segunda-feira, 27 de junho de 2022

UCRÂNIA: JANELA PERDIDA



Mais de 4 meses depois da agressão e da invasão liderada por Vladimir Putin, os ucranianos continuam a tombar.

Apesar da propaganda, desde os apoios humanitários ao fornecimento de armas, a verdade é que os russos continuam a avançar.

Resta a vitória europeia de atribuir à Ucrânia o estatuto de candidato à adesão da União Europeia.

Com as sociedades europeias a sentir verdadeiramente os efeitos da guerra, a partir de Setembro, a inevitável contestação à perda de poder de compra poderá fazer a diferença.

Os franceses já deixaram um aviso.

Não compreender que a janela de oportunidade para derrotar o ditador se está a esgotar é um gigantesco erro de percepção.

Putin pode impor aos russos mais fome, miséria e silêncio, mas as democracias ocidentais dificilmente conseguirão travar a contestação social que se avizinha a curto prazo.

Jogar a solução da Guerra na Europa no médio e longo prazo pode ser fatal para a Rússia, mas também é um risco demasiado perigoso para as sociedades europeias.

O sentimento de não estar a ser feito tudo deixa um gosto amargo.

Talvez seja mais fácil compreender a reacção dos “pacifistas” e “comissionistas” a cada anúncio de mais um apoio ao povo ucraniano, a cada barreira erguida contra a impunidade russa.

Os 120 dias perdidos são um incentivo para o ditador, um álibi para mais negociatas internacionais, uma ameaça para as democracias e uma condenação para os países mais pobres.

 

 

 


segunda-feira, 20 de junho de 2022

QUANDO A RAZÃO DE ESTADO MATA


Um certo estilo de vida e o conforto das sociedades ocidentais dificilmente continuarão a florir à custa dos negócios manchados de sangue e corrupção.

A autorização do Reino Unido para a extradição de Julian Assange para os Estados Unidos da América é uma ameaça à liberdade ao nível da agressão e da invasão da Ucrânia pelas forças militares de Vladmimir Putin.

Tal e qual como é ultrajante a perseguição a Edward Snowden e a prisão de Alexei Navalny, por maior que reine o silêncio politicamente cobarde.

Seja qual for o país e o regime político não há um único ser humano digno desse nome que aceite tais monstruosidades políticas e legais.

O cartão amarelo dos franceses a Emmanuel Macron, retirando-lhe a maioria absoluta parlamentar, prova que o cinismo político também pode – e deve! – ser derrotado.

Como bem sublinhou Ana Gomes, propalar a defesa dos valores ocidentais ao mesmo tempo que, por exemplo, o grupo de armas francês Thales continua a trabalhar para os russos comprova como a razão de Estado pode criminosamente continuar a matar.

Aliás, um olhar para o passado recente – de um lado, Hitler, Stalin e Pétain; do outro, Luther King, Mandela e Xanana – corrobora que as potências mundiais e os seus líderes também podem ser derrotados, e até humilhados, quando espezinham os limites civilizacionais.

A defesa da liberdade não começa e acaba no apoio financeiro, no envio de armas e no acolhimento da Ucrânia na União Europeia.