O governo de Portugal desperdiçou mais de dois meses para se preparar para enfrentar a COVID2019, ignorando desastradamente os sucessivos alertas na China e o disparar dos casos na Europa.
É preciso recordar uma data fundamental: a 31 de Janeiro de 2020, a OMS declarou Emergência de Saúde Pública Internacional e a notícia da infecção de dois turistas chineses em Milão, Itália, correu mundo.
Não foi suficiente para despertar a atenção das autoridades portuguesas.
Mais grave ainda: face ao pânico então já instalado, António Costa demorou a adoptar a medida mais exigente: o fecho das fronteiras.
Áustria, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Polónia, República Checa e Suíça, mesmo sem cenários internos de contágio exponencial, não esperaram pela brutalidade dos números nos países vizinhos para fechar as portas ao exterior.
E, para ter um termo de comparação mais concreto: António Costa demorou exactamente mais oito dias do que os austríacos para fechar as fronteiras com Itália.
Disfarçar o erro e a manipulação da realidade têm contado com a "distracção" da imprensa e dos partidos da oposição que enveredaram por uma cumplicidade com as autoridades que lhes vai custar um elevado preço em termos de credibilidade junto dos portugueses.
E não é preciso confirmá-lo com o tristíssimo episódio do uso de máscaras, pois todos já compreendemos que tal só ocorreu porque, simplesmente, não havia reserva estratégica e/ou stock em Portugal.
E nem é preciso lembrar Graça Freitas, a especialista do Estado ao serviço do governo, que afirmou que testar podia dar uma falsa sensação de segurança, depois anunciou que a prioridade é testar, testar, testar e agora acaba admitindo que há atrasos na realização de testes.
As alarmantes faltas de preparação e a incompetência, a roçarem a incúria criminosa, atingiram outros níveis ainda mais inimagináveis se levada em linha de conta a situação descontrolada do outro lado da nossa fronteira terrestre.
Com o mundo apavorado com a evolução dos contágios em Espanha, Portugal só encerrou de facto o seu espaço interno aos nuestros hermanos no dia 18 de Março de 2020.
E - pasme-se! -, a decisão foi tomada dez dias depois da polémica pública à volta da autorização das autoridades espanholas à manifestação do Dia da Mulher, a 8 de Março de 2020.
Nada conseguiu despertar António Costa para os riscos terríveis da inacção.
E quanto ao argumento estapafúrdio que a primeira morte de COVID2019 em Portugal só ocorreu no dia 16 de Março de 2020... Não vale um único comentário!
Por sua vez, se já começámos a compreender que Marcelo Rebelo de Sousa sem os afectos e as selfies fica reduzido à mais cruel redundância política, nunca é tarde para denunciar que a unidade não pode ser sinónimo de branqueamento.
E muito menos abafamento!
Com os últimos dados, que traduzem uma estranha "curva errática", acreditar piamente nas autoridades políticas e sanitárias, que decidem tarde e a más horas e ainda faltam à verdade, parece ser cada vez mais um exercício masoquista, quiçá suicida.
A realidade dos factos é indesmentível: Portugal é dos países da União Europeia com os maiores rácios de infectados, como comprova a taxa de mortalidade (óbitos/contaminados) que já ultrapassou os 2,5%.
O mundo pode estar a morrer, mas a razão tem de continuar viva.
É nos momentos de crise extrema que podemos avaliar a qualidade dos nossos governantes, pelo que não pode passar impune esta forma de fazer política e propaganda em vez de acautelar a saúde dos portugueses.
António Costa bem pode continuar a adiar a divulgação do modelo e dos dados da COVID2019 aos cientistas, mas o segredo não vai durar eternamente.
Com a pandemia ainda instalada no adro apenas há uma certeza: temos o direito de saber toda a verdade sobre como a preparámos e a estamos combater, através de um Livro Branco da COVID2019 ou de qualquer outra iniciativa da cidadania.
A primeira resposta a que todos temos direito é muito simples: Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se o poder político português tivesse sido verdadeiro, competente e diligente?