quarta-feira, 19 de junho de 2019

FUTEBOLIZAÇÃO DO PAÍS


Num país cada vez dual, em que a macroeconomia nos dá tantas alegrias e o dia-a-dia das pessoas rasga a nossa esperança, porventura é hora de começar a repensar o presente e o futuro.

Ultrapassada a novela da Lei de Bases de Saúde, mais uma para entreter a malta que transita para próxima legislatura, talvez seja a hora de verdadeiramente começar a tratar de todos aqueles que precisam de cuidados de Saúde e que esperam meses e meses para receber as reformas, entre os quais os mais idosos atirados para níveis de sobrevivência e miséria humilhantes.

Com cidadãos mais educados e uma imprensa livre seria de esperar outra atitude face ao poder, este ou qualquer outro, de mais mobilização, de mais escrutínio e de mais exigência, combatendo sem tréguas as muitas e muitas outras iniquidades que o país vai escandalosamente tolerando.

Porém, a realidade é outra.

Ainda temos dentro de nós o bichinho salazarento do sempre obrigados, remediados e venerandos.

E continuamos a ter Fado, Fátima e Futebol.

Aliás, a galopante futebolização do país impressiona...

Por todo o lado, do café ao restaurante, da escola à universidade, do Parlamento à visita oficial e de Estado, nascem metáforas futebolísticas, mais ou menos elaboradas, como se a vida começasse e acabasse num jogo de futebol.

Até temos o bombardeamento de notícias sobre os milhões e milhões das transferências arrecadadas com os craques da bola, num exercício medíocre de soma de parcelas, sem um segundo de arrojo e desassombro para questionar a origem de tanto dinheiro.

Talvez seja mais cómodo...

Muito mais cómodo do que pegar numa caneta, num microfone e numa câmara de filmar para percorrer as urgências hospitalares, os balcões da Segurança Social, entre outros.

Estimular a massa cinzenta no presente tempo, de forma a podermos raciocinar como foi possível ter chegado a este ponto, talvez seja demasiado arriscado.

Ah, o calor já está aí à porta...

Com mais ou menos expediente, legal, ilegal ou criminoso, indivíduos e famílias lá vão aguentando...

E - viva o palhaço bem-falante! - tudo fica adiado, novamente, até à chegada do tempo mais frio...

Talvez o futuro seja ainda mais futebol e, já agora, a grande conquista de um país sem beatas, enquanto quase tudo à volta está podre e começa a dar sinais de colapso iminente...





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