Marcelo Rebelo de Sousa venceu.
Mas quem ganhou politicamente foi António Costa, porque garantiu a reeleição do presidente que melhor o serve, fomentou o enfraquecimento e a divisão da Esquerda que não controla e conseguiu esfrangalhar a Direita.
O presidente reeleito teve mais votos do que em 2016, mas representa apenas menos de um quarto dos eleitores quando está diminuído pela responsabilidade partilhada de mais de 10 mil mortes provocados pela pandemia.
Aqueles que apostaram na estabilidade, como solução para todos os estrangulamentos, venceram em toda a linha.
Resta saber a que custo.
O segundo vencedor foi André Ventura, a verdadeira "estrela" da noite eleitoral.
A sua diabolização falhou.
Em vez de o desconstruir e de se focarem no escrutínio dos reais problemas dos portugueses, na clarificação do papel do presidente da República, mais uma vez ficaram pelo agitar da bandeira do fascismo.
Os três candidatos que deram assumida e dignamente a cara pelo que resta da Esquerda apostaram numa estratégia que já havia falhado, mutatis mutandi, com Manuel Alegre em 2011.
E acabaram por atirar os eleitores para o colo ilusoriamente seguro de Marcelo Rebelo de Sousa que se limitou a continuar a sorrir, pacientemente, indiferente a mais um papão que os portugueses já não papam.
O último vencedor da noite foi Ana Gomes que, com a determinação que se lhe reconhece, assumiu uma legitimidade ímpar que ainda vai dar muitas dores de cabeça a Marcelo e Costa.
Mais uma vez, na hora de decidir, os portugueses asseguraram mansamente a continuidade, apesar de todos os sinais de apodrecimento do regime.
Em vez de fazer o caminho da mudança, os portugueses optaram por mais do mesmo, pelo arrastar de um país bloqueado e incapaz de se recriar a partir das urnas.
A reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa é a vitória em toda a linha do "centrão" político e dos interesses que têm pavor de Ana Gomes e ainda continuam a olhar para André Ventura com a sobranceria de quem tem o poder e controla o Estado e o seu aparelho.
Com uma dívida pública gigantesca, sinais alarmantes de abuso e corrupção, com a pandemia descontrolada e uma crise terrível à vista, os mais de 10% de votos do líder do Chega vão ecoar a dobrar nos corredores da política.
O desastre está novamente ao virar da esquina.