Henrique
Granadeiro e Zeinal Bava são os rostos visíveis do desastre na Portugal
Telecom. Porém, muitos outros, que continuam a ser poupados por uma fortíssima
cortina mediática, têm tantas ou mais responsabilidades na devastação de uma
das melhores empresas portuguesas.
Com
mais ou menos indícios de pressões, jogadas, golpadas, comissões e mensalões, os
socialistas não podem tentar fugir à enorme responsabilidade no que se passou e,
por consequência, está a passar na PT, pois a decisão política andou lado a
lado com a decisão empresarial, tudo embrulhado numa internacionalização com
contornos ainda por explicar.
Uma
rápida consulta aos momentos decisivos da vida da PT não deixam quaisquer
dúvidas sobre as pesadas responsabilidades dos socialistas que ocuparam o poder
nos últimos 19 anos, nomeadamente nos governos de António Guterres e José
Sócrates:
1995:
Primeira fase da privatização;
1996:
Segunda fase da privatização;
1998:
PT adquire a Telesp Celular, em conjunto com a espanhola Telefónica, o primeiro
passo para a constituição, cinco anos depois, da Vivo;
2006:
Sonaecom lança uma oferta pública de aquisição hostil sobre a PT; 2007: Cai a
OPA lançada por Belmiro de Azevedo e Paulo Azevedo;
2010:
Telefónica oferece 5,7 mil milhões de euros pelos 50% que a PT detém na Vivo; accionistas
(74%) aceitam a oferta, mas o Estado usa a golden
share para vetar o negócio; a PT anuncia a venda da Vivo à Telefónica e a
entrada no capital da brasileira Oi.
Não
deixa de ser caricato – mas significativo de uma certa
forma de fazer política – que alguns dos velhos rostos do
PS tenham o topete político, agora, de apontar o dedo acusatório em direcção ao
actual governo, tentando transferir culpas próprias que, possivelmente, um dia
poderão ser apuradas, como, aliás, já pediu Belmiro de Azevedo.
Mais
do que o exemplo em si, pois é preciso não esquecer o que se passou no BCP, entre
outros escândalos financeiros, a estratégia de dissimulação descarada dos socialistas
parece não ter limites, apostando na falta de memória dos portugueses e numa
imprensa cada vez mais débil e instável nos momentos mais importantes do país.
Face
a este cenário, que só não vê quem não quer ou não pode, é importante sublinhar
que o governo de Passos Coelho e Portas apenas esteve presente num momento
decisivo da vida da PT, em 2011, quando o Estado português, por imposição de
Bruxelas, deixou de ter acções com direitos preferenciais.
Valeu
tudo na PT. Aliás, só quem sofre de uma amnésia selectiva é que pode esquecer
que uma parte da família socialista que esteve no poder, sempre benzida pelo Espírito
Santo e continuamente on going, apareceu
envolvida no caso bafiento da tentativa de assalto, em 2009, à TVI.
O
guião deste capítulo das relações entre a política e os negócios não pode
acabar assim, com a singela queda de um par de anjos; não, os portugueses
merecem mais, valem a tentativa de apanhar, em primeiro plano, cada um dos oito
braços do polvo escorregadio e da
lula ziguezagueante.
Os
portugueses até podem esquecer, mas os pequenos accionistas e os trabalhadores
da empresa de telecomunicações certamente não se esquecerão de quem os enganou,
colocou os seus postos de trabalho em risco e até contribuiu para o roubo das poupanças
de uma vida de trabalho.
Quanto
à imprensa, pode ser que ainda consiga levantar a cabeça, abrir os olhos,
investigar e dizer a verdade sobre as cenas do filme da PT, de forma a ainda tentar
salvar o mínimo de credibilidade.
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