segunda-feira, 25 de novembro de 2019

SAÚDE SEM PRESIDENTE


A Saúde não tem sido uma prioridade de António Costa.

E, mais grave, é um dos temas mais ignorados pelo presidente da República nas suas intervenções públicas.

A constatação é factual, obriga a reflectir!

E a colocar três questões: Será uma política de Estado? Por insensibilidade social? Ou por interesses difusos ou pessoais?

Sejam quais forem os motivos, que justificam as interrogações, é cada vez mais evidente o resultado: Marcelo Rebelo de Sousa tem contribuído e permitido o branqueamento sobre o que se está a passar na Saúde, designadamente no SNS.

O padrão da comunicação de Belém tem sido apenas marcado por uma forte presença no espectáculo das emoções e dos fait divers, como se o importante fora apenas o reforço da popularidade do presidente com vista ao segundo mandato.

Aliás, a avaliar pelas suas intervenções, Marcelo Rebelo de Sousa parece estar mais preocupado com a crise financeira na Comunicação Social do que com o desastre no SNS.

Como se a Democracia se cumprisse com a protecção de alguns e a desprotecção de todos os outros.

É chocante!

Esta inversão de valores é um perigo.

E não basta apelar para os cidadãos não terem medo de defender os seus direitos, quando é o próprio presidente que lhes falta escandalosamente ao encontro.

Aliás, é tão intolerável a violência doméstica como a falta de cuidados num qualquer estabelecimento de Saúde, público ou privado.

É certo que a palavra do presidente vale cada vez menos, mesmo nas campanhas que abraça, e muito bem.

O recente exemplo do incumprimento do programa da erradicação dos sem-abrigo, abafado antes das eleições de Outubro passado, teve de ser agora renovado, à pressa, à medida da saison.

Como se a Democracia se cumprisse com pactos e anúncios, sem escrutínio e responsabilização públicos.

Por isso já ninguém estranha - e deveria estranhar! - que o Ministério Público, sempre afoito a abrir inquéritos ao ritmo das notícias publicadas, tarde em agir pronta e publicamente relativamente aos mais diversos casos chocantes de incúria no SNS.

Resta o escrutínio dos profissionais, das Ordens e dos sindicatos do sector da Saúde, bem como da comunicação social, ou o que dela resta, livre da mão "caridosa" do Estado, fundamentais para pôr cobro a esta criminosa farsa à vista de todos.

Com o agudizar do caos no SNS, o coro pungente e miserável daqueles que, com a desfaçatez do costume, dizem não saber nada, já não é mais possível.

Em vez de declarações tímidas e avulsas - ao ritmo dos casos mediáticos -, o presidente da República tem de  intervir, publicamente, com máxima firmeza, exigindo ao governo, a este ou a qualquer outro, mais do que palavras de circunstância, o estrito cumprimento da Constituição.

Mas o texto fundamental também vale o que vale...

Por maior que seja a propaganda, ter Saúde em Portugal é cada vez mais um desafio perigoso para quem não tem dinheiro.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

SNS: CHEGOU O TEMPO DE ACORDAR


O SNS continua a morrer.

E com ele muitos e muitos portugueses mais pobres e desvalidos.

A catástrofe que está a ocorrer, diariamente, só tem sido possível com o beneplácito do XXII governo constitucional e de uma ministra que já morreu politicamente e ainda não deu conta.

Aliás, e deveras importante, algum dia ter-se-á de perceber o verdadeiro motivo do silêncio pesado do presidente da República sobre as sucessivas e escandalosas notícias diárias sobre o SNS.

O encerramento do Hospital Garcia de Orta (Urgência pediátrica), das 20h00 às 08H00, todos os dias, é apenas mais uma machadada nas necessidades dos cidadãos.

Os medicamentos faltam aos doentes, regular e impunemente, deixando aqueles que mais precisam à mercê de adiamentos ou alternativas que prejudicam a sua saúde.

Os médicos abriram os olhos e já começaram a declinar qualquer responsabilidade civil, tais são as condições de trabalho e falhas no sistema.

Faltava ainda, no âmbito da incompetência a roçar a incúria, a novidade de querer amarrar os jovens médicos ao SNS, numa decisão administrativa ao jeito da esquerda que apenas pode resultar num recrudescimento da conflitualidade, cujos prejuízos ainda podem agravar mais quem recorre ao SNS.

Não, não há tolerância para um caos permanente que parece ter emergido do nada após os últimos resultados eleitorais.

E não pode haver mais condescendência para quem julga ser possível disfarçar o que se passa com notícias positivas sobre o SNS, porque também as há, pois a gravidade do que está a ocorrer é por demais gritante e revoltante.

Se nos últimos quatro anos pouco se fez para resolver a situação, com a esquerda e a extrema esquerda a fazerem de conta que nada sabiam, uma coisa é certa: aqueles que têm de recorrer ao SNS certamente não esquecerão quem está a condenar o que resta de mais um serviço público.

E por mais e mais propaganda que possa ser lançada para tapar os olhos dos portugueses, a realidade dos números continua a ser dantesca: 47% dos portugueses não têm acesso aos serviços de saúde por falta de condições financeiras (OCDE) e 25% do orçamento da Saúde é gasto em desperdícios de toda a espécie (Lancet).

Os que não têm qualquer possibilidade de recorrer a um seguro de saúde privado ou não tenham a cunha suficiente para serem bem cuidados e respeitados no SNS, certamente não esquecerão a realidade de um Estado a roçar o criminoso.

Chegou o tempo, mais uma vez, de acordarmos, porventura de a Justiça também conseguir acordar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

SINAIS, "TRAIDORES" E DEPOIS SOPHIA


Edward Snowden bem pode falar, bem pode denunciar a ficção tornada realidade, bem pode alertar para o abuso institucionalizado e legalizado.

Se as palavras de Snowden fazem pensar, também deviam indignar e mobilizar.

Mas a verdade de Snowden ainda não interessa a todos.

Por um lado, os governos são servidos e servem-se, para os mais variados interesses e objectivos, por quem na sombra fria passou a recolher a informação de enfiada.

Por outro, os cidadãos estão demasiado ocupados com mais uma novela, mais um gadget, mais uma experiência vivida e rapidamente esvaziada pela sua exibição na primeira oportunidade.

Por cá, no âmbito deste quadro, tão global quanto dantesco, já começaram a ressurgir mais sinais alarmantes de arrogância política e de abuso no início da Legislatura.

E para que ninguém vá ao engano nestes tempos novos, um dos ajudantes de Estado lá avisou a malta: qualquer coligação negativa é obra de "traidores".

E paira a ameaça no ar...

Nunca há limites para quem julga estar ungido pela divindade do poder...

Coitados!

Julgam poder tudo...

Mas não podem, como nos ensina a História.

Porque há sempre alguém que resiste, como Snowden.

E porque vale a pena caminhar com Sophia, cem anos depois, relendo "Dual".

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

XXII GOVERNO: QUANDO O PRESENTE FAZ LUZ SOBRE O PASSADO


É um início sombrio, envolto em golpes de teatro e várias suspeitas, certamente frustrando as expectativas de uma parte dos eleitores que votaram no PS e da generalidade dos portugueses.

E é muito mais do que um Executivo numeroso, repleto de tachos para os amigos, militantes e simpatizantes de quem tem o poder.

Em suma: é um passo no sentido do regresso ao passado, ainda que sem maioria absoluta, em que os princípios de convivência democrática são vergados pela prepotência e impunidade políticas.

O mais grave é que o XXII governo constitucional mereceu um cheque em branco presidencial no momento de tomada de posse.

E os riscos, mais do que glosados na comunicação social e no que resta de opinião publicada independente, voltam a valer apenas o que valem, ou seja, nada nos tempos que correm.

As nomeações de João Galamba, Antero Luís e Nuno Artur Silva são exemplos paradigmáticos do actual processo de abastardamento democrático.

O secretário de Estado Adjunto do Ambiente é protagonista de um dos negócios de Estado com cambiantes caricatos de que não há memória.

Nem mesmo o eventual inquérito aberto pelo Ministério Público ao negócio do lítio foi suficiente.

Não!

Quem manda é Costa, com Marcelo a sorrir para as câmaras de televisão...

Por sua vez, a participação no Executivo de um magistrado que liderou o SIS e o organismo mais importante da Segurança Interna também não deixa quaisquer dúvidas.

Hoje, tal como ontem, de triste memória, é a confusão entre Política e Segurança, como se fosse necessário recriar uma espécie de cordão sanitário à volta do poder político.

Mas ainda faltava a pérola...

A nomeação de Nuno Artur Silva para a secretaria de Estado do Cinema, Audiovisual e Media traduz a teimosia e a arrogância políticas de António Costa, com Marcelo a continuar a sorrir para as câmaras de televisão.

E nunca é de mais recordar: as críticas decorrem da violação da mais elementar transparência política, e não de qualquer a priori de carácter de quem quer que seja.

De truque em truque, de formalismo em formalismo, os tiques autoritários bem podem servir para a alimentar os senhores do poder, mas tal mina a confiança dos cidadãos.

Who cares?, dizem alguns, contrapondo que o fundamental são os dados macro e estatísticos, as contas mais ou menos certas e a vertigem da modernidade com o lixo debaixo do tapete.

Para quem ainda tinha dúvidas, tudo ficou mais claro...

É o país das elites que temos e merecemos, é a consagração de um bailete ainda mais refinadamente cínico, com Marcelo sempre à espreita de uma qualquer câmara de televisão para continuar a sorrir.

A marca é inconfundível, chancelando a afronta ao bom senso e à ética republicana, a qual, aliás, já nos conduziram ao pântano e ao período mais negro da história da Democracia em que, aliás, António Costa assumiu o lugar de um dos protagonistas.

No arranque da 14ª Legislatura fica cristalino, mais uma vez, todo o descaramento político.

Em que volta a importar tão-só a ilusão de normalidade, em que não cabem os desafios adiados, o desrespeito pelos cidadãos e os esqueletos da República, sejam os cadáveres da Saúde ou as negociatas de Estado, sem esquecer Tancos, entre outros...

Desta vez, António Costa não poderá voltar a dizer candidamente que não sabia de nada, por mais que Marcelo continue a sorrir para as câmaras de televisão.

Vamos assistir aos mesmos erros, abusos e desmandos, outra vez?