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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

ALTA (IN)DEFINIÇÃO


A vertiginosa aceleração de acontecimentos extremos tem colocado os regimes democráticos à beira de um ataque de nervos.

Dos rosários das trafulhices de Biden e de Trump até à morte de Alexei Navalny tudo tem servido para alimentar um desnorte nunca visto.

A ameaça de “consequências devastadoras” para a Rússia, prometidas por Joe Biden, a 16 de Junho de 2021, esvaziou-se no preciso momento em que foi conhecida a morte do opositor a Vladimir Putin.

Entretanto, os europeus assistem, entretidos com grandes e eloquentes profissões de fé.

Entre proclamações e ovações ocas nada mudou, nem mesmo os candidatos à presidência dos Estados Unidos da América, ficando por saber o que poderá acontecer no caso de igual desfecho para Julian Assange.

Na política caseira, o acto eleitoral de 10 de Março tem igualmente colocado a nu a vertigem da reciclagem de receitas e clichés que já provaram a sua ineficácia.

Como se o caricato não fosse visível, os protagonistas enredam-se em múltiplas acusações, antecipando a repetição dos últimos oito anos de propaganda, de truques e de mentiras.

A bagunça é de tal monta que até magistrados se envolvem na praça pública com acusações mútuas, deixando um rasto de suspeições tão graves quanto os crimes que têm de investigar e julgar.

O desvario é universal, faltam referências, o escrutínio de instituições credíveis e até a análise e o comentário independente e idóneo.

Resta a emoção, em alta (in)definição, garantida por um entretenimento revisteiro que tenta emprestar dignidade a quem hesita em estar do lado certo da vida para enfrentar a realidade do dia-a-dia.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

ARMA POLÍTICA


Os acontecimentos explosivos no Brasil, tal e qual como a dantesca situação interna portuguesa, continuam em evolução.

A efervescência política e social nem surpreende, nem vai ficar por aqui.

Depois de Donald Trump, Jair Bolsonaro continua a condenar o vandalismo sem se demarcar dos seus apoiantes.

Por cá, Fernando Medina, com a graça de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, exime justificações para a TAP e propala resultados obtidos à custa do abandono e sofrimento dos portugueses.

A violência é sempre condenável, seja a perpetrada pela força, seja a consumada através da dissimulação.

Aliás, é tão criminosa a invasão das instituições como a negligência nos cuidados de saúde, justiça, educação, segurança, etc.

Entre uns e outros, venha o diabo e escolha, pois cabem todinhos na violação dos princípios constitucionais e civilizacionais.

No momento da verdade, de um lado e do outro do Atlântico, emerge a mesma resposta: a sonsice, uma nova arma política do século XXI.

No Brasil, depois do circo da anulação da condenação judicial de Lula da Silva pelo órgão de cúpula da Justiça.

Em Portugal, com o espectáculo em curso da degradação institucional sob a forma de sucessivas tomadas de posse em nove meses.

Os direitos à manifestação, protesto e resistência não podem ser colocados em crise.

A tentação de um Estado ainda mais securitário nunca será a solução.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

MILITARES SEM HONRA NO AFEGANISTÃO


A situação no Afeganistão merece reflexão, nomeadamente à luz das últimas "pérolas" de Augusto Santos Silva e João Gomes Cravinho.

O ministro dos Negócios Estrangeiros teve a ousadia de falar de «honra da comunidade internacional», quando garantiu que os colaborantes com a força invasora estariam a salvo dos talibãs.

Este tipo de afirmações retiram qualquer credibilidade à diplomacia portuguesa, quando não hesita na propaganda ridícula para agradar aos norte-americanos e tentar salvar a pele.

Mas se o padrão é assim internamente, por que razão seria diferente em relação ao exterior?

Bastaria consultar um indicador para o governante corar de vergonha: o crescimento da papoila (base da heroína e das metanfetaminas) desde 2001.


Um ano após a entrada dos militares da NATO no Afeganistão, a área de cultivo cresceu 925%, uma proeza que deveria ser suficiente para silenciar politicamente George W. Bush até ao fim dos seus dias.

Barack Obama também tem resultados extraordinários: de 2009 a 2017, o crescimento foi da ordem dos 266%.

A performance de Obama foi de tal monta que o Conselho Internacional de Fiscalização de Estupefacientes, em 2017, exortou a comunidade internacional e a ONU a enfrentarem «os desafios do controlo de drogas no Afeganistão».

Curiosamente, neste ranking da vergonha, Donald Trump tem apenas a medalha de bronze, pois no seu consulado houve uma redução de 68%, um registo que coincide com o início do mandato de António Guterres à frente da ONU.

Depois de muitas palavras ocas, os talibãs nunca viram a sua principal fonte de financiamento em risco, ou seja, o tráfico de droga, a lavagem de dinheiro e a corrupção sempre pesaram mais do que a origem da ameaça terrorista.

Os cerca de 5 mil militares portugueses, envolvidos no Afeganistão desde 2001, mereciam mais honra e menos esforços de persuasão para convencer os portugueses da bondade desta aventura desastrosa.

A disponibilidade para receber 50 refugiados afegãos, afirmada por João Gomes Cravinho, ministro da Defesa, corresponde ao pragmatismo politicamente acéfalo da participação de militares portugueses na "libertação" do Afeganistão.

O comandante supremo das Forças Armadas e o primeiro-ministro pouco ou nada de relevante disseram sobre o Afeganistão, aliás, tal e qual como aconteceu em relação a Tancos.

Não é assim que se prestigiam as Forças Armadas.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

À ESPERA DA AMÉRICA


O "cowboy" e o "self-made man" ainda continuam a fazer maioritariamente parte do ADN norte-americano?

As eleições presidenciais nos Estados Unidos da América são muito mais do que uma opção entre Donald Trump e Joe Biden.

É um momento de teste à alma americana que se traduz na escolha entre dois caminhos: a continuação da ruptura com o paradigma falhado ou o regresso do status quo em todo o esplendor.

Trump representa a continuação da luta contra os cânones de Washington, diabolizando a chamada imprensa de referência; Biden será a reedição de um modelo de governação em que o multilateralismo é temperado pelo marketing político e influência dos serviços secretos na política.

Depois de Obama ganhar com a força de "We Can", partilhando o Mundo com as outras superpotências, Trump quer renovar o sonho de hegemonia do "Make America Great Again" que continua a embalar os norte-americanos, enquanto Biden promete o moralismo de um aliado "Of the light, not the darkness".

E, goste-se ou não, deste lado do continente europeu, o errático Trump personifica melhor a imagem do "American way of life" que fez dos Estados Unidos da América a maior potência do mundo.

Mas esta eleição é também a renovação da "eterna" questão da emigração: por um lado, o fecho de fronteiras cruel; por outro lado, a alternativa de abertura para a exploração selvagem da mão-de-obra barata.

Também a questão racial pode, finalmente, fazer a diferença, numa realidade pós-Floyd, se ultrapassado o tradicional voto de abstenção ou em branco dos negros.

Para perceber o que está em jogo neste acto eleitoral, em que os latinos também podem sonhar, é preciso não esquecer a realidade de mais de 40 milhões de pobres, bem como de mais 140 milhões de cidadãos que admitem ter um rendimento insuficiente para pagar suas contas.

A vitória de Trump ou de Biden é ainda muito mais: de um lado, a arrogância da aposta na economia e no individualismo; do outro, a moderação que dá atenção à pandemia e ao colectivo.

Salvaguardas as devidas diferenças, a divisão brutal instalada não é assim tão diferente daquela que começa a emergir na Europa, decorrido quase um ano da descoberta da Covid.

No contexto de crise económica, os próximos actos eleitorais europeus também serão marcados por fracturas que ultrapassam a razão, a ideologia e a humanidade.

No país do consumismo, em que também se joga mais isolacionismo ou mais globalização, após muitos milhões de dólares gastos na publicidade de ambos os candidatos, fica para a História uma campanha de ódios, com "facts checks" para todos os gostos, ambições e carteiras.

O 46º presidente dos Estados Unidos da América tem uma herança: um país em que prevaleceram a força das instituições democráticas, o primado da Lei e a contribuição para a paz mundial.