Enquanto passa devagar o tempo da pandemia, entre o falhanço dos sistemas de saúde e o horizonte radioso de uma vacina milagrosa, disparam o número de infectados e de mortos e aumentam as vítimas de economias e sociedades arrasadas.
Entretanto, os tempos de fanatismo, de ódio e censura saltaram das ruas para as elites que continuam a chafurdar num paradigma – na governação e na oposição – assente no marketing político falido.
Esta "plasticidade" remete para o falhado modelo do "novo trabalhismo" de Tony Blair que ruiu em todo o esplendor com a gigantesca farsa do Iraque.
E, mesmo assim, continua a servir, 13 anos passados, de cartilha inspiradora para todo o tipo de abusos do poder por esse Mundo fora.
A gestão de carreiras políticas, a navegação à vista e a estratégia de comunicação assente em focus groups fazem parte de um padrão comum, de uma espécie de "internacional" triunfante que federa esquerdas e direitas.
Não admira que por cá se invoque o que se passa em toda a Europa para justificar os desastres internos.
E os protestos grassam por todo o lado, e só ainda agora começaram.
As minorias extremistas recrudescem e as maiorias do pensamento único renascem, qual delas a mais perigosa.
Ah, o fantasma do fascismo regressou para podermos constatar novamente como o papel dos "comissários" do regime é fundamental para desviar as atenções.
Já chega!
A pandemia até podia servir para repensar as estradas que não têm levado a lado nenhum, mas o caminho difícil não está ao alcance de politiqueiros nem de sociedades vazias de mais e mais consumismo.
Empanturrada com a agenda das autoestradas da informação, nem a comunicação social escapa, pagando o preço da falta de distanciamento do poder com as ameaças na rua.
E continua a destruição do planeta até à próxima pandemia.
A globalização já revelou o melhor e o pior, mas ainda estão por conhecer as consequências do paradoxo em que vivemos: no tempo em que a informação, a tecnologia e a riqueza pretendem chegar a todo o lado, o cidadão é cada vez menos livre.
E, seja qual for a crise, o medo, a intimidação e a ameaça continuam a ser a solução do poder gasto para manter tudo a girar.
Entretanto, como fica bem na fotografia, os líderes até assumem culpas próprias, mas os sacrificados continuam a ser os mesmos.