventureiro e multimilionário do hidrogénio, para salvar o que resta do CDS/PP e do país.