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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

UM GRANDE EMBUSTE

 


A informação tem sempre um primeiro responsável: o director editorial.

Uma semana após as eleições, nem uma única chefia dos órgãos de comunicação social apresentou um pedido de desculpa público aos seus leitores, ouvintes e telespectadores pela divulgação de sondagens estrondosamente divergentes dos resultados.

Apresentadas por várias empresas, com resultados idênticos, com critérios certamente objectivos, eis o instrumento da querida manipulação à vista de todos.

Os “clientes” lá continuam a aproveitar para promover a informação de geração espontânea ou fabricada debaixo do tapete.

Um ladrão aqui, uma ladra ali, quiçá, um qualquer empresário ou banqueiro em desgraça acolá, tudo a escorregar sobre notas num exame controlado à partida, mais moita menos moita.

E, certamente, ninguém ficaria chocado se um dia destes o país acordasse com mais um par de buscas.

A história repete-se, eleição após eleição, com a bissectriz traçada pelos mesmos protagonistas, uns mais visíveis do que outros, à boleia da renovada e alindada opacidade da “bolha” política e mediática.

As cambalhotas são tratadas à la carte, como convém à (im)parcialidade de quem é afastado ou colocado atempadamente no sítio mais conveniente.

É o escrutínio, que temos e merecemos, com o mapa das audiências na mão, em que não falta semântica e semiótica para reinar, mas sobra tanto lixo.

Um mercenário, de direita ou de esquerda, ou de ambas, será sempre e apenas mais um mercenário que lá se vai safando, porque serve a “mão invisível” que trata da política, como do futebol, entre outros mercados.

O cidadão, que quer e paga a informação, sente-se enganado.

Mesmo estando a milhas do que se passa, resta-lhe a percepção difusa da falta de transparência.

A crise na imprensa – e de confiança nas instituições! –, é uma mera consequência de mais um grande embuste.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

A GRANDE ILUSÃO

 

A hecatombe do Bloco de Esquerda e do PCP e a explosão do Chega e da Iniciativa Liberal atiraram o país para as mãos de uma governação que havia manifestamente falhado.

Agora, sem a desculpa dos empecilhos à esquerda, com a direita ainda mais radicalizada e varrida a importância de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa vai enfrentar a sua própria aventura.

E se o receio lhe deu a vitória, a realidade obrigá-lo-á a subir penosamente o Gólgota, tais são os erros do passado e os riscos que estão no horizonte.

O medo também foi vencedor das eleições legislativas antecipadas.

A maioria absoluta do PS foi o refúgio que os portugueses consideraram mais seguro no actual tempo de crise excepcional.

O PSD não foi capaz de entender que a hora era de dar mais segurança, deixando-se embalar pela sereia do Bloco Central e por sondagens cuja credibilidade definitivamente morreu.

Rui Rio estava teimosamente preparado para o país, mas os portugueses ainda não estão confiantes numa mudança sustentada em mais rigor.

O caos na Justiça, Saúde e Educação não foram suficientes para mudar, pois a alternativa ancorada em mais exigência foi percepcionada como um risco insuportável.

Mais demérito do PSD do que mérito do PS.

O povo português entendeu colectivamente que devia dar mais uma oportunidade a António Costa.

Fê-lo expressivamente, fazendo baixar a abstenção.

«O povo votou, o PS ganhou».

Foi assim que António Costa sintetizou a maioria absoluta do PS.

Só resta saber se a grande ilusão manterá os mesmos protagonistas e a estabilidade política e social durante quatro anos face à oposição dura e crua do Chega e da Iniciativa Liberal.




segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

E DEPOIS DA CAMPANHA ELEITORAL


É simplesmente aterrador assistir à forma como foi descurado o voto de cerca de um milhão de confinados, desde o presidente (em silêncio) até ao governo e aos deputados.

O levantamento atamancado e tardio das regras sanitárias no dia das eleições, com a bênção do Ministério Público, mas com a oposição dos médicos de saúde pública, vai ter consequências na pandemia, na política e no resultado eleitoral.

Para já, uma única certeza: com menos de uma semana de campanha, o considerável número de indecisos podem determinar a escolha dos novos 230 deputados.

Neste contexto será interessante avaliar a reposta nas urnas às prestações de cada um dos líderes, desde logo às semelhanças perturbantes entre António Costa e José Sócrates: a mesma arrogância, a mesma estratégia de medo, a mesma lógica do vale tudo.

E também aquilatar como foram recebidas as surpresas João Oliveira e Rui Tavares, a coerência de Catarina Martins, a combatividade de Francisco Rodrigues dos Santos e João Cotrim Figueiredo, a lisura de Rui Rio e o calculismo de André Ventura e Inês Sousa Real.

Se o “diabo” de Passos Coelho virou fantasma, mais importante ainda é saber qual vai ser a resposta ao “diabo” de António Costa que está aí vivo e bem rosadinho.

Será que as famílias vão renovar a confiança no partido da governação depois de verem tombar os seus por causa da Covid e da falta de assistência médica?

Será que os milhões de doentes, que não tiveram cirurgias e consultas no SNS, vão aceitar mais do mesmo?

Será que os comerciantes e os pequenos e médios empresários vão apostar na continuidade depois de assistirem impotentes à distribuição do grosso dos apoios às grandes empresas?

O povo vai expressar a sua vontade sobre a governação, a alternativa e também após a atitude presidencial de branqueamento sistemático do governo de António Costa e de precipitação descabelada de eleições antecipadas em plena pandemia Covid.

E, desta vez, os discursos pios e os “fantasmas” dos cadernos eleitorais não serão suficientes para justificar a taxa de abstenção.

Ganhe quem ganhar, nesta espécie de trapalhada democrática, será incontornável estimar o número de cidadãos de carne e osso que não votaram por medo.

Se o próximo governo tem muito para fazer pela frente, Marcelo Rebelo de Sousa tem muitas explicações a dar ao país no dia 31 de Janeiro, depois de um silêncio mais uma vez politicamente cúmplice.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

AUGE DO ESCOADOURO


As legislativas de 1 de Outubro de 1995 e de 27 de Setembro de 2009 determinaram o fim das maiorias absolutas de Aníbal Cavaco Silva e José Sócrates.

Foi o profundo cansaço com a governação de apenas um partido a falar mais alto, com os portugueses a decidirem por fim a muitos arbítrios e abusos.

Nem as presidências de Mário Soares e Jorge Sampaio foram capazes de os evitar.

No próximo dia 30 de Janeiro, a maioria absoluta parece estar tecnicamente afastada, mas a instabilidade, a limitação das liberdades individuais, o crescimento da dívida pública e a grande corrupção exigem mais cautela nos vaticínios.

Qualquer que seja a decisão colectiva, mais importante ainda é os cidadãos poderem dispor de informação verdadeira e rigorosa antes de votar.

Pelo menos aqueles que o podem fazer.

Os debates, com os líderes dos partidos políticos com assento parlamentar, ficaram aquém em variados temas decisivos para o futuro e as escolhas dos temas e respectivas abordagens dos jornalistas/moderadores foram parciais.

Na Justiça, em vez da multiplicidade de problemas existentes, tão bem elencados por Ana Gomes e Maria José Morgado, nos seus respectivos espaços de opinião, o foco principal recaiu na composição dos conselhos superiores dos magistrados.

Na Saúde, o número de vacinas e de testes, com direito a teatro, mitigaram o caos existente no SNS.

No crescimento económico, os números manipulados do governo ainda em funções marcaram as questões simplistas e a manifesta impreparação para fazer face à propaganda descarada.

Muitos outros exemplos poderiam ser elencados para atestar a escandalosa deferência com António Costa, a tradicional hostilidade a Rui Rio e a tolerância com os pequenos partidos, à excepção do Chega.

O manifesto beneficiar de António Costa, aliás, só teve travão com João Cotrim Figueiredo, o único com capacidade e elegância para o denunciar: «A pergunta está muito bem colocada, mas já enferma daquilo a que eu chamo a propaganda socialista».

Mais grave é que outros sectores – Agricultura, Ambiente, Educação, Investimento Público, Natalidade, Pobreza (sem-abrigo) e Segurança –, entre outros, ficaram por abordar.

Resta ainda uma última oportunidade no debate com a presença dos líderes do PS, PSD, Bloco de Esquerda, PCP, CDS/PP, Chega, Iniciativa Liberal, PAN e Livre.

Em vésperas de eleições, como durante os últimos seis anos, o escrutínio da governação António Costa tem sido uma farsa vergonhosa.

É um mau serviço que a comunicação social presta ao país, mais uma vez, ainda que de assinalar excepções de profissionalismo e rigor.

As estações de televisão, com critérios editoriais de uma geometria variável assustadora, não podem continuar a desinformar a seu belo prazer.

Afinal, a campanha eleitoral não é, nem nunca pode ser, o auge do escoadouro de incompetências, fretes, oportunismos e vaidades.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

RUI RIO E O PAÍS REAL


Depois de anos a fio a reinar à custa do agitar de bandeiras ideológicas estafadas, António Costa e sus muchachos abriram a caixa de Pandora.

A ruptura da “geringonça” trouxe à luz do dia os falhanços da governação dos últimos seis anos.

A realidade dantesca – na Saúde, Justiça e Educação, para não falar de outros sectores –, entra pela nossa casa dentro, diária e garantidamente através da CMTV, goste-se do estilo, ou não.

O rigor que Rui Rio inspirou, no discurso de encerramento do 39º congresso do PSD, corresponde ao anseio de mudança que se sente na classe média, mas também transmite medo aos mais pobres.

O risco de cometer os mesmos exageros fundamentalistas de Pedro Passos Coelho, depois da troika, é demasiado grosseiro para quem aspira ser a alternativa.

Afinal, os erros da governação são tão politicamente monstruosos que é preciso humildade para aceitar que não são possíveis de emendar, com ou sem “Bloco Central”, no tempo de uma legislatura, de quatro ou cinco anos.

O povo está embriagado com a política de propaganda, promessas e mentiras de António Costa, aliás, sustentadas pelo folclore politicamente entediante e medíocre de Marcelo Rebelo de Sousa e abençoadas por uma Igreja com uma mão na Fé e a outra no bolso.

O momento actual é ainda de ressaca – já nem a comunicação social mainstream consegue disfarçar –, não é o tempo de exibicionismos.

Quem vive remediadamente, na miséria ou abandonado não compreenderá a complacência com a subsidiação das grandes negociatas de Estado e a abertura da caça desenfreada aos desvios no RSI, nas pensões e no subsídio de desemprego.

De Rui Rio espera-se verdade, mas também coerência, mais exigência com a administração, a elite e os privilegiados do que autoritarismo com os desvalidos.

Rui Rio, que não perdeu a oportunidade para vincar a diferença com António Costa, perante os militantes do PSD, demonstrou que está preparado para enfrentar o país real.

Mas será que o eleitor comum está preparado para Rui Rio?

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

GRANDE CAMBALHOTA

 

No dia em que anunciou a data das eleições antecipadas, Marcelo Rebelo de Sousa assinou um discurso confuso e contraditório.     

A ameaça precipitada, descabida e reiterada de dissolução ainda antes do fim do jogo parlamentar, quando há um ano jurava que a hipótese era uma mera «ficção», só poderia ter sido explicada com um milagre.

Basta recordar o que Marcelo Rebelo de Sousa disse em Agosto de 2020, como oportunamente recordou Francisco Louçã, para ter uma ideia da perversidade política em curso.

O que mudou?

1) António Costa a braços com uma crise no governo e a crescente contestação social, bem como a ocasião perfeita para diabolizar o Bloco de Esquerda e o PCP;

2) A brecha para vingar o «ódio a Rui Rio», como bem sublinhou Isabel Meirelles, com PSD e CDS/PP esfrangalhados;

3) Estancar qualquer possibilidade de viabilização de medidas orçamentais que desagradavam aos patrões.

Em síntese, Marcelo Rebelo de Sousa fez objectivamente três fretes políticos: ao primeiro-ministro, a Paulo Rangel e aos patrões.

Um último lifting, uma exibição de autoritarismo político para compensar seis anos de submissão em Belém.

O tom da campanha eleitoral e os resultados das eleições antecipadas, sem esquecer a abstenção, ditarão o futuro de um presidente que tudo sacrificou para satisfazer a sua ânsia de protagonismo.

E depois da grande cambalhota, sempre a sorrir, obviamente com o interesse nacional na boca e desgraçadamente a responsabilidade no bolso, só falta ao presidente impor a “regra de regime”, a reinvenção do “Bloco Central” sustentada na comparação, pasme-se, com a realidade alemã.

 

 

 

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O QUE ESCONDE MARCELO?

 

Os factos são o que são, e as consequências também.

E, para já, há uma única certeza: a abertura da crise é da responsabilidade do presidente.

Políticos, analistas e comentadores, de todos os quadrantes, têm criticado a precipitação do anúncio da dissolução da Assembleia da República, ainda antes de estar esgotada a negociação do Orçamento do Estado para 2022.

E alguns até denunciam a flagrante e descabida ingerência na vida parlamentar e partidária.

Existiam outros caminhos, desde a elaboração de um novo orçamento até à apresentação de uma moção de confiança e/ou de censura, ou ainda o pedido de demissão do primeiro-ministro.

Assim, é de desejar que Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da formalização da data das eleições antecipadas, avance uma qualquer revelação que justifique o comportamento, à primeira vista, tão politicamente aventureiro.

Isto sem excluir, tendo em conta o histórico da personagem, a hipótese de dar o dito-por-não-dito.

Admitindo que o país vai mesmo a eleições, nas actuais circunstâncias económicas, financeiras e até pandémicas, é urgente uma cristalina prestação de contas, não basta invocar os poderes formais.

Tanto mais que, na próxima campanha eleitoral, os partidos não vão carregar as responsabilidades que não lhes cabem.

É exigível uma explicação coerente, caso contrário impõe-se investigar se o presidente está em condições para exercer o cargo ou então se existia um acordo prévio desconhecido dos portugueses.

Apesar de alguns achaques de autoritarismo, aparentemente explicáveis pela idade, a primeira possibilidade parece estar excluída.

Ora, a segunda ainda não está.

Aliás, face ao anúncio da dissolução, a pronta aceitação do primeiro-ministro, a roçar a submissão política, legitima a racionalidade e a pertinência de todas as suspeitas.

E ninguém esquece, ou pode desvalorizar, que a decisão presidencial foi anunciada com o conhecimento de uma disputa na liderança do PSD e do CDS/PP.

Aqui chegados, eis mais uma súbita cambalhota: depois do impulso, da urgência e da azáfama, o presidente anda agora a encanar a perna à rã, retardando a realização das eleições.

A bizarria já foi sibilinamente notada por Pedro Santana Lopes: «Há aqui qualquer coisa que parece que nos escapa».

O que esconde Marcelo Rebelo de Sousa?

Um pacto, com António Costa?

Cedências a outros políticos e protagonistas?

O presidente não pode tudo para apenas assumir uma centralidade que apazigúe a megalomania institucional.

A situação é demasiado grave para ficar por mais silêncios.

Ou por declarações espúrias e labirínticas, como tem acontecido com BES, GES, Novo Banco, Tancos, Covid, PRR e combate à corrupção.

Em situações semelhantes, os votos dos portugueses, bem ou mal, têm validado a utilização da “bomba atómica” constitucional.

E se tal não acontecer em 2022?