domingo, 16 de maio de 2021

MÉDIO ORIENTE (CONTINUA) A ARDER

 

As imagens da guerra são sempre brutais, por muitas que sejam repetidas.

E quando se fala do Médio Oriente, então a banalização é ainda mais gritante e perigosa desde os fins do século XIX.

Dos 17 países que compõem esta zona do mundo, os mais ricos continuam a ser os mesmos e os mais pobres crescem em número.

Entre os mais ricos, Israel, Irão e Turquia continuam a prosperar e a mandar, enquanto os mais destruídos — Iémen, Iraque, Líbano, Palestina e Síria — continuam a empobrecer e a vergar aos interesses das grandes potências.

Não há nada que não tenha já sido dito sobre a necessidade de paz numa das regiões mais flageladas pela guerra.

E não faltaram iniciativas e acordos internacionais para tentar acabar com a carnificina a céu aberto. 

Mas tem faltado vontade política em acabar de vez com este confronto secular e religioso.

E tardam políticas de desenvolvimento para a região.

Quanto maior for o subdesenvolvimento e a pobreza, maior será a possibilidade de eternização desta economia da guerra, que alimenta as indústrias de armamento, sacrificando sucessivas gerações.

Como sublinha Yair Wallach, no The Guardian, «Os palestinianos permanecem no controle do lugar mais sagrado do país para muçulmanos e judeus, não por meio de força militar ou negociações diplomáticas, mas simplesmente por continuarem lá, com a autoridade moral que isso confere».

A generalizada indiferença, perante um conflito que se tem perpetuado nos tempos, traduz o desrespeito pela História e um insuportável falhanço da Humanidade.

E não se diga que a barbárie não é conhecida de todos.

Hoje, com a Internet, é possível seguir, quase em tempo real, ao fanatismo e ao belicismo das partes, bem como ao número de mortos e feridos inocentes que tombam, diariamente, às mãos de carrascos sem perdão.

Com Portugal a presidir ao Conselho da União Europeia, a 27, e António Guterres a liderar a ONU, aparentemente nada mudou em relação ao Médio Oriente que continua a arder.

É preciso fazer a diferença e lutar com imaginação para abrir os canais da civilização.





segunda-feira, 10 de maio de 2021

AGORA É ÀS CLARAS


Em Janeiro passado, o país foi sacudido pela notícia da vigilância a dois jornalistas a mando do Ministério Público.

Dois meses depois, o Conselho Superior de Magistratura, com dois votos contra (Maria João Antunes e José Manuel Mesquita), arquivou a investigação aberta às duas mandantes, Andrea Marques e Fernanda Pego, procuradoras do DIAP de Lisboa.

Agora, sabemos: dois jornalistas são acusados de violação de segredo de justiça; e Pedro Miguel Fonseca, coordenador da PJ, foi acusado de abuso de poder, violação de segredo de justiça e falsidade de testemunho.

Temos de passar a admitir o que alguns já sabiam há muitos anos: os jornalistas deixaram de ter condições para garantir a confidencialidade das suas fontes, ou seja, não podem exercer a sua profissão com liberdade e rigor.

A missão está cumprida para este tipo de "vigilantes" do regime, e certamente será premiada na primeira oportunidade, tal e qual como outros foram parar aos "cheques carecas" por investigarem o que não convinha ao poder político.

Surpresa?

Nenhuma, basta lembrar Assange Manning e Snowden.

E Rui Pinto?

Isso é uma conversa que ainda não terminou.

Felizmente, o que todos ficámos a saber da "Operação Lex", "e-Toupeira" e "emails do Benfica", notícias de inquestionável interesse público, continua publicado para quem quiser ler.

E provar que um encontro casual serviu para passar informação protegida pelo segredo de justiça é matéria delirante que se deixa para os tribunais, porque lhes caberá julgar.

Mas perseguir um crime à custa de um outro crime é seguramente uma cobardia revoltante.

Aparentemente, já não são precisos reformados, polícias que se confundem com assaltantes e agentes secretos, sobretudo depois do último "trabalhinho" de escutas ilegais ter corrido mal.

Agora, nesta Democracia de todas as esquerdas, a liberdade de imprensa é perseguida às claras.

E o que fazem presidente e primeiro-ministro?

Telefonam, tomam posição, criticam?

Não, calam!

A eleição de alvos individuais já não é suficiente.

À cautela todos passam a levar com o que resta desta Justiça cada vez mais injusta.

E, quando se esperava uma censura firme, eis que o insulto público é apenas "suscetível" de constituir uma ameaça.

Entretanto, agora como no passado, as empresas de comunicação social, de joelhos em relação ao Estado, lá vão despedindo, liquidando a informação e até dando uma no cravo outra na ferradura quando agridem os jornalistas.

A tese de que vale tudo quando a imprensa chega perto e incomoda, sobretudo quando estão em causa os podres do Estado, está a ser validada no dia-a-dia, mesmo à nossa frente.

Ainda não mandam matar jornalistas, só lhes batem e humilham, mas ficaremos por aqui?

A porta passou a estar aberta para jornalistas curiosos em relação a outros encontros, desde que, obviamente, ocorram na esquina da rua, na soleira do escritório, em frente a um prédio.

Ainda vamos ter de voltar a engolir papel, enquanto os filmes vão passando.

P. S. O comunicado da direcção de informação da RTP é uma excepção à regra por ser exemplar.