Em vésperas de eleições as frases inflamadas dignas de comícios, as quais revelam sempre algum desespero político, são típicas de apparatchiks.
Se não vejam bem: «Peço a todos e a todas que nos mobilizemos mesmo a sério, porque estas eleições europeias são tão decisivas como foram as autárquicas de há dois anos, são tão decisivas como as legislativas de Outubro».
Face a estas intervenções comicieiras muitos têm sido aqueles que revelam uma certa estranheza pelo facto de António Costa estar a meter a carne toda no assador relativamente às próximas eleições europeias.
Quem diria, o primeiro-ministro, com mais fama do que proveito de calculista exímio, a colocar assim a cabeça no cepo das urnas...
A verdade é outra: António Costa sabe bem que não pode voltar a perder nas urnas.
E precisa de legitimidade eleitoral como pão para a boca.
Como sempre, e durante toda a sua carreira política, Costa vergou os interesses do país aos seus interesses, ainda que, obviamente, pessoal e politicamente legítimos.
Ora, um dia vai dar-se mal.
Certamente voltará a inventar um novo coelho a sair da cartola, com a complacência da generalidade dos Media e da opinião publicada, mas desta vez, a próxima vez, não será a mesma coisa.
António Costa bem o sabe.
E não quer, nem pode, perder a oportunidade, sobretudo tendo Rui Rio à mão de semear em qualquer estação.
Resta saber se os cidadãos também concordam que a carreira do senhor Costa é mais importante que o país.
A não ser, quem sabe, que o Diabo não exista mesmo...