sábado, 20 de setembro de 2014

PS: a escolha decisiva


Uma certa classe política vive momentos de incerteza e até desespero. De facto, aqueles que têm perpetuado o actual sistema caduco e corrupto bem podem temer o que está para vir, mais tarde ou mais cedo.

É que Portugal está a começar a dar sinais de mudança. Porventura, não está a mudar ao ritmo indispensável, mas está a começar a mudar a diversos níveis, nomeadamente na esfera partidária.

A crise interna no PS vai dar lugar a uma escolha decisiva que vai permitir verificar se os militantes e simpatizantes socialistas estão preparados para abraçar a mudança, ou ainda melhor, as primárias para a escolha do líder do PS vão permitir responder a uma questão da maior relevância: a esquerda está preparada para optar por uma nova forma de fazer política e de exercer o poder?

A corrida eleitoral desencadeada pelo «imperativo de consciência» de António Costa, que não cabe a ninguém julgar porque se presume virtuoso, teve, tem e terá consequências políticas, partidárias e institucionais que devem ser ponderadas e avaliadas.

Por um lado, é óbvio que a decisão de Costa constituiu um enorme frete político à actual maioria, quiçá para pagar o "brinde" do Governo, após o acordo em relação aos terrenos do aeroporto e da Parque Expo, que lhe permitiu reduzir em mais de 40% a dívida bancária da Câmara Municipal de Lisboa;

Por outro lado, a abertura inédita das hostilidades em relação a um secretário-geral em funções, antes de se sujeitar a eleições legislativas, dividiu os socialistas, mas a verdade é que também permitiu que o melhor de uma parte do PS pudesse emergir, respeitando a tradição de um dos partidos fundadores da Democracia.

E o melhor do PS só pode ser regressar à linha da frente do combate contra a corrupção, o nepotismo, o tráfico de influências, a desigualdade, o arbítrio, a opacidade, o clientelismo, ou seja, estar na primeira fila da luta pela mudança.

A disputa no PS é um dos primeiros momentos em que esta batalha vai ser claramente colocada a votos, em que de um lado está a coragem de quem reconheceu que o actual sistema político está falido e quer aperfeiçoar a Democracia, enquanto do outro está a arrogância dos velhos rostos do passado e a defesa da manutenção do status quo pelas razões mais oportunistas e venais.

Neste combate político entre António José Seguro e António Costa qualquer análise descomprometida só pode concluir que o actual líder do PS tem protagonizado a defesa intransigente da mudança nos últimos três anos, não só com palavras, mas com acções e atitudes políticas consistentes.

Embora ambos sejam caracterizados como homens do "aparelho", a verdade é que é preciso distinguir entre os pequenos caciques e os grandes interesses que capturaram os partidos. E, neste caso, também ninguém tem dúvidas relativamente a quem tem afrontado os grandes interesses que têm o PS aferrolhado há demasiado tempo.

Seguro tem dado provas que percebeu a nova realidade social e política que despontou depois da troika varrer Portugal. E também enxergou que um certo estilo de fazer política e de exercer o poder, que colam na perfeição a José Sócrates e António Costa, tem os dias contados, tanto mais que já levou o país ao colapso, em 2011.

Com o surgimento de novos partidos, cujo discurso agrada ao centro, sobretudo aos descontentes da esquerda, ou o PS muda já ou corre o risco de ficar reduzido à mínima expressão.

Que não haja dúvidas: ou o PS aproveita as eleições de 28 de Setembro para mudar de vida, ou ainda vai acabar refém de um pequeno partido para poder regressar rapidamente ao poder.












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