Um ser humano que resiste quase sete anos confinado a uma embaixada, cercado pela polícia e por agentes dos serviços de informações, não pode ser tratado como um vulgar ladrão.
A prisão de Julien Assange é mais uma oportunidade para colocar à discussão pública em que tipo de sociedade queremos viver: a do Estado omnipresente ou a de uma cidadania capaz de escrutinar o poder, seja ele qual for.
Obviamente, não há ninguém que seja apologista de uma espécie de ditadura com mais ou menos verniz democrático, pelo que a questão deve ser colocada na forma e nos meios usados para examinar o Estado e os seus braços ao nível da governação e da sociedade.
Os caminhos são diversos, desde a legitimação de um pântano para extirpar outro pântano até ao combate ao crime sem ter de ser criminoso.
O reforço dos meios da investigação dos órgãos criados em Democracia, com directrizes claras e definidas, não serão o melhor caminho?
Obviamente, sim.
Mas não chega, não tem chegado.
E isso, sim, é a questão fundamental, a porta aberta a todo o tipo de populismos, da esquerda à direita.
Mas não chega, não tem chegado.
E isso, sim, é a questão fundamental, a porta aberta a todo o tipo de populismos, da esquerda à direita.
Este é o paradigma que os jornalistas enfrentam, diariamente.
O jornalismo moderno não pode sucumbir à tentação de transformar-se numa espécie de conjunto de hackers disponíveis para invadir os sistemas públicos e privados, visando arranjar mais uma "cacha".
Além de perigoso, o caminho pautado pela máxima dos fins justificarem os meios apenas levaria a um atoleiro ainda maior do que aquele em que alguns vivem, hoje, confortável e tristemente.
O encanto do jornalismo é descobrir e publicar aquilo que alguns não querem nem gostam de ver tornado público, independentemente da origem da informação.
Para isso, para avaliar a forma como qualquer documento foi obtido, lá está a opinião pública e as autoridades instituídas para investigar, acusar e julgar.
Não, os jornalistas nunca poderão ser Assange, Snowden ou Manning,
Nem mesmo ponderar pisar o risco como os whistleblowers. Ainda que possam usar os resultados da sua actividade, apenas e excepcionalmente em prol do interesse público, um valor superior pelo qual qualquer jornalista, digno desse nome, em consciência, está sempre disposto a pagar o preço.
Que não fiquem quaisquer dúvidas: "Luxleaks", "Panama Papers", "Paradise Papers", "Dieselgate e "Cambridge Analytica", para só falar nos escândalos mais recentes, são demasiado importantes e graves para serem desvalorizados ou ignorados.
É no quadro desta realidade dantesca que a União Europeia prepara o reforço da protecção dos whistleblowers a nível da UE, elaborando uma proposta de directiva para a protecção de pessoas que denunciem infracções ao direito da União.
E é no seguimento desta opção que a comunicação social deve estar atenta e apostar no reforço do jornalismo de investigação, reconhecendo as suas vulnerabilidades e limites.
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