Os
resultados das eleições legislativas de 4 de Outubro revelaram uma cristalina
vontade colectiva dos portugueses, a saber:
O PSD
e o CDS-PP têm toda a legitimidade para governar nos próximos quatro anos;
A
esquerda tem legitimidade para colocar balizas à governação da maioria de
direita, após alcançar uma maioria aritmética no parlamento;
Os
velhos rostos do PS, de Sócrates a Costa, devem afastar-se de mote próprio,
antes que estoirem com o que resta de um dos mais importantes partidos
fundadores da Democracia.
Sejamos
muito claros: há uma certa facção do Partido Socialista que jogou tudo, usou
todos os meios disponíveis e perdeu.
Não
há qualquer dúvida que aqueles que se habituaram a mandar no PS, nas últimas
décadas, estão condenados a desamparar a loja e, a partir daqui, a fazer pela
vida, como qualquer outro cidadão.
Obviamente,
em política, a razão dos factos nunca é assim tão linear, pois ainda vai correr
muita água debaixo das pontes.
A
comunicação social, que andou com António Costa ao colo até o colocar na
liderança do PS, quiçá, com o objectivo de o fazer chegar a São Bento, não vai desistir de justificar e até legitimar
a incompreensível atitude do secretário-geral do PS de ainda não ter apresentado
a demissão.
Os
mesmos que tudo fizeram para enterrar politicamente António José Seguro – que,
agora, até teve tempo para almoçar com a família e ver a bola depois de votar,
ou seja, deve continuar a estar a rebolar a rir –, ainda vão prosseguir a tentar
tudo para sustentar na secretaria os seus interesses pessoais, comerciais e
financeiros, nem que seja à custa de lançar o país na instabilidade.
Ao obedecer
aos barões socialistas que continuam a julgar o Estado e o partido como suas propriedades,
ao vergar em relação ao pior do aparelho do PS e ao pactuar com os interesses que
o acompanham desde o momento em que avançou para a Câmara de Lisboa, António
Costa há muito que tinha deixado de ter condições para ser uma verdadeira
alternativa.
Assumir
o melhor e o pior do passado do PS é digno, merece respeito democrático, mas
tal não significa branquear a história e a realidade.
Pior
do que não assumir os erros foi tentar habilidosamente conviver com eles para manter
o poder a qualquer custo, tomando os portugueses por parvos, como se a táctica
em política fosse igual a uma qualquer estratégia instrumental que mais não é
do que a política infantil dos truques.
António
Costa começou a perder a partir do momento em que julgou que era possível enganar
os portugueses com posições dúbias em relação ao passado e ao presente, afirmando
o caminho do futuro com opções meramente oportunistas.
Os constantes
zigue-zagues de António Costa não foram resultado de inépcia, falta de experiência
ou de qualquer erro involuntário na campanha eleitoral, mas sim da mais
profunda ausência de rumo, convicção e ética republicana.
Bastou
assistir à sua declaração embaraçada e atabalhoada, após a divulgação de uma
das mais estrondosas derrotas do PS, para perceber que o adeus, ao velho PS, é
apenas uma questão de tempo.
E, ou
emerge um novo PS, rapidamente, antes das eleições presidenciais, ou então o
partido corre o risco, novamente, de implodir a curto prazo.
A
ambição pessoal sem limites não colheu: António Costa, o último
secretário-geral do velho PS, perdeu e mereceu perder.
E,
já agora, em nome da dignidade democrática, não pode faltar a uma última
promessa: regresse ao escritório de advocacia, pegue na toga e defenda todos
aqueles que não têm meios para aceder à "justiça" que ajudou a
construir nos últimos 16 anos.
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