segunda-feira, 29 de abril de 2019

EM BREVE


ESQUERDA E FIM MERECIDO


Listas de espera nos hospitais? 

Pensionistas e reformados que não recebem a horas? 

Nada disto parece incomodar a esquerda em Portugal, a avaliar pelo novel debate instalado sobre as PPP's da Saúde.

Aparentemente, o que mais preocupa esta esquerda que nunca esquece de  ostentar o cravo vermelho, mesmo quando ignora os seus valores, é abrir uma guerra aos privados, quando o problema não são os privados mas as negociações que o Estado e os privados concluíram para a construção de hospitais absolutamente necessários para suprir as carências existentes.

Já alguém perguntou a esta esquerda o que teria acontecido se os hospitais de Braga, Cascais e Vila Franca de Xira - considerados os melhores do país - não existissem?

Importa também recordar que as PPP's da Saúde são uma solução financeira para Estados falidos que não têm dinheiro para levar por diante os investimentos fundamentais para garantir as necessidades das populações.

E, como tudo na vida, tudo tem um custo, quando não se está à altura das exigências mais basilares.

E, já agora, será que a denúncia da Provedora da Justiça, relativamente aos escandalosos atrasos no pagamento de pensões, já foi varrida para debaixo do tapete?

Com uma oposição mais virada para o show inconsequente do que para o lançamento de um debate sério sobre os terríveis constrangimentos que estão à vista, não é de admirar que a ignomínia continue a vingar na maior impunidade.

Tanto mais que a generalidade da imprensa continua atolada na sua própria contradicção editorial de ter optado pelo infotainment para sobreviver, paradigma que, apesar de se ter revelado falso, continua a imperar.

A esquerda portuguesa está de cabeça perdida: uns por terem abraçado a extrema esquerda; os outros por estarem a apoiar a governação de uma certa esquerda cada vez mais insensível e aburguesada; e, sobretudo, por ambos ignorarem o fundamental que levaram a maioria dos portugueses a votar neles.

Uns e outros pagarão o preço deste absurdo ideológico, político e social mais tarde ou mais cedo, pois não há nada mais importante do que o dia-a-dia dos cidadãos, de quem tem direito a ter saúde, pensão e reforma, mas nem sequer tem garantido e a horas nenhum destes direitos.

Enquanto em Espanha a esquerda recupera, será que, em Portugal, esta esquerda da treta terá um triste e merecido fim, ou seja, ser corrida do poder por muitos e bons anos?

quarta-feira, 24 de abril de 2019

ANTÓNIO COSTA PODE PERDER?



Em vésperas de eleições as frases inflamadas dignas de comícios, as quais revelam sempre algum desespero político, são típicas de apparatchiks.

Se não vejam bem: «Peço a todos e a todas que nos mobilizemos mesmo a sério, porque estas eleições europeias são tão decisivas como foram as autárquicas de há dois anos, são tão decisivas como as legislativas de Outubro».

Face a estas intervenções comicieiras muitos têm sido aqueles que revelam uma certa estranheza pelo facto de António Costa estar a meter a carne toda no assador relativamente às próximas eleições europeias.

Quem diria, o primeiro-ministro, com mais fama do que proveito de calculista exímio, a colocar assim a cabeça no cepo das urnas...

A verdade é outra: António Costa sabe bem que não pode voltar a perder nas urnas.

E precisa de legitimidade eleitoral como pão para a boca.

Como sempre, e durante toda a sua carreira política, Costa vergou os interesses do país aos seus interesses, ainda que, obviamente, pessoal e politicamente legítimos.

Ora, um dia vai dar-se mal.

Certamente voltará a inventar um novo coelho a sair da cartola, com a complacência da generalidade dos Media e da opinião publicada, mas desta vez, a próxima vez, não será a mesma coisa.

António Costa bem o sabe.

E não quer, nem pode, perder a oportunidade, sobretudo tendo Rui Rio à mão de semear em qualquer estação.

Resta saber se os cidadãos também concordam que a carreira do senhor Costa é mais importante que o país.

A não ser, quem sabe, que o Diabo não exista mesmo...



quinta-feira, 18 de abril de 2019

GREVE, POLÍCIAS E SECRETAS


Depois do choradinho do país apanhado descalço por umas centenas de trabalhadores de transporte de matérias perigosas, sem a correspondente responsabilização dos ministros que tutelam o sector, eis-nos face ao início de mais uma grande surpresa: a glória do governo de António Costa no momento do anúncio do fim da greve.

Nem mesmo o país ter parado de um dia para o outro, com as estações de serviço sem combustíveis, as reservas nos aeroportos nos mínimos, parece ser motivo de forte censura e escrutínio redobrado do Executivo.

Claro que é bem mais fácil e simplista atirar as culpas para os patrões e trabalhadores e ignorar que para os governantes o que importa é Lisboa e Porto.

Agora, passada a turbulência, importa avaliar a tese benigna do governo desprevenido, porque, pasme-se, aparentemente, não foi só o governo e a comunicação social que foram surpreendidos.

Também as polícias e os serviços de informações são incluídos no pacote.

Há um delírio no ar que ultrapassa todos os limites.

Quando é aventado que as polícias e as secretas deviam ter vigiado trabalhadores no exercício de um direito constitucional, então é caso para afirmar que há muita gente de cabeça perdida no seio de uma esquerda cada vez mais sectária e falida.

Para a história ficará: por um lado, mais uma prova de mudança no mundo sindical, com trabalhadores que não se reveem nas velhas estruturas partilhadas pela esquerda e direita e que demonstram indiferença em relação aos tradicionais partidos, associações e demais movimentos; por outro, a insultuosa protecção ao actual governo de António Costa.

Pode ser que esta greve mude muito mais do que a relação de forças entre governo, trabalhadores e patrões, quem sabe até obrigar ao debate público de uma revisão da Constituição da República para acabar com a actual farsa, assumindo e consagrando que há determinadas profissões que não têm o pleno direito à greve.

domingo, 14 de abril de 2019

JORNALISTAS E WHISTLEBLOWERS


Um ser humano que resiste quase sete anos confinado a uma embaixada, cercado pela polícia e por agentes dos serviços de informações, não pode ser tratado como um vulgar ladrão.

A prisão de Julien Assange é mais uma oportunidade para colocar à discussão pública em que tipo de sociedade queremos viver: a do Estado omnipresente ou a de uma cidadania capaz de escrutinar o poder, seja ele qual for.

Obviamente, não há ninguém que seja apologista de uma espécie de ditadura com mais ou menos verniz democrático, pelo que a questão deve ser colocada na forma e nos meios usados para examinar o Estado e os seus braços ao nível da governação e da sociedade.

Os caminhos são diversos, desde a legitimação de um pântano para extirpar outro pântano até ao combate ao crime sem ter de ser criminoso.

O reforço dos meios da investigação dos órgãos criados em Democracia, com directrizes claras e definidas, não serão o melhor caminho?

Obviamente, sim.

Mas não chega, não tem chegado.

E isso, sim, é a questão fundamental, a porta aberta a todo o tipo de populismos, da esquerda à direita.

Este é o paradigma que os jornalistas enfrentam, diariamente.

O jornalismo moderno não pode sucumbir à tentação de  transformar-se numa espécie de conjunto de hackers disponíveis para invadir os sistemas públicos e privados, visando arranjar mais uma "cacha".

Além de perigoso, o caminho pautado pela máxima dos fins justificarem os meios apenas levaria a um atoleiro ainda maior do que aquele em que alguns vivem, hoje, confortável e tristemente.

O encanto do jornalismo é descobrir e publicar aquilo que alguns não querem nem gostam de ver tornado público, independentemente da origem da informação.

Para isso, para avaliar a forma como qualquer documento foi obtido, lá está a opinião pública e as autoridades instituídas para investigar, acusar e julgar.

Não, os jornalistas nunca poderão ser Assange, Snowden ou Manning,

Nem mesmo ponderar pisar o risco como os whistleblowers. Ainda que possam usar os resultados da sua actividade, apenas e excepcionalmente em prol do interesse público, um valor superior pelo qual qualquer jornalista, digno desse nome, em consciência, está sempre disposto a pagar o preço.

Que não fiquem quaisquer dúvidas: "Luxleaks", "Panama Papers", "Paradise Papers", "Dieselgate e "Cambridge Analytica", para só falar nos escândalos mais recentes, são demasiado importantes e graves para serem desvalorizados ou ignorados.

É no quadro desta realidade dantesca que a União Europeia prepara o reforço da protecção dos whistleblowers a nível da UE, elaborando uma proposta de directiva para a protecção de pessoas que denunciem infracções ao direito da União. 

E é no seguimento desta opção que a comunicação social deve estar atenta e apostar no reforço do jornalismo de investigação, reconhecendo as suas vulnerabilidades e limites. 







quarta-feira, 3 de abril de 2019

RUI PINTO E A MALTA QUE NÃO FAZ FALTA


Rui Pinto é um cândido opositor do sistema?

Um extorsionário de café?

Um hacker à procura de estatuto de whistleblower?

A bazófia já lhe custou ser apanhado na Hungria e preso em Portugal, mas a saga do informático é muito mais do que alguns imaginam.

Porém, os apoios que reuniu à sua volta, por diferentes razões e objectivos, tornaram este "piratinha" um caso sério.

A credibilidade de Ana Gomes, nacional e internacional, conferiu-lhe a visibilidade e a projecção mundiais que estão a fazer tremer os mais variados poderes.

Tal como aconteceu com Assenge e Snowden é exigível uma ponderação sobre os crimes que eventualmente praticou e o que, do alto da sua hiperactividade juvenil, descobriu efectivamente sobre a malta que não faz falta.

A discussão já não pode ficar, ainda que legítima, pelo debate centrado na eventual extorsão ou no princípio de que os fins não justificam os meios.

E, como sempre, não há nada como uma boa investigação e auditoria para saber quem é quem, com seriedade e rigor, com todo o tempo do mundo.