A reacção de uma certa
imprensa e de alguns comentadores à detenção de José Sócrates foi e continua a
ser espantosa.
Mas vamos por partes.
Em abono da verdade é
preciso não confundir a árvore com a floresta. Goste-se ou não do estilo e da
forma, honra seja feita a alguns órgãos de comunicação social que nunca
deixaram de fazer o seu trabalho de escrutínio em relação a José Sócrates, antes
e depois de sair do poder, entre os quais é de destacar, em primeiro lugar, o
Correio da Manhã.
Entre os comentadores
e opinion makers a questão é ainda
mais gritante. Entre a ignorância, o cinismo e o dislate há opiniões para todos
os gostos, até há também o rigor e o distanciamento necessários no momento em
que é imperioso distinguir o que está no processo e o que faz parte, e muito
bem, da investigação jornalística, que se pretende livre, independente e
rigorosa.
Talvez pela sua
notoriedade, e até pela sua persistente denúncia da corrupção, o último artigo
de opinião de António Marinho e Pinto é uma enorme desilusão.
Como é possível, nesta
altura, ao jornalista, ao advogado, ao deputado europeu, ao líder partidário falar
em vingança? O que sabe para poder fazer uma afirmação de tal
gravidade ainda antes do ex-primeiro-ministro ter terminado de prestar declarações? Será que tem alguma relação privilegiada com algum dos intervenientes processuais?
Mas ainda mais
espantoso é a súbita fúria contra Carlos Alexandre, magistrado que lidera o Tribunal
Central de Investigação Criminal, conhecido por “Ticão”, e Rosário Teixeira,
procurador do DCIAP. Quase não dá para a acreditar, sobretudo quando ela parte das
prosas daqueles que nunca lhes pouparam severas críticas pelas dúvidas,
morosidade e fracos resultados, leia-se prisões, em relação a outros processos
e personalidades de vulto.
Toda a opinião é bem-vinda ao debate público, mas só falta alguma pena
mais caprichosa vir a terreiro insurgir-se pelo ex-primeiro-ministro não ter
sido detido com chá e scones na passada noite invernosa de sexta-feira, 21 de
Novembro, à saída do avião que o trouxe de Paris.
A detenção de José
Sócrates virou o país ao contrário. E ainda bem. É preciso fazer sair os
coelhos da toca, nomeadamente aqueles que criticam a impunidade reinante no
país e na classe política e a seguir confundem os portugueses com opíparos
pratos de insultos aos magistrados por aplicarem a Justiça, ainda mesmo na sua fase
inicial.
Aqueles que gritam aos
sete ventos que somos governados por corruptos e depois criticam a investigação
criminal quando toca no poder até podem fazer enormes audiências e vender
muitos jornais, mas acabam por se descredibilizar a si próprios e por
introduzir um perigoso ruído na sociedade.
A esquizofrenia que
por aí vai não terá a mínima de influência
sobre Carlos Alexandre e Rosário Teixeira, felizmente habituados a estas
andanças, pelo que se desenganem se julgam que conseguem intimidar quem já deu
bastas provas de competência, isenção e firmeza.
O país deu mais um
passo em frente com a "Operação Marquês", porque a Justiça está a ser
feita, sem um único sinal evidente de abuso, ilegalidade, falta de
proporcionalidade ou desrespeito pelos direitos de defesa dos arguidos.
A Procuradoria-Geral
da República não pode vacilar. Joana Marques Vidal não pode falhar. É preciso
que continue a apostar na libertação da informação possível e em tempo útil para
que o país esteja preparado para receber a decisão do juiz Carlos Alexandre,
sejam os arguidos presos preventivamente, fiquem em prisão domiciliária, saiam
sob caução ou sejam colocados em liberdade.
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