segunda-feira, 15 de novembro de 2021

BLÁ, BLÁ, BLÁ

 

A COP26 finou.

E com ela desapareceram as esperanças na protecção ambiental.

Obviamente, todos estiveram de acordo em reconhecer os relatórios científicos do IPCC (Painel Intergovernamental para a Alterações Climáticas).

E não faltaram palavras: “alarme”, “extrema preocupação” e “urgência”.

Mas, no que realmente importa – eliminação gradual dos subsídios ao carvão e aos combustíveis fósseis –, tudo ficou pela «intensificação dos esforços».

Entretanto, a admissão que os países ricos não cumpriram a promessa de mobilizar cem mil milhões de dólares por ano até 2020 para ajudar as nações mais subdesenvolvidas e pobres a lidar com as alterações climáticas.

E, claro, a cimeira de Glasgow não deixou de expressar o «profundo pesar» por tal falhanço, adiando o compromisso para 2025.

Blá, blá, blá.

Foi assim que Greta Thunberg resumiu o “Pacto Climático de Glasgow”.

Basta abrir o Twitter e o Facebook para perceber que também é assim que os mais jovens vêem as sucessivas promessas do poder político.

As subtilezas diplomáticas e as habilidades semânticas, outrora dominantes à boleia da comunicação social mainstream, já não colhem.

A verdade está na rua.

Hoje, os equilíbrios são outros, uma realidade que os protagonistas dos Estados mais ricos ainda não perceberam.

Até aderir a uma rede social do século XXI.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

GRANDE CAMBALHOTA

 

No dia em que anunciou a data das eleições antecipadas, Marcelo Rebelo de Sousa assinou um discurso confuso e contraditório.     

A ameaça precipitada, descabida e reiterada de dissolução ainda antes do fim do jogo parlamentar, quando há um ano jurava que a hipótese era uma mera «ficção», só poderia ter sido explicada com um milagre.

Basta recordar o que Marcelo Rebelo de Sousa disse em Agosto de 2020, como oportunamente recordou Francisco Louçã, para ter uma ideia da perversidade política em curso.

O que mudou?

1) António Costa a braços com uma crise no governo e a crescente contestação social, bem como a ocasião perfeita para diabolizar o Bloco de Esquerda e o PCP;

2) A brecha para vingar o «ódio a Rui Rio», como bem sublinhou Isabel Meirelles, com PSD e CDS/PP esfrangalhados;

3) Estancar qualquer possibilidade de viabilização de medidas orçamentais que desagradavam aos patrões.

Em síntese, Marcelo Rebelo de Sousa fez objectivamente três fretes políticos: ao primeiro-ministro, a Paulo Rangel e aos patrões.

Um último lifting, uma exibição de autoritarismo político para compensar seis anos de submissão em Belém.

O tom da campanha eleitoral e os resultados das eleições antecipadas, sem esquecer a abstenção, ditarão o futuro de um presidente que tudo sacrificou para satisfazer a sua ânsia de protagonismo.

E depois da grande cambalhota, sempre a sorrir, obviamente com o interesse nacional na boca e desgraçadamente a responsabilidade no bolso, só falta ao presidente impor a “regra de regime”, a reinvenção do “Bloco Central” sustentada na comparação, pasme-se, com a realidade alemã.