segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

SETE CANDIDATOS E A SOMBRA


A eleição do próximo presidente da República deixou de estar confinada aos debates televisivos.

E, no arranque da campanha eleitoral, os portugueses não têm estado a ganhar, pois a táctica tem imperado sobre a substância.

Os candidatos têm virado a cara às dificuldades do dia-a-dia, optando por polémicas importantes mas que não dizem muito a quem não tem trabalho, viu reduzido o rendimento e desespera com a falta de cuidados de saúde.

E têm mantido uma estranha prudência em avaliar a gestão errática da pandemia que vai atirar os portugueses para um novo e brutal confinamento geral, o qual acaba por condicionar ainda mais o próximo acto eleitoral.

Os candidatos da Esquerda estão mais concentrados em eleger André Ventura como "alvo", dando-lhe espaço para consolidar um argumentário que toca fundo nos mais desfavorecidos.

E se é verdade que, ao inflacionar o líder do Chega, é Marcelo quem mais pode perder na mercearia eleitoral – como se já não lhe bastasse a ameaça de Tiago Mayan Gonçalves –, não é menos verdade que tem faltado a exigência e a vontade de distanciamento da governação.

O resultado está à vista: ganha o discurso da "bolha" que afasta os eleitores.

Ana Gomes tem revelado garra, continua a apostar na frente ideológica e hesita na descolagem do governo para não hipotecar os votos dos socialistas.

André Ventura é a "estrela" improvável.

João Ferreira é menos do mesmo dos comunistas.

Marcelo Rebelo de Sousa está gasto e desorientado, como comprovam as fúrias quando foi confrontado com as suas manipulações e contradições dos últimos cinco anos.

Maria Matias é a desilusão.

Tiago Mayan Gonçalves é a grande surpresa, sem medo da ruptura e das palavras, sem se deixar condicionar pelas críticas em forma de "papão".

Vitorino Silva tem sido a ilusão, com uma mensagem popular, inteligente e até poética, obrigando o país a pensar.

A pré-campanha realizada nas televisões não foi o passeio aclamatório.

E a incerteza até já levou a ponderar uma bizarra solução de última hora como o adiamento das presidenciais a duas semanas do acto eleitoral.

A pandemia e a crise económica não têm sido suficientes para os candidatos irem a jogo sem cartas na manga, chegando mesmo a desvalorizar a polémica sobre os votos dos emigrantes e dos mais idosos nos lares.

Têm faltado transparência e rigor em relação ao que cada um se propõe fazer em Belém para melhorar a vida de dos portugueses.

E tantos indecisos que continuam por convencer.

É com mais intervenção e escrutínio do governo que o presidente da República pode garantir a resolução dos problemas do país? 

A resposta tarda. 

Porque os sete candidatos tinham de desfazer amarras e correr riscos.

Assim, fica apenas o esvaziamento da função presidencial, com o debate limitado quase e só a tiradas grandiloquentes.

Para já, com os candidatos a partirem para a luta sem rua, há apenas uma certeza: a palavra e a acção presidenciais ficam fragilizadas com uma taxa de 60 a 70% de abstenção, ganhe quem ganhar.

Entretanto, na sombra, o oitavo "candidato" – não o fantasma dos boletins mas o de carne e osso –, assiste à corrida presidencial do lado de fora, por enquanto em silêncio, provavelmente com um sorriso tapado pela máscara.

A "vitória" de António Costa no dia 24 de Janeiro seria um desastre para Portugal. 




segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

PRESIDENCIAIS 2021: TSUNAMI À VISTA

 

As sondagens, à falta de melhor, têm marcado a campanha das presidenciais 2021.

Mas tem faltado o termómetro da rua, dos contactos populares, para começar a descortinar as escolhas dos portugueses.

Num país enterrado na pandemia, para não falar de outras pandemias que começam a despontar, as televisões encontraram o Nirvana: aparentemente, tudo se vai decidir no cada vez maior ecrã.

Felizmente, as novas forças e interlocutores políticos têm permitido agitar os "senadores" do regime, levantando o pó que está debaixo do tapete.

Mas será que chega?

O caminho do candidato do Bloco Central está facilitado pela ausência de uma parte da esquerda e pela divisão da outra parte.

Mas a cada debate começam a surgir as brechas no propalado "oásis" marcelista.

A apoteose anunciada está longe de confirmação por manifesta evidência que o mandato de Marcelo foi um exercício medíocre, em que importou mais a criação das condições para a reeleição do que os interesses dos portugueses.

E, em boa verdade, Marcelo teve tudo para ser uma referência e um motor de mudança.

O verniz dos últimos tempos, para disfarçar os cinco anos de cumplicidade com o governo, já começou a estalar.

E, quando assim é, quando o branqueamento fica à mostra, apesar do evidente desmoronar do governo, a abstenção é sempre uma resposta possível.

A criação de um ambiente dominante que aponta para a inevitabilidade da reeleição de Marcelo, quiçá com 101% dos votos, também é uma faca de dois gumes, sobretudo no actual panorama económico e financeiro.

A agitação de o presidente (e recandidato) transparece em cada debate, num sorrisinho incomodado que escapa quando é revelado como um vulgar garante do país dos "Donos Disto Tudo".

Se com Marcelo tudo pode acontecer até ao último dia também é verdade que começa a faltar-lhe chão para mais folclore e piruetas.

Num país que confunde popularidade e notoriedade, ideias e marketing, realidade e propaganda, a derrapagem da Covid pode ser o tsunami político na teia tão ardilosamente tecida para manter o cadeirão de Belém.

E, a acontecer, tudo pode ficar imprevisível.

Tal como em relação a outros assuntos da maior importância, presidente e primeiro-ministro são uma e a mesma coisa por meras razões tácticas de poder e sobrevivência política de um e do outro.

A gestão da crise Covid, desde o abandono dos mais idosos até ao ziguezaguear de medidas, em que Marcelo e Costa estão afundados, pode ser a chave da eleição do dia 24 de Janeiro.

Por mais estado de emergência que possa ser decretado.