segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

DEBATES, INSTANTANEIDADE E REDES SOCIAIS



Os debates com 25 minutos têm colocado à prova os líderes partidários e a própria comunicação social.

Todavia, a tentativa de aproximação da informação tradicional à instantaneidade das redes sociais expõe ainda mais a geometria variável editorial.

Uma família vítima do caos no SNS, um comerciante derrubado pela falta de apoios em pandemia, um cidadão esmagado pela Administração podem não chegar aos debates, às primeiras páginas e ao prime time, mas nunca falta espaço nem tempo para constarem do Twitter e do Facebook.

O recurso aos canais alternativos, em vésperas das eleições antecipadas, é uma mera reacção aos critérios definidos pela “bolha” em que circulam políticos e jornalistas.

Das citações aos vídeos, da síntese à crítica, da graxa aos gritos de alarme, do servilismo à independência, a Internet continua a revolucionar a percepção dos cidadãos, mais selectivos e atentos em relação à manipulação.

A cidadania, além da participação, é cada vez mais a capacidade de identificar e rejeitar a publicidade enganosa, qual fake news, venha ela de onde vier.

A mediação jornalística, indispensável, continua a perder terreno.

E quanto mais instantânea, mais subserviente e mais parcial for a cobertura noticiosa, mais vingam os canais alternativos.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

VIRAR A PÁGINA


As consequências económicas e financeiras devastadoras provocadas pela pandemia Covid deviam fazer soar todos os alarmes, designadamente no momento de ameaça e tensão militares entre a China, a Rússia e os Estados Unidos da América.

A Crimeia e Taiwan, além da energia e acesas disputas comerciais entre as super potências, são pretextos demasiados perigosos para serem escondidos.

É nestes momentos trágicos que a guerra é sempre um factor de risco acrescido, uma tentação à mercê de ditadores, assassinos e aventureiros.

As matanças pela força das armas, ou de uma qualquer guerra biológica, não podem voltar a ser a fórmula para drenar e reequilibrar as massivas transferências financeiras entre continentes.

Nunca é de mais recordar que as duas grandes guerras mundiais começaram a levedar em períodos de graves crises nas economias europeias.

Pactuar com a manutenção desta realidade escondida é um péssimo serviço público.

Entretanto, por cá, a pandemia e as eleições antecipadas concentram os principais debates e espaços informativos.

Com um presidente entretido com trocadilhos para prevenir uma eventual mudança política e um primeiro-ministro em funções que tudo faz para manter o poder pelo poder, o “nosso Portugal” é mantido alheado da gravíssima realidade internacional.

De uma forma estratégica e deliberada, os portugueses estão a ser mantidos na ignorância das consequências da escalada da tensão internacional, porque tal beneficia descaradamente António Costa e o sistema instalado.

Uma mera subida das taxas de juro de referência a nível mundial atiraria Portugal novamente para o charco ainda mais fundo da miséria e fome.

Tal como aconteceu, por exemplo, com a crise mundial de 2007/8, que atirou a ficção despesista de José Sócrates para os braços da Troika.

A menos de um mês de eleições legislativas, não é só preocupante o tradicional ilusionismo dos políticos e candidatos e de uma parte da comunicação social.

Muito mais inquietante é o governador do Banco de Portugal, que foi ministro das Finanças, vir agora a terreiro afirmar que «se 2016 foi um ano de inversão, 2022 será um ano de propulsão».

E assim se continua descarada e impunemente a virar a página.