Sob
a capa de um discurso vistoso e diabolizando quem ainda nos permite ter pão na
mesa, literalmente, é caso para dizer que a António Costa está apostado em alimentar
um Estado chroma, cavalgando uma sucessão de imagens que ele, e todos nós,
sabemos que são apenas e tão-só virtuais, com ou sem túnel à mistura.
O leitor
só descobre o chroma quando lhe é permitido ver os bastidores pobres e desinteressantes
de uma produção cinematográfica, de um programa de televisão ou de uma sessão
fotográfica.
A parede
verde no fundo é de estranhar, ao permitir uma diversidade fantástica e uma
celeridade inimaginável, mas depois entranha, entranha e até confunde, pois
permite a criação da aparência de um mundo perfeito.
Filme
a filme, programa a programa, imagem a imagem, take a take, frame a frame, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, tudo parece
mudar, numa explosão de cores e formas, mas afinal continua tudo na mesma, com
a parede verde, sempre verde, no mesmo sítio.
Um
par de meses após o regresso da esquerda ao poder, agora sim, de toda a
esquerda, o sonho (ingénuo?) de haver alguma diferença em relação à direita que
nos tem governado está à beira de virar pesadelo.
O
Estado já nem esconde a falência, a corrupção que o mina e, agora, até faz gala
em ameaçar não assumir os contratos que assina.
Só
faltava o discurso arrogante e típico de quem anda sempre com o povo na boca
mas ignora e espezinha os direitos dos cidadãos.
Em
nome de uma legitimidade ilimitada da representação política, logo abusiva e falsa,
a megalomania parece não ter limites para quem, fazendo de conta que tudo está
bem, mantém o discurso de quem tem os cofres cheios, embora saiba muito bem que
eles estão, outra vez, cada vez mais vazios.
É a
manipulação mais grosseira, quiçá desprezível, ao serviço da táctica política e
partidária, ignorando que o iminente falhanço, mais um, pode ter um preço e
impacte devastadores sobre a vida das pessoas e das famílias.
Estamos
a assistir, novamente, a momentos surrealistas da vida colectiva do país,
emparedado entre o passado, marcado por atitudes delirantes e messiânicas (José
Sócrates e Pedro Passos Coelho), e o presente sublinhado pela atitude irresponsável
(António Costa).
Só
faltava ainda outro tipo de atitude: a felicidade dos afectos (Marcelo Rebelo
de Sousa).
Tanta
encenação!
Os
portugueses merecem mais do que este Estado chroma.
A
verdade é bem diferente: nos corredores do poder está em curso uma guerra de
interesses para manter a sobrevivência de alguns lugares no Olimpo das
facilidades.
Indiferentes
à vida dos cidadãos, a realidade aí está, tal e qual como é: se o défice
aumentar, então o Estado aumenta os impostos; se a dívida continuar a crescer,
então o Estado corta nas pensões; se o emprego não florescer, então o Estado ameaça
o sector privado e avança com negociatas que permitem comissões chorudas; se a
banca abre falência, então o Estado obriga o contribuinte a pagar.
O
Estado é apenas o que parece, porque acreditamos no querem que acreditemos, e permitimos
que assim seja.
Será
coma?
Será
carma?
Até
pode ser chroma, mas não o pode ser eternamente, porque até no mundo virtual
também há limites.