Ao gerar uma falsa expectativa na imprevisibilidade do resultado eleitoral em Angola, que nunca teve nem eleições livres nem limpas, atingimos mais um pico de desonestidade intelectual.
Dos órgãos de soberania a uma certa comunicação social, sem esquecer os políticos apeados, empresários do regime e comissionistas, tem valido tudo.
Do presidente, mais uma máxima, porventura um upgrade da neutralidade fascista: «Ouvir, respeitar, não se meter».
Do ministro dos Negócios Estrangeiros, mais uma declaração estapafúrdia – «Portugal deve muito a José Eduardo dos Santos».
De uma certa comunicação social, uma refinada manhosice de desvalorização das actas-sínteses dos resultados eleitorais.
Dos restantes, o silêncio encavacado ou a pouca-vergonha política habitual.
As questões de Estado não devem obedecer a cegueiras de oportunidade, à defesa de inconfessáveis interesses pessoais e dos amigos ou até a infantilidades burlescas.
Os resultados eleitorais em Angola confirmaram o autoritarismo, e a cleptocracia instalada no poder que continua a contar com a conivência de Portugal.
O massacre de 30 de Outubro de 1992 está bem presente, e pouco ou muito pouco mudou em Angola e em Portugal passados quase 30 anos.
Sujo de sangue e beneficiando do fluxo de dinheiro roubado, Portugal persiste atulhado de cúmplices da corrupção, da miséria e da fome em Angola.
O povo angolano, o MPLA, a UNITA e demais partidos políticos mereciam mais transparência e mãos limpas.