António
Costa, e muito bem, tem recusado participar na farsa – de quem continua a julgar
que uns telefonemas, uma meia dúzia de comunicados e um punhado de jornalistas
fazem milagres –, mantendo a declaração exemplar realizada no momento em que
decidiu visitar José Sócrates.
Ao
afirmar, em 31 de Dezembro passado, a necessidade de meios para a investigação
poder executar o seu trabalho e a garantia dos direitos de defesa, o líder do
PS percebeu, finalmente, que é preciso respeitar o trabalho dos magistrados e dos
investigadores criminais.
É por
isso que é preciso "guardar o guarda"?
Sim,
claro que sim.
Nos
dias de hoje, não há nenhum democrata, digno desse nome, que não pondere sobre
a última fronteira da salvaguarda das liberdades individuais, tendo em conta o
rol de erros judiciários e os constantes abusos do aparelho do Estado.
O
escrutínio da Justiça é sempre necessário e legítimo, contudo é preciso
afirmar, por maior que seja a campanha liderada por ingénuos ou lacaios
colocados antecipada e estrategicamente em lugares-chave, que não há confusão
entre o direito de defesa, consagrado na Lei, e o espalhafato processual e mediático
que uma qualquer defesa usa, na maior parte das vezes em desespero de causa, para
fazer valer a sua tese.
A
liberdade também é isso mesmo: por um lado, acreditar que é possível existir
quem é capaz de estar a cima das partes; por outro, nunca perder de vista a falibilidade
de quem exerce essas funções.
O
coro de órfãos e afins que, subitamente, desataram num coro de aleivosias, umas
mais patéticas do que outras, não valem por si só, pois têm de demonstrar que
as suas verdades têm razões e fundamentos sólidos.
É
preciso afirmar que estes "campeões" chegaram tarde ao debate da
salvaguarda dos direitos dos cidadãos, e só o fazem, agora, por questões
pessoais, pois nunca tinham manifestado idêntico clamor quando estiveram em
causa os mais pobres e desprotegidos com quem nunca se importaram.
A
defesa das liberdades individuais não pode ser uma bandeira apenas quando os
amigos estão em causa. Nem tão-pouco deve ser inquinada pela querela partidária
ou por qualquer outro motivo inconfessável.
Quanto
mais fala o preso número 44 do Estabelecimento Prisional de Évora, mais a investigação
deve esfregar as mãos, tal é o rol de contradições e incongruências, já que
fica clara, para já, a existência de uma campanha de comunicação/vitimização, aliás
muito medíocre.
É
preciso dar tempo ao tempo, distinguir entre o que faz parte do processo judicial
e o resultado da investigação jornalística.
O ex-primeiro-ministro,
felizmente, pode afirmar a sua verdade através da comunicação social,
independentemente do seu patético passado em relação aos jornalistas que nunca
se deixaram intimidar e amordaçar.
De
igual modo, a Justiça continua firme e a fazer o seu trabalho. E surge aos
olhos de todos os cidadãos como a última esperança para acabar com este status quo que tem sido dominado por cândidos,
criados, meliantes, ladrões, oportunistas e demais amanuenses que ainda não conseguiram
perceber que a Democracia nunca tem donos, sejam eles fundadores ou não, de
esquerda ou de direita.
Até
hoje, e salvo melhor opinião, não há um único facto relevante que leve um
cidadão a desconfiar de qualquer abuso relativamente à prisão preventiva do
ex-primeiro-ministro.
Ao rejeitar
o recurso da defesa de José Sócrates que invoca a nulidade do despacho do juiz
Carlos Alexandre que manteve o ex-primeiro-ministro em prisão preventiva, a mais
recente decisão do Tribunal da Relação de Lisboa constitui uma garantia que continuamos
a estar perante um processo limpo e justo.
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