Continuamos a sorrir ainda que sabendo que em todo o
mundo morreram 52 milhões de pessoas de fome ou de doenças causadas pela fome
em 2019.
Hoje, ninguém se atreverá a adiantar como acabaremos
em 2020 e nos anos seguintes.
Certeza só há uma: para mantermos o way of
life, os governantes não podem continuar cinicamente a fazer de conta que
não conhecem as condições de vida dos mais pobres e dos trabalhadores
imigrantes.
É que a propagação, já de si exponencial, é ainda mais
agravada entre todos aqueles que vivem em condições infra-humanas, económicas e sociais.
Já não basta viver num país rico ou num condomínio
fechado, tentando esconder uma realidade que, afinal, todos conhecem e ignoram.
A existência de barracas, de exploração desumana e de
exclusão associados a um sistema de saúde obsoleto e a transportes públicos
medíocres deixaram de ser admissíveis porque não fazem parte de uma equação de
futuro com esta ou uma qualquer outra pandemia.
Os governantes, sempre ao serviço de clientelas e
dos mais poderosos, obviamente com um sorriso estampado e o discurso pio com os
mais desvalidos, têm de passar a olhar para as desigualdades com olhos de ver.
Afinal, regalar os olhos com as luzes de Hollywood,
estender a toalha na praia de Copacabana ou fazer de conta que Portugal é o
litoral do turismo já não é mais possível e seguro, pois os surtos explodem em
todas as latitudes onde impera a miséria.
Os 70 milhões de
americanos a viver em condições de pobreza, os 11,4 milhões de brasileiros
distribuídos por 6.329 favelas e ainda o facto de os imigrantes serem as
principais vítimas (23,4% dos imigrantes infectados na região de Lisboa) exigem
respostas prontas e eficazes.
A acefalia e o
egoísmo generalizados, nutridos por uma globalização selvagem assente num
consumismo desenfreado, têm os dias contados, pois ninguém admite viver durante
muito tempo com máscara e medo.
E se a resposta
tem de partir de cada país, também é verdade que a actual globalização não pode
conviver com esta franja de potenciais "bombas" ao retardador.
Num contexto de
pandemia, a "maioria", a tal que da Esquerda à Direita vive
confortavelmente, não pode continuar a manter o seu status de
vida com a actual realidade da "minoria" de pobres e imigrantes.
Num país que há
séculos insiste em construir a casa pelo telhado, a chuva de milhões e milhões
que vem da Europa é uma oportunidade única para reconstruir Portugal sobre
pilares sólidos, a partir das infraestruturas básicas, da saúde, da educação e
do combate à exclusão.
Os cenários
macroeconómicos e os mega projectos já não são suficientes para manter um mundo
de ilusões.