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segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

TEMPOS INSANOS


Morre-se em Portugal, com a dizimação dos mais idosos, enquanto os carrascos do SNS fazem de conta que a situação é de tranquilidade e normalidade.

Diariamente, as notícias sobre a saúde chocam, embaraçando-nos a todos, até mesmo aqueles que sustentam esta espécie de esquerda à beira de ser apeada do poder.

Como foi possível chegar a esta politicamente criminosa situação?

Houve quem o tenha denunciado na altura certa, desde logo os enfermeiros, enquanto o presidente, o governo, alguns políticos e “jornalistas de Estado” andavam juntos no branqueamento.

A gigantesca máquina de propaganda atrasou a percepção geral, mas a evidência da realidade dissipou a cortina de fumo, desde logo ficando à vista a corrupção e o esmagamento dos mais pobres, condenados ao assistencialismo.

A crise na comunicação social é apenas mais uma consequência desta promiscuidade, falta de prioridades e valores, acrescida do intolerável distanciamento e até abandono dos cidadãos.

Aliás, é arrepiante assistir à vulnerabilidade de cada um dos portugueses face ao Estado e à sua Administração novamente retocada de rosa.

Vivemos tempos insanos, em que nem as instituições e pilares do regime democrático escapam a uma deriva indizível.

A campanha eleitoral é uma nova oportunidade para renovar o debate, para avaliar a governação deste PS, pois aqueles que nos desgovernaram no passado mais distante também já foram castigados nas urnas de voto.

O inevitável reforço dos extremos, favorecido pela crise, já está a vergar os partidos do sistema, que têm alternado no exercício do poder, obrigando-os a repensar a arrogância, a prepotência e a insensibilidade social.

A bipolarização, que permitiu as duas últimas maioria absolutas, resultou no desastre que está à vista de todos.

Repetir a receita pode ser fatal, porque a revolta social continua a crescer a olhos vistos e a chuva de fundos europeus tem os dias contados.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

NÃO HÁ ABUSOS DE PODER PERFEITOS


Cada declaração de Marcelo Rebelo de Sousa a justificar o caso das gémeas do Hospital Santa Maria, adensando ainda mais as suspeitas, é mais uma confirmação.

Tal como em qualquer situação corriqueira de corrupção, ninguém espera que o abuso de poder para favorecer – ou para prejudicar – tenha uma assinatura digital ou reconhecimento notarial.

Não vale a pena multiplicar cortinas de fumo: o que está em causa é a excepcionalidade e a celeridade com que as duas crianças luso-brasileiras foram tratadas pelo SNS no limite do caos.

Sejamos ainda mais claros: a questão não é apenas o que o presidente fez, mas sobretudo o que não fez para evitar um iminente favorecimento escandaloso, tendo em conta que foi abordado pela sua própria família.

De igual modo, o problema também não é o das gémeas terem recebido o tratamento mais caro do mundo, mas sim o de outras crianças, nas mesmas condições, não terem conseguido os mesmos cuidados e acompanhamento.

A palavra do presidente não chega, por mais rei que possa parecer ou queira ser.

Vivemos numa República que se apresenta como um Estado de Direito.

A investigação administrativa e o inquérito criminal avaliarão a responsabilidade do presidente, entre outros, sendo de registar que, depois de ameaças, lá admitiu disponibilidade para se defender em tribunal.

Em termos de percepção pública, por muito menos António Costa demitiu-se imediatamente, e muito bem; por tanto ou mais, Marcelo Rebelo de Sousa, por ora, agarra-se à função, e muito mal, sem colocar prontamente em cima da mesa a renúncia ao cargo (CRP artigo 131º).

Se as “contas certas” são uma monumental armadilha, como reafirma Aníbal Cavaco Silva, é cada vez mais evidente que Marcelo dificilmente escapará às “contas acertadas”.

Não há abusos de poder perfeitos.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

SNS: A MATANÇA CONTINUA

 

Desde o 25 de Abril, os políticos com funções executivas condenados em Tribunal, que cumpriram penas de prisão efectiva, são uma raridade.

No caso dos autarcas, o destaque vai para Abílio Curto, João Nabais e Júlio Santos (PS); António Lobo, Isaltino Morais, Luís Gabriel Rodrigues (PSD); António Cerqueira (CDS/PP).

Entre centenas de outros autarcas investigados ou condenados a pena suspensa, o certo é que já existiram castigos que decorreram de crimes praticados no exercício de funções, o que não se tem verificado entre os governantes da República.

Nem mesmo Armando Vara, condenado a cinco anos de prisão efectiva no processo “Face Oculta”, em 2014, pois acabou por escapar ao processo judicial que resultou do caso do “saco azul” do PS, em 2000, quando era secretário de Estado da Administração Interna.

A conclusão é avassaladora: ministros e secretários de Estado têm gozado de total impunidade, quaisquer que sejam os indícios de eventuais crimes praticados no exercício de funções, como se a responsabilidade política fosse uma esponja que tudo lava mais branco.

A questão ganha particular importância no quadro do pré-colapso do SNS, cuja incessante degradação tem custado mortes evitáveis, como já abordou Eugénio Rosa, num estudo a propósito da pandemia.

Às mortes que indiciam uma extraordinária e flagrante falta de cuidados de saúde devidos e atempados, Lucília Gago, procuradora-geral da República, tem respondido com um esmagador silêncio, não obstante o alarme público e social.

Podemos continuar a viver sossegados?

António Costa, Manuel Pizarro e Fernando Araújo, entre outros responsáveis pelo actual caos no SNS, manifestam preocupação.

Marcelo Rebelo de Sousa distrai com o seu escrutínio tardio e inconsequente.

Sem o menor sinal de temerem um qualquer tipo de responsabilização criminal.

SNS: a matança continua.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

ESTE É O ESTADO QUE QUEREMOS?

 

À medida que se aproxima o pico do calor, regressa o debate sobre o falhanço do Estado nalgumas áreas mais importantes da vida em sociedade.

A questão não é só de dinheiro, mas sim de prioridades.

A falta de investimento na prevenção dos fogos acaba por premiar quem vive e deixa viver aqueles que se aproveitam sem escrúpulos das negociatas à custa das tragédias.

O desleixo com a Justiça é tal que já não há estatística capaz de mascarar o abandono dos cidadãos.

Muitos outros sectores, desde a Saúde à Segurança, sem esquecer a escola, os pensionistas, os sem-abrigo, etc, revelam um Estado impiedoso com os fracos e subserviente com os poderosos.

A percepção da corrupção desenfreada ao mais alto nível do Estado – basta ver os ex-governantes, desde 2015, com as polícias às costas –, indiciam um abandalhamento institucional só possível com Marcelo Rebelo de Sousa em Belém.

Aliás, não é certamente por acaso que Ana Gomes, ex-candidata presidencial, afirma: «O governo português tem andado a dizer em Bruxelas que tem uma estratégia nacional anti-fraude, e não tinha nada, não tem nenhuma».

Este é o Estado que queremos?

Ou ainda melhor: queremos um Estado que abre as portas à imigração, apenas por uma motivação económica e fiscal, para depois fazer de conta que não sabe da exploração selvagem?

O que está a acontecer em França é um exemplo flagrante deste Estado corrupto, cobarde e caduco que não hesita em tentar solucionar à bastonada os problemas criados pelas suas próprias políticas criminosas.

A questão a montante também é da maior importância.

Os defensores do Estado forte, para fazer face aos mais diversos interesses privados, os legítimos e os ilegítimos, são os primeiros a vergar a mola, como acontece com as taxas de juro e os benefícios fiscais em Portugal.

Em vez da discussão entre a esquerda e a direita, entre o estatismo e o liberalismo, porventura seria bem mais útil começar pelo princípio, por um consenso em relação ao respeito pelas mais elementares regras civilizacionais.

A propósito: num momento de grande aflição dos portugueses, é aceitável que António Costa exiba total indiferença em relação ao aumento desenfreado dos alimentos mais básicos?

segunda-feira, 26 de junho de 2023

VERÃO 2023: PREPARADOS?


A época de todos os perigos já começou.

Os portugueses vão enfrentar, novamente, como se fosse uma inevitável fatalidade, os três meses da época balnear com o coração nas mãos.

Dos fogos aos cuidados hospitalares, sem esquecer a segurança, as escolas e os tribunais, o actual caos só pode conhecer desenvolvimentos ainda mais dantescos.

Os riscos de mais milhares de hectares devastados, de mais mortes desnecessárias, nas serras e à porta das urgências, são tão elevados quanto o previsível aumento das temperaturas.

De igual modo, o braço-de-ferro entre as polícias e o governo de António Costa, num país com a imigração descontrolada, prometem o nunca visto, com a agravante da realização das Jornadas Mundiais da Juventude.

Como se não bastasse, o pandemónio nas escolas e os tradicionais atrasos da justiça, que agora estão a atingir foros de escândalo, prometem um Setembro avassalador.

Todo este cenário aterrador não parece preocupar a elite, apenas interessada em garantir a sua parte da “chicha” do PRR, quanto mais cedo melhor.

Por isso mesmo, pouco lhes importa os “casos e casinhos”, enquanto não lhes bater à porta, por mais que coloquem em risco o Estado de Direito.

Apesar de o cenário ser negro, tal também não parece incomodar os órgãos de soberania, tais são as suas declarações descontraídas, sempre sorridentes, com tempo para joguinhos teatrais, com que brindam os portugueses.

Em síntese: o poder continua confortável com agonia das famílias, com o crescimento dos sem-abrigo e da pobreza, com o definhar das PME’s, escondendo-se atrás de um qualquer marketeiro, com vocação de mercenário, sempre capaz de inventar uma qualquer “missão” para desviar as atenções.





segunda-feira, 24 de abril de 2023

VALE MAIS PARECER DO QUE GOVERNAR

 

Os sucessivos trambolhões da maioria socialista já não surpreendem.

As desequilibradas ameaças de dissolução também não.

Restam uma governação problemática e uma presidência à deriva.

Numa circunstância de incerteza, o país voltou ao ritmo da novela de ambições e disputas pessoais, minando a credibilidade do regime democrático e relegando as necessidades dos cidadãos para segundo plano.

Além do parecer fantasma da TAP, que canoniza as descaradas mentiras dos governantes, três outros exemplos comprovam o momento delirante e errático de António Costa.

A demora da regulamentação do sorteio dos juízes, agora prometida lá para o Verão.

A falha continuada na transposição da Directiva de Combate ao Branqueamento de Capitais, fortemente censurada pela Comissão Europeia.

Os atrasos na realização de juntas médicas que vergonhosamente suspendem o direito dos cidadãos aos respetivos apoios e prestações sociais a que têm legitimamente direito.

Dir-se-ia que estes são os expoentes da impunidade de quem governa pela força da maioria absoluta.

Nada mais errado, ainda falta esclarecer o resultado das investigações policiais que envolvem pelo menos três ministros e até o próprio primeiro-ministro.

Não é por acaso que o caos na Saúde, entre outros, já passou perfidamente para o segundo plano da agenda mediática.

Se a intervenção desastrosa de Marcelo Rebelo de Sousa tem adensado ainda mais a incerteza, o vale mais parecer do que governar continua a ser o mote dos “reles” do costume da República.

Uma única certeza: um pouco mais de um ano depois das eleições de 30 de Janeiro de 2022, que deram a maioria absoluta ao PS, na cabeça dos líderes partidários e dos cidadãos a campanha eleitoral já começou.

Agora, imaginem mais quatro anos de cheque em branco à governação ao ritmo da propaganda redobrada.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

PORTUGAL EM SUSPENSO


O agravamento da crise está a gerar novos sinais de ruptura social, enquanto a governação de António Costa revela dificuldades crescentes e sinais de desagregação.

A pobreza já não é possível de esconder.

O desemprego continua a subir mês após mês.

A saúde, a justiça, a educação, a imigração e a segurança entraram num vórtice de indiferença em relação ao caos instalado.

O país está preso por arames.

A cada intervenção de António Costa, os cidadãos temem pelas suas liberdades e direitos adquiridos, como comprova a chantagem do arrendamento compulsivo.

A cada declaração de Marcelo Rebelo de Sousa, mais branqueamento, folclore ou ambiguidade, os cidadãos esperam o fim do XXIII governo, a queda de mais um qualquer governante.

Se o dia-a-dia já é terrível, as expectativas ainda são piores com o desnorte dos órgãos de soberania, como comprova o falhanço das promessas, as incoerências em relação ao PRR e a TAP em voo livre.

Num tempo em que a recuperação económica é fundamental, o poder político apenas reserva para o cidadão comum um horizonte de mais medo, ameaças, mais capital e litoral e menos interior.

As PME’s desesperam.

Em contraponto, as grandes empresas – Bancos, telecomunicações, gasolineiras e hipermercados – vivem tempos dourados, lucros excepcionais, benefícios fiscais inexcedíveis e apoios milionários.

É todo um país maltratado, ignorado, asfixiado, novamente adiado.

É Portugal em suspenso.


segunda-feira, 25 de julho de 2022

E A SILLY SEASON?


Vivemos tempos de incerteza, cada vez mais atípicos, mas ainda podemos fazê-lo a gozar o sol e com uma bebida gelada.

À beira de entrar o mês de Agosto, as habituais noticias sempre tão criativas quanto serviçais têm sido substituídas por notícias avassaladoras.

Em vez do breaking news do destino de férias de um qualquer político, ou até de um qualquer socialite de vão de escada, estamos a ser bombardeados com notícias graves e sérias.

E a silly season?

Já nem temos direito às latest news acéfalas e gratuitas para, pelo menos para alguns, descansar o espírito e exibir uma falsa felicidade?

O SNS e o INEM merecem atenção e escrutínio que não podem ser abastardados pela leveza de uma discussão de Verão a beira-mar de mais um parolo confronto ideológico.

Não, a saúde não pode ser tratada como mais um qualquer fait divers de férias.

Estão a morrer pessoas por falta de assistência.

A incúria da governação está a resultar no caos, tentar disfarçá-lo é ainda mais criminoso.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

CELEBRAR PORTUGAL

 

António Costa, primeiro-ministro, vai gozando o silêncio.

Marta Temido, ministra da Saúde, por ora, remetida ao gabinete.

Marcelo Rebelo de Sousa quebra a mudez geral para afirmar que o encerramento das urgências hospitalares «é um problema específico».

Os portugueses sentem mais um branqueamento brutal.

Lucília Gago, procuradora-geral da República, fica na sombra, deixando crescer a percepção de que a incúria de alguns poderosos ainda está acima da Lei.

Curiosamente, nem os opinion makers atiram um pedido de demissão.

Nada!

O maior partido político da esquerda assobia para o lado.

É mais um apagão da cidadania, enquanto os elementos das claques de futebol se esfaqueiam e matam, muito por força de uma cultura alarve com direito a prime-time.

A impunidade dos representantes eleitos e dos gestores nomeados pelo poder político cava cada vez mais fundo esta espécie de Estado de Direito que também fecha ao fim-de-semana.

A choldra perdura!

O regime de Prevenção da Corrupção entrou em vigor mas a autoridade fiscalizadora não existe.

Resta o "contentamento" de saber que está em vigor, pois, está claro, com governantes assim “determinados” em combater uma das mais iníquas chagas da actualidade.

Tal e qual como a aprovação parlamentar da eutanásia, num país em que não há médicos e enfermeiros suficientes para salvar a vida dos doentes.

É o chafurdar sem limites!

Desfrutem!

Entretanto, continuamos a receber os turistas na maior bagunça.

A inconstitucionalidade da “lei dos metadados” começa a fazer estragos, depois dos órgãos de soberania fingirem politicamente, durante os últimos anos, que o problema não existia.

Só faltava mesmo a proeza dos portugueses obrigados a sair do país, por causa da fome ou da falta de uma vida digna, serem orgulhosamente exibidos precisamente por aqueles que os empurraram para fora.

Em síntese, recorrendo à actualidade e ao humor de Eça de Queirós:

«– Choldra em que você chafurda! - observou o Ega, rindo. O outro recuou com um grande gesto: – Distingamos! Chafurdo por necessidade!» (Os Maias).

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

SAÚDE, SEGURANÇA E RESERVAS


Podemos confiar nas autoridades?

Não!

A resposta não é uma mera questão de opinião, é mais um alerta consequente da factualidade que não se faz de casos isolados.

Na saúde, a estabilização das mortes Covid nos píncaros representa um retrato do momento.

Tudo embrulhado num estado de emergência que já pouco tem de excepcionalidade.

E na extraordinária aceitação do novo axioma: para salvar os doentes Covid, o SNS deixa morrer os outros doentes.

E o que decidem o presidente (e recandidato) e o primeiro-ministro?

Contrariamente ao padrão usado permitem "generosamente" a fruição do Natal.

E até Rui Rio compreende que os portugueses precisam de um escape.

Numa semana crucial para a evolução da pandemia, Marcelo, Costa e Rio estão de acordo, certamente imbuídos pelo espírito natalício, perdão, pelo calculismo da popularidade.

E quando julgávamos que o governo havia descido à terra da responsabilização dos cidadãos, eis que regressa o autoritarismo no Ano Novo.

É o "contrato de confiança" mais curto de sempre.

Como a gestão da pandemia é tão semelhante à forma como o país é administrado: um ziguezaguear estonteante, com a navegação à vista a substituir a estratégia, o rigor e a coerência.

Quanto à segurança, o balanço é igualmente penoso.

Os assassinos de Homeniuk serão julgados. 

Mas o rasto da cultura do casse-tête acima da lei continua fundo, depois de inúmeras denúncias, desde o aeroporto de Lisboa às prisões, com a Provedora de Justiça, os especialistas e as organizações internacionais ignorados.

E o que decidem o presidente (e recandidato) e o primeiro-ministro?

António Costa tenta encerrar o escândalo com a cobertura política ao seu amigo e ministro Eduardo Cabrita, avançando com uma reestruturação que já começou mal.

E Marcelo Rebelo de Sousa ainda deve estar à espera da investigação de um dos seus 155 colaboradores de Belém para concluir que o caso do SEF faz parte de uma realidade tão sistémica quanto dantesca.

Tanta demagogia e branqueamento até parecem ficção, mas já fazem parte do dia-a-dia.

As reservas em relação às vacinas e às polícias são uma parte do gigantesco preço a pagar pela irresponsabilidade política que confunde os cidadãos.

A outra parte, depois de tanto folclore e truque, é a desconfiança nas instituições que matou, continua a matar e ainda pode matar muito mais que a pandemia.

Uma última cereja em cima da derradeira mutação do pântano: a procuradora-geral da República impõe hierarquicamente ser avisada quando um qualquer "notável" é apanhado numa investigação da Justiça.

Algum dia temos de parar, e começar a pensar para onde estamos a caminhar.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

SNS: DA COVID AO ABANDONO


O SNS é uma das mais brilhantes heranças da revolução de Abril, mas também é há demasiado tempo muito mais uma questão ideológica do que um serviço público condigno para cuidar dos portugueses.

O preço desta monstruosa "evolução" tem sido pago em mortes, na diminuição da qualidade de vida e ainda na redução da produtividade.

A criação de um verdadeiro SNS deveria ser a prioridade das prioridades do programa de recuperação apresentado a Bruxelas, mas vai ser engolida por outras prioridades definidas por António Costa e sabe-se lá por quem mais na sombra do poder.

Apesar dos elogios hipócritas do presidente da República, do primeiro-ministro e demais autoridades, as notícias não enganam:


Os números conhecidos dos cuidados de saúde primários, consultas hospitalares, cirurgias, rastreios e tratamentos revelam uma degradação galopante.

E a realidade dos lares de idosos continua a ser ultrajante.

Portugal para fazer face à Covid está a abandonar e a deixar morrer os outros doentes.

Aliás, o aumento de número de mortes nos últimos seis meses, sem ser por causa da Covid, já ultrapassa os seis mil nos últimos seis meses, deixando a porta aberta para a frase mais ouvida na rua: a falta de assistência mata mais que a Covid.

A pandemia só veio acelerar a percepção da realidade do SNS, porque os governantes durante décadas mentiram descaradamente ao povo.

Nestas circunstâncias dantescas, o fanatismo ideológico atinge limites ainda mais inimagináveis: a capacidade instalada de saúde privada não está a ser totalmente potenciada como deveria ser por incapacidade do Estado.

Propalar as virtudes do SNS, fazendo de conta que não se conhece o que se passa no serviço público de saúde, antes e depois da pandemia, é um crime de lesa-pátria.


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

ESTRANHA ACALMIA ESTIVAL


Paira no ar a sensação de que a Covid já era ainda que continue a ser.

Apesar dos números aterradores que estão a chegar – infectados, mortes, desemprego, défice, dívida pública – o nosso tempo de Verão quente e tranquilo tem evitado o pensamento do frio Inverno cheio de ameaças que está a chegar.

A chuva de milhões da Europa eliminou os temores de perder a nossa vidinha cheia de chuto na bola, de passeios no shopping e de total alheamento e indiferença ao que se passa à nossa volta.

Como se o modesto essencial do dia-a-dia, infelizmente longe da mais elementar dignidade, fosse suficiente para viver, apenas sobrevivendo.

Entre tantas e tantas imagens brutais, a explosão em Beirute interrompeu por momentos a nossa sonolência colectiva.

A terrível luta de um país, cuja população tem sido massacrada pelos senhores da guerra e pela corrupção selvagem, é um alerta, mas apenas mais um.

A revolta tardia pode não ser suficiente para inverter o curso da História, porque se perdeu o músculo do escrutínio, da reivindicação e do exercício da cidadania ao longo de uma guerra civil de 15 anos (1975-1990), entre outras guerras.

Não é fácil enfrentar os abutres que levaram o Líbano para o ciclo infernal de viver e morrer às mãos do dinheiro fácil da guerra.

Tão-pouco é fácil afastar os outros abutres, hoje em versão de pombas da paz, que prometem ajuda para manter tudo na mesma.

Ainda assim, o pânico e a revolta, que a pandemia e o caos de Beirute fizeram despertar, estão a ser substituídos por uma estranha acalmia estival. 

Talvez fosse prudente reflectir também na nossa "guerra", quando estamos a perder a preciosa auto-estima às mãos de um regime político corrupto e anestesiante que já nem se dá ao trabalho de disfarçar as suas próprias contradições e iniquidades.

A vida não pode voltar ao normal da anormalidade a que já nos habituámos.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

PANDEMIA: "BOMBAS" AO RETARDADOR



Continuamos a sorrir ainda que sabendo que em todo o mundo morreram 52 milhões de pessoas de fome ou de doenças causadas pela fome em 2019.

Hoje, ninguém se atreverá a adiantar como acabaremos em 2020 e nos anos seguintes.

Certeza só há uma: para mantermos o way of life, os governantes não podem continuar cinicamente a fazer de conta que não conhecem as condições de vida dos mais pobres e dos trabalhadores imigrantes.

É que a propagação, já de si exponencial, é ainda mais agravada entre todos aqueles que vivem em condições infra-humanas, económicas e sociais.

Já não basta viver num país rico ou num condomínio fechado, tentando esconder uma realidade que, afinal, todos conhecem e ignoram.

A existência de barracas, de exploração desumana e de exclusão associados a um sistema de saúde obsoleto e a transportes públicos medíocres deixaram de ser admissíveis porque não fazem parte de uma equação de futuro com esta ou uma qualquer outra pandemia.

Os governantes, sempre ao serviço de clientelas e dos mais poderosos, obviamente com um sorriso estampado e o discurso pio com os mais desvalidos, têm de passar a olhar para as desigualdades com olhos de ver.

Afinal, regalar os olhos com as luzes de Hollywood, estender a toalha na praia de Copacabana ou fazer de conta que Portugal é o litoral do turismo já não é mais possível e seguro, pois os surtos explodem em todas as latitudes onde impera a miséria.

Os 70 milhões de americanos a viver em condições de pobreza, os 11,4 milhões de brasileiros distribuídos por 6.329 favelas e ainda o facto de os imigrantes serem as principais vítimas (23,4% dos imigrantes infectados na região de Lisboa) exigem respostas prontas e eficazes.

A acefalia e o egoísmo generalizados, nutridos por uma globalização selvagem assente num consumismo desenfreado, têm os dias contados, pois ninguém admite viver durante muito tempo com máscara e medo.

E se a resposta tem de partir de cada país, também é verdade que a actual globalização não pode conviver com esta franja de potenciais "bombas" ao retardador.

Num contexto de pandemia, a "maioria", a tal que da Esquerda à Direita vive confortavelmente, não pode continuar a manter o seu status de vida com a actual realidade da "minoria" de pobres e imigrantes.

Num país que há séculos insiste em construir a casa pelo telhado, a chuva de milhões e milhões que vem da Europa é uma oportunidade única para reconstruir Portugal sobre pilares sólidos, a partir das infraestruturas básicas, da saúde, da educação e do combate à exclusão.

Os cenários macroeconómicos e os mega projectos já não são suficientes para manter um mundo de ilusões.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

SNS: O BARATO SAI CARO


Enquanto não é concluído o mais que necessário Livro Branco sobre a COVID-19, chegou a hora de começar a fazer contas.

A sério!

Sem demagogias.

E sem olhar ao ruído da máquina da propaganda principescamente oleada com os euros sacados dos nossos bolsos.

Actualmente, sabemos que a crise da pandemia terá custado mais de 15 mil milhões de euros.

Também sabemos que mais de cinco mil mortos ocorreram em Portugal por causa do vírus, bem como devido à suspensão e cancelamento de consultas e cirurgias.

E mais: fomos amavelmente informados que os hospitais da Grande Lisboa voltaram a suspender consultas e cirurgias para acorrerem ao aumento de casos em curso que, extraordinariamente, não preocupam o governo desnorteado e a DGS cada vez mais descredibilizada.

A questão é simples: não teria ficado mais barato ter um Serviço Nacional de Saúde (SNS) capaz, bem apetrechado, com médicos, enfermeiros e assistentes em número suficiente?

Esta é a pergunta que governantes e governados deveriam estar a fazer, reflectindo para melhor poder responder no futuro a qualquer eventualidade.

Aliás, esta matéria até poderia e deveria já ter sido estudada pelos organismos da Saúde, incluindo a politicamente amestrada Escola Nacional de Saúde Pública, entre outros.

Mas, para já, apenas o vazio do silêncio.

Mais do mesmo!

Do governo e dos partidos da oposição parlamentar.

Com um SNS de excelência, o primeiro embate da pandemia poderia ter sido absorvido, dando tempo a uma preparação extraordinária para qualquer agravamento e a um confinamento ponderado e com critérios objectivos.

As contas públicas agradeceriam esta tão simples racionalidade e boa governação.

Porventura não estaríamos na actual situação de aflição, com consequências devastadoras que começarão a ser sentidas a partir de Setembro, nem totalmente dependentes das ajudas europeias.

Neste debate essencial, o que tem feito a imprensa?

Salvo raras excepções, pouco mais do que debitar teses e números oficiais e apanhar a boleia da especulação, do medo e da ignorância, julgando poder tirar dividendos, mais uma vez, sem sucesso, do jornalismo medíocre a que insistem em chamar light.

Ninguém aprende com os erros?

Não!

Tudo é possível, enquanto existir o chapéu caridoso da União Europeia, a dívida poder aumentar desenfreadamente, a máquina fiscal continuar a extorquir o lucro de pessoas e empresas e continuarem as mortes que poderiam ser evitadas.

Até haver uma verdadeira cidadania.







segunda-feira, 30 de março de 2020

PORQUE NÃO SOMOS CARNE PARA CANHÃO


No momento de antecipar demorámos a encomendar equipamentos de protecção, a garantir testes, a fechar as fronteiras, a encerrar as escolas e a impor o confinamento. 

E porquê? 

Porque PM e PR andaram a fazer a política dos pequeninos em vez de preparar o país para salvar vidas.

O resultado está aí: a realidade vai emergir ainda mais brutal e terrível, com mais ou menos manipulação do número de testes realizados à COVID2019.

E, hoje, também já é certo para todos que não valeu a pena deixar o SNS à sua sorte.

Nem fazer de conta que o dinheiro desviado pela corrupção não nos faz falta nos momentos decisivos.

E, de igual modo, ainda é mais patente que a receita do recurso ao dinheiro sujo pouco valeu para termos serviços preparados para acorrer às necessidades dos cidadãos.

Apelar para nos protegermos quando não temos com que nos proteger é simplesmente grotesco.

Branquear o passado e o presente à custa de atitudes repugnantes de terceiros é ainda tão ou mais repugnante, porque só serve para acobertar decisões políticas que roçam o criminoso e alimentar a impunidade.

E, convenhamos, não faz sentido falar em unidade quando o PM mente grosseiramente ao país e é, aliás, barrado pelos Bastonários dos médicos, farmacêuticos e enfermeiros, exemplares a cumprir o seu dever ético.

Sim, vale a pena ir para o terreno e mostrar o país que trabalha, mas de nada adianta esconder o outro lado, o da vida esquecida, condenada por políticas públicas erradas ou por empresários desqualificados.

Não, não nos podemos resignar às "atitudes de Estado", nem ao empreendedorismo selvagem, nem permitir o "lava mais branco" do passado para proteger as clientelas do costume, porque não somos carne para canhão.

Os últimos acontecimentos envolvendo os mais idosos, bem como os mais de 14% de profissionais de saúde infectados, já são uma vergonha nacional, e fazem prever o pior no momento crítico que está aí à porta.

À medida da progressão da pandemia, os números podem servir para tudo, mas os cenários dantescos de sucessivas falhas, passadas e presentes, ganham contornos insuportáveis.

Mesmo sabendo que há quem esteja a fazer o seu melhor, com abnegação e generosidade, em prol da saúde pública, é sempre a hora para questionar quem propala que "ninguém fica para trás", bem como aqueles que ainda têm a audácia de afiançar que "ninguém está a mentir".

Habituados ao que a casa gasta, é preciso lembrar enfaticamente: por um lado, não ficará impune quem adiou medidas que acabaram em mortes; por outro, não ficará pedra sobre pedra sobre quem já começa a desistir e apressa os critérios para escolher quem vive e morre.

É o momento de recordar: o vírus pode estar a liquidar homens e mulheres, mas ainda não matou a Justiça e a Democracia.

E não bastam as sondagens de última hora, nem os elogios ditirâmbicos encomendados aos serviçais do costume, nem a fabricação de um qualquer inimigo externo de última hora.

O recurso às tácticas serôdias para tentar alijar responsabilidades próprias só agrava mais o fosso entre os cidadãos e os governantes.

De Costa a Marcelo, de Macron a Merkl, de Sanchez a Conte, há uma geração de políticos da União Europeia que não esteve à altura da exigência dos tempos e da governação, pelo que dificilmente serão capazes de liderar a reconstrução da economia e a reinvenção da própria Democracia.

A COVID2019 representa um momento extraordinariamente negro, mas também poderá ser uma oportunidade luminosa para extirpar uma certa forma de fazer política e de governar.

Resta saber se a mudança vai servir para mais e melhor civilização.



segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

POLÍTICOS (DEMASIADO) VELHOS


Confundir o mensageiro com a mensagem é um exercício moderno, execrável e perigoso.

Mais ainda mais alarmante é o fanatismo daqueles que confundem a realidade com o seu dogmatismo ideológico.

À direita, a irritação com Greta Thunberg leva o CDS/PP a aparecer aos olhos da opinião pública como um adversário das questões ambientais e climáticas.

É certo que a adolescente sueca não é mais nem menos do que um produto de marketing à escala global, um instrumento usado e abusado com um objectivo concreto, mas isso não quer dizer que a sua mensagem seja errada ou irrelevante.

Ao manter esta hostilidade politicamente delirante, a direita corre o risco de se afastar ainda mais dos novos eleitores, de uma juventude até agora perdida para causas estruturantes e mobilizadoras.

Outro exemplo deste fanatismo politico vem do PCP.

Jerónimo de Sousa vê em cada denúncia do caos na Saúde, em cada revelação de casos a roçar o criminoso, um ataque ao SNS.

Como se a existência do SNS, só por si mesmo, fosse o primeiro e último objectivo dos comunistas, independentemente da qualidade dos serviços que presta aos cidadãos.

A mediocridade política destas duas posições, à direita e à esquerda, revelam protagonistas ultrapassados, políticos (demasiadamente) velhos, sem nada para oferecer ou melhorar.

Certamente, não é por acaso que uns e outros se afundam nas urnas.

domingo, 1 de dezembro de 2019

LONGA VIDA DE MARCELO E COSTA


A comunicação social, finalmente, despertou em força para o caos na Saúde.

As notícias extraordinárias sobre o funcionamento do SNS passaram a ser uma constante da agenda mediática.

Até poderia ser útil saber qual a razão para tão tardio despertar, mas ainda mais interessante é olhar de frente para o futuro num horizonte de pelo menos cinco anos.

Se nada fizermos com que poderemos contar? 

Certamente, com mais um abismo. 

Em que Marcelo repete a rábula anual de encher o carrinho de compras para o "Banco Alimentar", enquanto Costa avança com um qualquer novo truque para fazer esquecer as anteriores promessas falhadas.

Um e outro, com a mesma bonomia, e desfaçatez política, diga-se em abono da verdade, lá seguirão o seu caminho de poder e para o poder, quais prestidigitadores, dispostos a manter a ilusão de que vai haver uma vida melhor.

O escrutínio e a exigência não podem passar de moda, pois o vazio da governação não pode ser escamoteado pela realização de feitos extraordinários que (n)os enchem de orgulho.

Os Bastonários dos Enfermeiros e dos Médicos, que contra a corrente têm mantido o foco na defesa dos cidadãos, são um exemplo a seguir. 

Para que outras Ordens, associações, sindicatos e profissionais tenham a mesma consciência e dignidade profissionais, apontando o tanto que ainda há de criminoso em áreas determinantes para cumprir a Democracia, como a Educação, a Justiça e a Segurança, entre outras.

A esta cidadania, ainda que insuficiente, têm faltado os partidos da oposição. 

PC e BE ziguezagueiam, Cristas foi traída pela incoerência e Rio continua sem entender a diferença entre o bota-abaixo e a denúncia firme do status quo miserável que condena o país à miséria.

Entretanto o bailete dos afectos e das luzes coloridas tudo abafa e distorce, no sentido de tudo continuar mais ou menos na mesma, com o sistema concentrado em diabolizar os pequenos partidos que almejaram alcançar um lugar no Parlamento.

É que, com mais ou menos excesso programático, ainda são vozes que escapam, por ora, ao mainstream.

A longa vida de Marcelo e Costa no poder é mais do mesmo.

É, como se pode constatar, tolerar que os cidadãos continuem a ser tratados como lixo.



segunda-feira, 25 de novembro de 2019

SAÚDE SEM PRESIDENTE


A Saúde não tem sido uma prioridade de António Costa.

E, mais grave, é um dos temas mais ignorados pelo presidente da República nas suas intervenções públicas.

A constatação é factual, obriga a reflectir!

E a colocar três questões: Será uma política de Estado? Por insensibilidade social? Ou por interesses difusos ou pessoais?

Sejam quais forem os motivos, que justificam as interrogações, é cada vez mais evidente o resultado: Marcelo Rebelo de Sousa tem contribuído e permitido o branqueamento sobre o que se está a passar na Saúde, designadamente no SNS.

O padrão da comunicação de Belém tem sido apenas marcado por uma forte presença no espectáculo das emoções e dos fait divers, como se o importante fora apenas o reforço da popularidade do presidente com vista ao segundo mandato.

Aliás, a avaliar pelas suas intervenções, Marcelo Rebelo de Sousa parece estar mais preocupado com a crise financeira na Comunicação Social do que com o desastre no SNS.

Como se a Democracia se cumprisse com a protecção de alguns e a desprotecção de todos os outros.

É chocante!

Esta inversão de valores é um perigo.

E não basta apelar para os cidadãos não terem medo de defender os seus direitos, quando é o próprio presidente que lhes falta escandalosamente ao encontro.

Aliás, é tão intolerável a violência doméstica como a falta de cuidados num qualquer estabelecimento de Saúde, público ou privado.

É certo que a palavra do presidente vale cada vez menos, mesmo nas campanhas que abraça, e muito bem.

O recente exemplo do incumprimento do programa da erradicação dos sem-abrigo, abafado antes das eleições de Outubro passado, teve de ser agora renovado, à pressa, à medida da saison.

Como se a Democracia se cumprisse com pactos e anúncios, sem escrutínio e responsabilização públicos.

Por isso já ninguém estranha - e deveria estranhar! - que o Ministério Público, sempre afoito a abrir inquéritos ao ritmo das notícias publicadas, tarde em agir pronta e publicamente relativamente aos mais diversos casos chocantes de incúria no SNS.

Resta o escrutínio dos profissionais, das Ordens e dos sindicatos do sector da Saúde, bem como da comunicação social, ou o que dela resta, livre da mão "caridosa" do Estado, fundamentais para pôr cobro a esta criminosa farsa à vista de todos.

Com o agudizar do caos no SNS, o coro pungente e miserável daqueles que, com a desfaçatez do costume, dizem não saber nada, já não é mais possível.

Em vez de declarações tímidas e avulsas - ao ritmo dos casos mediáticos -, o presidente da República tem de  intervir, publicamente, com máxima firmeza, exigindo ao governo, a este ou a qualquer outro, mais do que palavras de circunstância, o estrito cumprimento da Constituição.

Mas o texto fundamental também vale o que vale...

Por maior que seja a propaganda, ter Saúde em Portugal é cada vez mais um desafio perigoso para quem não tem dinheiro.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

SNS: CHEGOU O TEMPO DE ACORDAR


O SNS continua a morrer.

E com ele muitos e muitos portugueses mais pobres e desvalidos.

A catástrofe que está a ocorrer, diariamente, só tem sido possível com o beneplácito do XXII governo constitucional e de uma ministra que já morreu politicamente e ainda não deu conta.

Aliás, e deveras importante, algum dia ter-se-á de perceber o verdadeiro motivo do silêncio pesado do presidente da República sobre as sucessivas e escandalosas notícias diárias sobre o SNS.

O encerramento do Hospital Garcia de Orta (Urgência pediátrica), das 20h00 às 08H00, todos os dias, é apenas mais uma machadada nas necessidades dos cidadãos.

Os medicamentos faltam aos doentes, regular e impunemente, deixando aqueles que mais precisam à mercê de adiamentos ou alternativas que prejudicam a sua saúde.

Os médicos abriram os olhos e já começaram a declinar qualquer responsabilidade civil, tais são as condições de trabalho e falhas no sistema.

Faltava ainda, no âmbito da incompetência a roçar a incúria, a novidade de querer amarrar os jovens médicos ao SNS, numa decisão administrativa ao jeito da esquerda que apenas pode resultar num recrudescimento da conflitualidade, cujos prejuízos ainda podem agravar mais quem recorre ao SNS.

Não, não há tolerância para um caos permanente que parece ter emergido do nada após os últimos resultados eleitorais.

E não pode haver mais condescendência para quem julga ser possível disfarçar o que se passa com notícias positivas sobre o SNS, porque também as há, pois a gravidade do que está a ocorrer é por demais gritante e revoltante.

Se nos últimos quatro anos pouco se fez para resolver a situação, com a esquerda e a extrema esquerda a fazerem de conta que nada sabiam, uma coisa é certa: aqueles que têm de recorrer ao SNS certamente não esquecerão quem está a condenar o que resta de mais um serviço público.

E por mais e mais propaganda que possa ser lançada para tapar os olhos dos portugueses, a realidade dos números continua a ser dantesca: 47% dos portugueses não têm acesso aos serviços de saúde por falta de condições financeiras (OCDE) e 25% do orçamento da Saúde é gasto em desperdícios de toda a espécie (Lancet).

Os que não têm qualquer possibilidade de recorrer a um seguro de saúde privado ou não tenham a cunha suficiente para serem bem cuidados e respeitados no SNS, certamente não esquecerão a realidade de um Estado a roçar o criminoso.

Chegou o tempo, mais uma vez, de acordarmos, porventura de a Justiça também conseguir acordar.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Saúde e os sem perdão


Longe vão os tempos em que alguns políticos assumiram, publicamente, que a Saúde tinha de ser a prioridade, de José Manuel Durão Barroso a António José Seguro.

Custa assistir ao sofrimento e à morte de doentes que confiaram num Serviço Nacional de Saúde (SNS) que se transformou numa farsa do regime.

Ao mesmo tempo que o presidente da República, o primeiro-ministro, o ministro das Finanças e demais partidos políticos exibem o certificado europeu de “bom aluno”, multiplicam-se as notícias sobre o aumento das listas de espera, a falta de médicos, enfermeiros e medicamentos, bem como o caos instalado nos hospitais e urgências.

Nem a extrema esquerda parece estar muito incomodada com a enormidade a que assistimos, hoje, com passividade criminosa.

Se os recursos não são ilimitados, então é necessário redefinir a alocação dos meios financeiros.

Tal como aconteceu no combate à corrupção, ao longo de anos a fio, foi o debate, a imprensa e a pressão da opinião pública que obrigaram governantes, polícias e magistrados a fazerem mais e melhor.

Tarda, por isso, que a Justiça acorde em relação aos crimes perpetrados, diariamente, na Saúde, sem receio de responsabilizar o Estado e os seus agentes, impondo indemnizações pesadas e metendo na cadeia quem não cumpre o seu dever.

Devem investigadores e magistrados do Ministério Público ficarem surdos e mudos perante os aflitivos atropelos na prestação dos cuidados de Saúde?

Os juízes podem continuar a permitir que os médicos justifiquem casos de negligência gritantes com a falta de meios humanos e de diagnóstico, os quais, infelizmente, quando chegam a tribunal, os que chegam, são passados a penas leves e a coimas insignificantes?

Tarda uma explicação cabal para não fazer o que é muito urgente ser feito, pois a questão não é de esquerda nem de direita, é apenas de humanidade e civilização, enfim, de regime.

Os meios do Estado estão identificados, tal e qual como as despesas, por isso é preciso cortar nalgum lado ou ir buscar dinheiro a quem o tem para garantir que o SNS funciona para todos, não apenas para quem tem uma cunha para ser melhor tratado ou ser operado sem ter de estar meses ou anos à espera.

Seja no sector público ou através dos privados, os portugueses, sobretudo os mais desvalidos e idosos, têm o direito de serem respeitados e tratados como seres humanos.

É tempo de acabar com os patéticos exemplos de Paulo Macedo e Adalberto Campos Fernandes, sobretudo pelo seu atrevimento em conviver, pacificamente, para não dizer irresponsavelmente, com a incúria que grassa no sector.

À beira de fazer 39 anos, o SNS só poderá melhorar se os próprios agentes da Saúde assim o exigirem. E a denúncia é uma forma de trazer para a luz do dia o que alguns, e são muitos, infelizmente, querem continuar a varrer para debaixo do tapete.

O exemplo dado pelos enfermeiros, e até por médicos que se demitem para não pactuar com a ignomínia, são actos de civismo e de grande coragem que devem ser escutados com atenção e respeito.