Os silêncios sobre a morte de Valentina Bernardo, a saga à volta de Mário Centeno, o apoio do primeiro-ministro ao "candidato" Marcelo Rebelo de Sousa e o arraso de um tribunal ao tiranete Vasco Cordeiro representam um patamar nunca visto na vida política e institucional.
É que choca a indiferença de António Costa e de Marcelo Rebelo de Sousa em relação à incúria gritante na protecção de menores.
E também choca a "perseguição" orquestrada contra Mário Centeno.
Ainda choca mais que o primeiro-ministro tenha o atrevimento institucional de fazer uma declaração de apoio à recandidatura do actual presidente.
Mas o que choca realmente é um cidadão ter de enfrentar sozinho o abuso decretado pelo Governo dos Açores, sem que tenha contado com qualquer intervenção e apoio dos órgãos de soberania ou do Ministério Público para reporem a legalidade.
De facto, Costa e Marcelo andam inebriados...
E, aparentemente, até já meteram o MP no bolso...
Com o aparente sucesso dos truques governamentais e do folclore presidencial, mais esquema menos esquema, ambos têm avançado para terrenos politicamente inimagináveis por falta de comparência de quem tem o dever de os enfrentar de frente.
Talvez porque quem tenha o dever de o fazer tenha medo que eles sejam a nova lei que tudo permite.
Felizmente, na última semana, dois acontecimentos vieram repor alguma normalidade e dar esperança no normal funcionamento das instituições.
Por um lado, Mário Centeno, de uma penada, arrasou a credibilidade de Costa e Marcelo, não tendo sequer receio de lhes chamar irresponsáveis, um "independente" que travou mais um joguinho de quem se comporta como os novos donos disto tudo.
Por outro, face ao descaramento político de Costa, que julga poder subjugar o partido, reduzindo-o à insignificância, Ana Gomes teve a dignidade de defender o PS que existia antes do governo liderado por Sócrates e Costa.
E prometeu reflectir sobre uma candidatura às presidenciais de 2021.
Não vale tudo, nem em tempos de pandemia...