A situação no Afeganistão merece reflexão, nomeadamente à luz das últimas "pérolas" de Augusto Santos Silva e João Gomes Cravinho.
O ministro dos Negócios Estrangeiros teve a ousadia de falar de «honra da comunidade internacional», quando garantiu que os colaborantes com a força invasora estariam a salvo dos talibãs.
Este tipo de afirmações retiram qualquer credibilidade à diplomacia portuguesa, quando não hesita na propaganda ridícula para agradar aos norte-americanos e tentar salvar a pele.
Mas se o padrão é assim internamente, por que razão seria diferente em relação ao exterior?
Bastaria consultar um indicador para o governante corar de vergonha: o crescimento da papoila (base da heroína e das metanfetaminas) desde 2001.
Um ano após a entrada dos militares da NATO no Afeganistão, a área de cultivo cresceu 925%, uma proeza que deveria ser suficiente para silenciar politicamente George W. Bush até ao fim dos seus dias.
Barack Obama também tem resultados extraordinários: de 2009 a 2017, o crescimento foi da ordem dos 266%.
A performance de Obama foi de tal monta que o Conselho Internacional de Fiscalização de Estupefacientes, em 2017, exortou a comunidade internacional e a ONU a enfrentarem «os desafios do controlo de drogas no Afeganistão».
Curiosamente, neste ranking da vergonha, Donald Trump tem apenas a medalha de bronze, pois no seu consulado houve uma redução de 68%, um registo que coincide com o início do mandato de António Guterres à frente da ONU.
Depois de muitas palavras ocas, os talibãs nunca viram a sua principal fonte de financiamento em risco, ou seja, o tráfico de droga, a lavagem de dinheiro e a corrupção sempre pesaram mais do que a origem da ameaça terrorista.
Os cerca de 5 mil militares portugueses, envolvidos no Afeganistão desde 2001, mereciam mais honra e menos esforços de persuasão para convencer os portugueses da bondade desta aventura desastrosa.
A disponibilidade para receber 50 refugiados afegãos, afirmada por João Gomes Cravinho, ministro da Defesa, corresponde ao pragmatismo politicamente acéfalo da participação de militares portugueses na "libertação" do Afeganistão.
O comandante supremo das Forças Armadas e o primeiro-ministro pouco ou nada de relevante disseram sobre o Afeganistão, aliás, tal e qual como aconteceu em relação a Tancos.
Não é assim que se prestigiam as Forças Armadas.