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segunda-feira, 19 de agosto de 2024

PAREM DE CHATEAR OS CIDADÃOS


O tempo tudo permite desmascarar e aclarar.

O primeiro-ministro não pode conviver tranquila e sorridentemente com as urgências fechadas, com a crescente insegurança urbana e com os mais excluídos à mercê de uma migalha extraordinária.

Há linhas vermelhas que a cidadania tem de impor ao poder, aos eleitos que servem de fachada para os não-eleitos mandarem na sombra, pois no mundo actual já não há diferença entre a esquerda e a direita.

O embuste na Venezuela está tão maduro quanto a rábula de justificar a imigração descontrolada com razões humanitárias.

Após o achamento de uma roupagem solidária para o negócio mais vil do século XXI – a perpetuação da exploração selvagem de mão-de-obra –, o truque está à vista.

Para estes “corações de ouro”, ao serviço das redes criminosas por acção ou omissão, isto é business as usual.

Da imigração à liberdade de expressão, das alterações climáticas à alimentação, escola, habitação, justiça, saúde e segurança, tudo tem servido para justificar a governação de plástico à custa de abusos, excessos e oportunismos.

Quando o Estado obriga os imigrantes a esperar anos a fio por um documento de legalização, então está apenas a concorrer com as máfias de tráfico de seres humanos.

Quando o Estado ameaça a liberdade de expressão, então está apenas a tentar mascarar os seus crimes.

Quando o Estado obriga os mais pobres a pagar a factura das alterações climáticas, então está apenas a proteger as suas clientelas e elites.

Quando o Estado abandona os cidadãos nas áreas sociais e de soberania, designadamente no SNS e na paz do dia-a-dia, então estamos a caminho de um novo modelo de ditadura.

Para salvar o regime democrático e o modo de vida ocidental é preciso mais do que defender as redes sociais e denunciar a corrupção ao mais alto nível do Estado.

É preciso enfrentar a impunidade de quem governa, das negociatas aos truques modernaços, combater a voragem da indústria militar, que arrebanhou os idiotas úteis do Kremlin e do Hamas, e travar a selvajaria chantagista da indústria farmacêutica.

Pedalem à-vontade, mas parem de chatear os cidadãos.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

DESORDEM GERAL


Os tempos estão cada vez mais perigosos para quem quer manter e impingir o insustentável e o inadmissível.

Basta ver e rever o que se está a passar no Reino Unido, designadamente com Keir Starmer a ameaçar e a mandar prender por delito de opinião.

Não se tratam de epifenómenos, muito pelo contrário, como atestam os aterradores casos de detenção em França e na Alemanha de quem manifesta apoio aos palestinianos.

Não admira que Israel tenha realizado pelo menos 17 ataques a escolas em Gaza no último mês, com mulheres e crianças mortas para exibir à comunidade que não quer ver, escutar e denunciar as atrocidades.

Nem espanta que Nicolás Maduro exiba o carácter repressivo e sanguinário de uma ditadura que tem condenado os venezuelanos à miséria.

Também não surpreende que Vladimir Putin tenha invadido e continue a massacrar os ucranianos.

A nível nacional, os sinais de desvario político de Luís Montenegro também são preocupantes, negando a evidência do falhanço do plano de emergência da Saúde para o Verão.

Esta repetida situação dantesca só é possível com Marcelo Rebelo de Sousa diminuído e acantonado nas malhas do caso das gémeas.

Aliás, por mais visitas cirúrgicas às instituições que o incomodam institucional e pessoalmente – DCIAP (2016 e 2019) e Hospital Santa Maria (2024), – entre outras, a autoridade presidencial sai ainda mais enfraquecida.

Em todos estas situações de desordem geral há um padrão: a violação dos mais elementares direitos individuais.

O arbítrio, a repressão e a propaganda têm sido as respostas aos problemas e anseios dos cidadãos, como se fosse possível abafar a realidade em pleno século XXI.

A violência policial, o apoio aos Media que se deixam controlar e a diabolização das redes sociais são apenas paliativos, para manter uma situação desesperada, condenados ao fracasso.


segunda-feira, 13 de maio de 2024

O CHARCO E A GUERRA


A corrupção tem servido como lubrificante para intensificar a máquina da globalização – Estados nacionais, empresas, ONG’s, organismos supranacionais e mercado financeiro.

As duas guerras em curso, russa na Ucrânia e israelita em Gaza/Rafah, estão a comprová-lo a cada dia que passa.

A sobrevivência da economia e das finanças russas, apesar das sanções dos Estados Unidos da América e da União Europeia, incluindo o afastamento do sistema “SWIFT" desde Junho de 2022, não deixa dúvidas.

No caso de Israel, o isolamento diplomático também não compromete o que quer que seja, nem o dedo no gatilho.

Com sistemas financeiros alternativos, como por exemplo o russo “SFPS” (System for the Transfer of Financial Messages), e o chinês “CIPS” (Cross-Border Inter-Banking Payment System), o modelo de globalização ocidental continua a rolar as usual.

Nada, nem as ligações do Deutsche Bank a Putin bastaram para quebrar o ciclo vicioso, em que os Estados, a banca internacional, as grandes multinacionais, as máfias e os terroristas convivem e partilham os lucros nos bastidores.

A globalização de mais humanidade e justiça rapidamente se transformou num charco de democracias, ditaduras, assassinos e demais tubarões de todas as raças, credos e cores, em que democratas-cristãos, liberais, social-democratas e socialistas se confundem.

O resultado esta à vista: mais guerra, mais fome, mais e mais milhares de mortos e mais destruição impunes, realidades que não afectaram a equação milagreira do século XXI.

Nem o medo, nem o crescente risco de confrontação nuclear, nem mesmo o espectáculo degradante que resulta das migrações descontroladas são suficientes para a travar a globalização selvagem.

Longe vão os tempos da ingenuidade do movimento que ganhou expressão nos anos 80 do século passado, em que se destacaram Ngozi Okonjo-Iweala (entusiasta) e Milton Santos (céptico).

Na miríade global, em que parte da população mundial ficou à margem, a maioria dos cidadãos dos países ricos continuam inebriados com o consumismo, indiferentes à desigualdade e agora até complacentes com as matanças ao vivo e em directo.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

O PODER, O AUTORITARISMO E A PIADA


A rentrée política trouxe mais do mesmo, até os mesmos erros e suspeitas, a mesma falta de transparência e os mesmos sinais negativos para o futuro.

Retrocedemos ao fantasma da má memória, com mais amigos do primeiro-ministro na ribalta e – pasme-se! – às novas dúvidas sobre as suas finanças pessoais, sem um qualquer esclarecimento do Ministério Público.

Regressamos com a convicção que a saúde, a educação e a justiça vão continuar em alta ebulição, a avaliar pelas greves em curso e anunciadas, penalizando ainda mais os mais pobres.

Vivemos na perspectiva do anúncio de piores indicadores económicos e financeiros decorrentes da recessão que se desenha na Europa e do forçar do estoiro no sector imobiliário, com consequências devastadoras para a economia e emprego.

Voltamos a assistir às incompreensíveis decisões judiciais sobre os próprios magistrados ou à parola glorificação de quem, arrogantemente, propala a violação dos tratados internacionais.

Em suma, assistimos aos episódios, tipo guerra de alecrim e manjerona, protagonizados pelo primeiro-ministro e pelo presidente, que, apesar de muito graves, comparados com o terramoto em Marrocos apenas podem merecer as gargalhadas dos portugueses.

Como se tudo lhes fosse permitido até ao próximo acto eleitoral.

No início do século XXI, o poder político e executivo dos regimes democráticos deixam rastos de crescente autoritarismo, fazendo dos seus jogos opacos uma questão de interesse nacional.

A questão não é só portuguesa, ainda que entre nós o despautério continue a atingir níveis alarmantes e perigosos.

No tempo da bárbara guerra de Vladimir Putin basta atentar às juras ocidentais de apoio à Ucrânia que contrastam com as dúvidas do próprio presidente Zelensky, como tão bem deu conta Fareed Zakaria.

A brilhante piada feita pelo actor Woody Harrelson on The Iraq, Afghan…. Ukraine War. - YouTube devia deixar-nos, apesar de sabermos de que lado estamos, em alerta sobre a prepotência, o cinismo, a hipocrisia e a indiferença em relação ao dia-a-dia dos cidadãos.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

MONSTROS DO SÉCULO XXI


Será que o espancamento de uma mulher indefesa no Irão ou no Afeganistão é uma “questão cultural”?

Será que os assassínios na Ucrânia e os encarceramentos na China podem alguma vez ser considerados “questões internas”?

As imagens da repressão no Afeganistão, na China e no Irão são brutais.

Tal e qual como as fotos e os vídeos da agressão, da invasão e da guerra que Vladimir Putin continua a impor ao povo ucraniano.

Perante estas tragédias, entre outras, que nos invadem diariamente, ainda há quem encontre pretextos para evitar a condenação firme e inequívoca.

Outros que tais, ainda mais ardilosamente, até invocam a impossibilidade de exportar modelos políticos para manter um acobardamento inaceitável.

Por último, não é possível esquecer todos aqueles que, por fanatismo religioso, dependência das negociatas e ódio nacionalista ou racial, tudo desculpam aos actuais regimes facínoras.

Aliás, não admira, para estes e quejandos, que baste uma bola para disfarçar todo o tipo de violências, contra as mulheres, os imigrantes e ainda outras minorias.

De uma maneira ou de outra replicam a lógica bafienta de outros afins que, por razões opostas, no século passado, silenciaram regimes políticos de má memória.

A denúncia dos crimes já não chega, é preciso desmascarar intransigentemente a lógica infernal que tem servido para aliviar e eternizar os poderosos monstros do século XXI.







segunda-feira, 14 de novembro de 2022

A GUERRA NUNCA SERÁ ALTERNATIVA



As imagens da libertação de Kherson já fazem parte da memória colectiva em todo o Mundo.

Tal e qual como o relato do massacre de Babi Yar, em Kyiv, o maior extermínio cometido na II Grande Guerra, realizado entre 29 e 30 de Setembro de 1941.

A vitória da civilização, que venceu a prepotência e a barbárie, é o património comum que importa mais do que a derrota do ditador Vladimir Putin.

Jerónimo de Sousa não percebeu de que lado está liberdade.

Nem ele, nem o seu sucessor, Paulo Raimundo, ainda que exista no PCP uma minoria que rejeita, em surdina, o recurso à força para impor uma solução.

Se a agressão e a invasão da Ucrânia visavam a defesa de um qualquer projecto ideológico, então é caso para dizer que a substituição do modelo das democracias ocidentais recuou um século.

O assassino russo faz parte do passado de todos dos horrores, pelo que o isolamento da Rússia vai determinar um novo ciclo.

A guerra no século XXI, como bem sublinhou António Guterres, é um absurdo, nunca será opção, nunca será alternativa.

O arsenal militar, designadamente as armas nucleares, não foi suficiente para aterrorizar os cidadãos ucranianos.

Será que Xi Jinping já percebeu a mensagem?











segunda-feira, 12 de setembro de 2022

TEMPOS DE GRANDES MUDANÇAS


As crises, pelas mais diversas razões, obrigam a alterações de paradigma, uns radicais, violentos e insuportáveis, outros necessários e por vezes até úteis e bem-vindos.

Com o desaparecimento de Isabel II, e por mais esforços dos "jornalistas de Estado", o novo Rei Carlos III não vai escapar à crise institucional no Reino Unido, mais saco de dinheiro, menos saco de dinheiro, como já advinham as posições da Escócia e da Antiga e Barbuda.

Com a Guerra na Europa, o último truque de António Costa com as pensões revelou que nem com uma imprensa domesticada é possível fazer passar um truque do tamanho das promessas eleitorais desde 2015.

O afastamento de Boris Jonhson, que obteve, em 2019, a maior maioria absoluta do partido Conservador desde Margaret Thatcher, é disso um exemplo gritante.

Com a inflação a disparar, todos os receios são admissíveis e justificados.

A incerteza gerada pela pandemia é uma pequena amostra daquela que estamos a começar a viver agora por força de um status quo que tem os dias contados.

Internamente, o desvario governativo é transversal, desde a Saúde e a Justiça às Forças Armadas, isto sem esquecer o presidente que ainda é acalentado pelas sondagens por um povo que tarda em interiorizar o que se avizinha.

Externamente, o desenhar de um conflito à escala mundial, militar ou económico e financeiro, alterou todos os cenários e perspetivas.

A subida da extrema-direita na Europa, que acompanha a consolidação de movimentos radicais e anti-sistema, são uma fracção dos desafios dos próximos anos.

Com ou sem energia barata, com ou sem a vitória da Ucrânia, os tempos são de grandes mudanças.

Resta saber quanta dor e sofrimentos vão ser impostos aos povos, desde o Mundo civilizado aos mais pobres do Terceiro Mundo.

Insistir na pose de Estado, na ficção, em pactos de fachada e no adiamento de reformas com transparência e verdade é um sinal de pouca inteligência política.


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

DOS VENDILHÕES À “ESFERA DE INFLUÊNCIA”


Não há pacote de apoio a empresas e famílias que pague o custo de premiar os vendilhões do templo e negociar com assassinos e ditadores.

Por isso, a capa do jornal i sobre a Festa do Avante, denunciando estratégia do PCP, teve o mérito acrescido de fazer sair da toca os habituais boys.

São sempre os mesmos: os avençados, alguns jornalistas e os que confundem a voz do poder com a verdade.

Neste mundo globalizado, para o bem e para o mal, já não é possível esconder nem o preço da infâmia política nem quem trucida a vontade soberana do povo.

Os tão criticados argumentos de presidentes norte-americanos para subjugar a América Latina agora servem para tentar desculpar Vladimir Putin.

Condenar Ronald Reagan e Bush (pai e filho) para agora absolver Vladimir Putin e Xi Jiping só serve os abutres que vivem a conta dos negócios de Estado.

O pacifismo não se mede em rublos, dólares e euros.

Mahatma Gandhi e Tenzin Gyatso não se confundem com os movimentos internacionais ditos pacifistas que apenas têm servido as ditaduras fascistas e comunistas.

O aviso de 1962, em que o Mundo esteve à beira de uma guerra nuclear, não foi suficiente para aqueles que defendem a teoria da “esfera de influência”.

A civilização, a paz e os direitos humanos não se defendem de arma em riste, com sangue nas mãos, por mais interesses geoestratégicos, tachos, palmadinhas nas costas e propaganda.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

TAIWAN: ESQUERDA AO LADO DE TRUMP E DAS MALAS DE MACAU


A visita de Nancy Pelosi a Taiwan é um marco histórico que pode evitar a repetição da tragédia da invasão da Ucrânia (2014 e 2022) pelos militares de Vladimir Putin.

Não há qualquer dúvida, desde 3 de Agosto passado: Os EUA não vão abandonar Taiwan.

Qualquer movimento chinês de agressão à democracia da Formosa contará com a reacção e o envolvimento militar dos norte-americanos.

Não espanta a reacção hostil, de países como Venezuela, Coreia do Norte, Cuba e Rússia, à deslocação da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA à ilha do mar da China.

O que surpreende – ou já não! – é uma certa esquerda portuguesa que se apressou a classificar a visita como “provocação”.

É hilariante assistir aos “intelectuais” ao serviço do poder de esquerda de braço dado com Donald Trump.

Antes, o abandono do Mundo e da NATO era condenado; agora, o retorno a um certo papel de “polícia do Mundo” é vociferado.

Em boa verdade, à excepção de Ana Gomes, os socialistas continuam em modo de rebanho da maioria absoluta.

António Guterres lá vai tentando um equilíbrio, cada vez mais perigoso e precário, sem esquecer quem o elegeu secretário-geral da ONU.

Entretanto, os órgãos de soberania ficam pelo sussurrar pequenino em relação à China, quiçá determinado pelas negociatas passadas e futuras e por serviços de informações infiltrados por uma certa maçonaria.

Em que ficamos?

Pela vergonha do selo da rosa nas malas de dinheiro de Macau distribuídas pelos partidos portugueses?

segunda-feira, 27 de junho de 2022

UCRÂNIA: JANELA PERDIDA



Mais de 4 meses depois da agressão e da invasão liderada por Vladimir Putin, os ucranianos continuam a tombar.

Apesar da propaganda, desde os apoios humanitários ao fornecimento de armas, a verdade é que os russos continuam a avançar.

Resta a vitória europeia de atribuir à Ucrânia o estatuto de candidato à adesão da União Europeia.

Com as sociedades europeias a sentir verdadeiramente os efeitos da guerra, a partir de Setembro, a inevitável contestação à perda de poder de compra poderá fazer a diferença.

Os franceses já deixaram um aviso.

Não compreender que a janela de oportunidade para derrotar o ditador se está a esgotar é um gigantesco erro de percepção.

Putin pode impor aos russos mais fome, miséria e silêncio, mas as democracias ocidentais dificilmente conseguirão travar a contestação social que se avizinha a curto prazo.

Jogar a solução da Guerra na Europa no médio e longo prazo pode ser fatal para a Rússia, mas também é um risco demasiado perigoso para as sociedades europeias.

O sentimento de não estar a ser feito tudo deixa um gosto amargo.

Talvez seja mais fácil compreender a reacção dos “pacifistas” e “comissionistas” a cada anúncio de mais um apoio ao povo ucraniano, a cada barreira erguida contra a impunidade russa.

Os 120 dias perdidos são um incentivo para o ditador, um álibi para mais negociatas internacionais, uma ameaça para as democracias e uma condenação para os países mais pobres.

 

 

 


segunda-feira, 20 de junho de 2022

QUANDO A RAZÃO DE ESTADO MATA


Um certo estilo de vida e o conforto das sociedades ocidentais dificilmente continuarão a florir à custa dos negócios manchados de sangue e corrupção.

A autorização do Reino Unido para a extradição de Julian Assange para os Estados Unidos da América é uma ameaça à liberdade ao nível da agressão e da invasão da Ucrânia pelas forças militares de Vladmimir Putin.

Tal e qual como é ultrajante a perseguição a Edward Snowden e a prisão de Alexei Navalny, por maior que reine o silêncio politicamente cobarde.

Seja qual for o país e o regime político não há um único ser humano digno desse nome que aceite tais monstruosidades políticas e legais.

O cartão amarelo dos franceses a Emmanuel Macron, retirando-lhe a maioria absoluta parlamentar, prova que o cinismo político também pode – e deve! – ser derrotado.

Como bem sublinhou Ana Gomes, propalar a defesa dos valores ocidentais ao mesmo tempo que, por exemplo, o grupo de armas francês Thales continua a trabalhar para os russos comprova como a razão de Estado pode criminosamente continuar a matar.

Aliás, um olhar para o passado recente – de um lado, Hitler, Stalin e Pétain; do outro, Luther King, Mandela e Xanana – corrobora que as potências mundiais e os seus líderes também podem ser derrotados, e até humilhados, quando espezinham os limites civilizacionais.

A defesa da liberdade não começa e acaba no apoio financeiro, no envio de armas e no acolhimento da Ucrânia na União Europeia.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

DA MÃO ESTICADA AOS TREMOÇOS



Esforços diplomáticos são só para a bola.

A “conquista” da final da Champions, em 2020, é um dos momentos mais politicamente ridículos da presidência de Marcelo Rebelo de Sousa.

Valeu tudo antes das eleições antes das eleições presidenciais de 24 de janeiro de 2021.

Hoje, em contraste, objectivamente, chocam a falta de empenho e de mobilização do presidente em relação à Guerra na Europa.

Nem mesmo o “orgulho” de ter um secretário-geral da ONU português, António Guterres, é suficiente para convocar o Estado português.

Entre palavras pias do primeiro-ministro, e uns trocos de ajuda humanitária, Portugal apenas se tem destacado no acolhimento de refugiados ucranianos, logo manchado pelas suspeitas de espionagem ao serviço dos russos.

A oportunidade perdida de cumprir um papel activo em prol da paz, tantas vezes desempenhado por pequenos países nos conflitos internacionais, faz jus à indigência institucional em que estamos mergulhados.

Aliás, após 75 dias de invasão russa, o mediação da paz continua a pertencer à Arábia Saudita (ditadura), à Bielorrússia (agressor), a Israel (armas), a Abramovich (oligarca), à Suíça (branqueamento) e à Turquia (violação dos Direitos Humanos).

É preciso dizer mais?

No dia da Europa, resta uma diplomacia portuguesa de mão esticada, para sacar mais uns cobres à União Europeia, quiçá para abocanhar uns restos da reconstrução da Ucrânia.

Só faltam os tremoços.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

PRESIDENCIAIS FRANCESAS: TUDO EM ABERTO


A tendência de radicalização continua a ser desvalorizada pelos senhores do poder, porque continuam a acreditar que, à última da hora, o colectivo adiará uma hecatombe política e social.

Os 45,1% obtidos por Marine Le Pen (23,15%) e Jean-Luc Mélenchon (21,95%) na primeira volta das presidenciais francesas deviam fazer soar todos os alarmes.

Mais grave ainda é o resultado de 57,8% alcançados entre os franceses com 25-34 anos: Marine (30%) e Mélenchon (27,8%), atirando Macron (19,3%) para um terreno pantanoso.

A realidade revela que o voto útil – ou o mal menor – já não é suficiente para manter o establishment.

O cansaço da juventude francesa e a incógnita da abstenção deixam tudo em aberto para a segunda volta.

A hipótese de vitória de Marine Le Pen está em cima da mesa, ameaçando um retrocesso de décadas, tal e qual como a agressão e a invasão da Ucrânia pelas forças russas.

Os franceses identificam Macron com o grande capital e Marine com os desfavorecidos, pois é cada vez mais difícil governar com a boca nos pobres e a mão no bolso.

Enquanto o centrão político continua a negar uma profunda reforma financeira, económica e social a nível global, Marine Le Pen está hoje mais perto do Eliseu do que em 2017.

Vladimir Putin está à beira de conseguir nas urnas francesas o que ainda não conseguiu – para já! – pela força das armas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 11 de abril de 2022

FRANÇA: A LUTA CONTINUA


A tentativa de resumir a Guerra na Europa a um conflito entre a Rússia e a Ucrânia é uma desonestidade factual monstruosa.  

É uma armadilha semântica em que políticos e comentadores intelectualmente honestos, sejam de esquerda ou de direita, não podem cair.  

A verdade é que estamos perante um agressor e invasor (Rússia) e um agredido (Ucrânia), como reconhecem todas as entidades internacionais, desde 24 de Fevereiro passado.

De facto, há uma certa esquerda falida que tenta branquear o carniceiro, até veiculando imagens de origem duvidosa dos crimes – pasme-se! – ucranianos.

Este truque, abjecto, faz parte de um movimento tão velho quanto amplo, sempre travestido de preocupações com a paz mundial, que apenas visa consolidar o que ilegalmente foi conquistado pela brutalidade das armas.

Já o conhecemos há muito tempo, basta lembrar aqueles que sempre defenderam a União Soviética, mesmo depois de Budapeste (1956) e de Praga (1968).

Hoje, ainda vão mais longe no cinismo político, insistindo em defender a Rússia, mesmo depois da invasão da Crimeia (2014) e dos massacres de Alepo (2016), agora repetidos em Borodyanka, Bucha e Mariupol.

Curiosamente, estes algozes da Democracia, que andam sempre com os direitos humanos na boca, tombam nas contradições de um frentismo avençado.

Depois do alinhamento de Viktor Orban com Vladimir Putin, o financiamento russo da extrema-direita de Marine Le Pen, entre outros, é sumariamente atirado para debaixo do tapete.

O resultado da primeira volta das eleições presidenciais francesas é mais um alerta ao establishment que não pode ser ignorado.

A perspectiva de ter um fantoche de Putin e dos seus apaniguados a liderar a França é tão ameaçadora como fechar os olhos aos crimes de guerra de Putin e do seu exército na Ucrânia.

 


segunda-feira, 4 de abril de 2022

BUCHA E MARIUPOL


O primeiro-ministro fez uma declaração de firme condenação depois de conhecido mais um massacre na Ucrânia.

Para trás ficaram hesitações e palavras subservientes com as posições dúbias da China e da Índia.

As audíveis e insistentes reprovações, desde o Papa Francisco a Ana Gomes, começam agora a ser levadas a sério por António Costa.

Os truques mediáticos já não disfarçam as contradições dos membros da União Europeia, designadamente as alemãs e as francesas.

E, quando é preciso ser pró-activo e exemplar, porque a crise vai ser avassaladora, grita mais alto a passividade de Marcelo Rebelo de Sousa.

Nem uma carta, obviamente escrita com as duas mãos, nada, só chavões de circunstância.

O presidente prefere as guerras internas de alecrim e manjerona, fomentando a tensão institucional para fazer prova de vida estrambótica.

Desde o primeiro-ministro refém dos votos até ao ultimato dos portugueses para que cumpra o mandato, o presidente entrou numa fase de verborreia perigosa.

É o vazio de Belém, em que a forma vale mais do que a substância, a credibilidade e a palavra sem exibicionismos.

Faltam estadistas limpos e com visão para barrar e denunciar a pressão das negociatas de curto prazo.

Os massacres de Bucha e de Mariupol, mais duas “medalhas” dos senhores do poder e da guerra, não serão esquecidos.

Os europeus não vão poder ignorar a chacina, enquanto ligam o aquecimento e fazem zapping a partir do sofá.

O preço a pagar é demasiado elevado para mais um patife virar de página.

segunda-feira, 28 de março de 2022

CARNICEIRO E ESCALADAS

 

Mais de um mês após a agressão e a invasão da Ucrânia não faltam relatos e estatísticas dos massacres.

Milhares de mortes e milhões de refugiados enchem os ecrãs das televisões e as bocas de governantes, políticos, empresários, jornalistas e comentadores.

Não faltam “peças” lancinantes sobre os ucranianos pacíficos derrubados às mãos do carniceiro russo.

Os ataques a casas, famílias, hospitais e museus dão a real dimensão do outro lado do horror da guerra.

O cavalgar da tragédia, explorando a emoção até à indecência, vai fazendo a história.

Aqueles que alimentaram Vladimir Putin no passado ainda tentam desesperadamente garantir-lhe uma saída airosa com futuro.

Agora, despudorada e cinicamente, até juram que é por temerem a ameaça nuclear, quando na verdade é tão-só o vergar às armas, quiçá, pensando em negociatas futuras.

No meio de tanta devastação, que tudo tem arrasado, impressiona a imaculada rede de condutas que continua a transportar o gás da Rússia para o Ocidente.

Por ora, nem o agressor (Rússia), nem a vítima (Ucrânia), nem os beneficiários (europeus), nem mesmo os comissários do costume ousaram colocar em crise os interesses que estão a montante da barbárie.

A apatia e a cumplicidade, em relação a um qualquer ditador, têm custos incalculáveis, ontem como hoje, porque as escaladas verbal e militar não se previnem a jusante da guerra.



 

 

segunda-feira, 21 de março de 2022

COSTA, BAIXA POLÍTICA E MIGALHAS

 


A hesitação na condenação peremptória da agressão russa a um Estado soberano diz tudo do primeiro-ministro, líder partidário e político.

Mesmo depois da condenação histórica do TIJ, António Costa continua incapaz de assumir uma declaração inequívoca na defesa do Direito Internacional e dos valores civilizacionais.

Na ONU, União Europeia e NATO até vamos a eles, mas depois, enquanto Estado, não faltam habilidades para evitar a condenação do criminoso de guerra.

Restam os braços abertos para os refugiados ucranianos, uma atitude à altura do momento, mas que não disfarça as vantagens do negócio do equilíbrio da segurança social falida.

É aviltante o seguidismo em relação aos dois mais importantes parceiros estratégicos – China e Índia – face ao miserável massacre de civis na Ucrânia.

Há quem lhe chame diplomacia, e até estratégia, mas é apenas a mesma lógica de baixa política que conduziu à Guerra na Europa.

Certamente, na senda de agradar ao “chefe”, também não é por acaso que uma certa intelligentsia caseira multiplica argumentos de alarve branqueamento de Vladimir Putin.

Habituados a chafurdar nesta pocilga política, Marcelo Rebelo de Sousa permanece acantonando na irrelevância institucional – entre o exibicionismo e o apagamento.

Os negócios com Angola, China e Venezuela continuam a ser o padrão de referência da governação à esquerda.

É a continuidade do vale tudo – dos “vistos gold” à incompreensão da rejeição ucraniana da rendição –, desde que sobrem umas migalhas.

O posicionamento internacional de Portugal exige um debate profundo, sobretudo em tempos de maioria absoluta do PS.

Pelo que resta da credibilidade portuguesa no seio da comunidade internacional.

Pela nossa própria segurança.

segunda-feira, 14 de março de 2022

DE PUTIN A SCHOLZ


O ex-chanceler alemão, Gerhard Schröder, tomou posse em 1998, aprovando o Nord Stream 1.

Depois da derrota em 2005 – Ängela Merkl no poder e o início do Nord Stream 2 –, rumou à Nord Stream AG e Rosneft, depois de ter sido contratado pelo Banco Rothschild.

É mais um exemplo de um negócio de Estado, com um banco e muitos interesses privados, o qual deu alento a Vladimir Putin para invadir a Ucrânia.

Entretanto, a trágica dependência do gás russo ainda não foi suficiente para uma resposta à altura de Olaf Scholz, actual kanzler.

Nem para uma atitude corajosa dos Verdes alemães – Robert Habeck, vice-chanceler e super ministro da Economia e do Ambiente, e Annalena Baerbock, ministra dos Negócios Estrangeiros.

Mais grave ainda é a súbita e extraordinária viragem dos Estados Unidos da América e da própria Rússia para a China.

Os crimes na Ucrânia nunca poderão ser desvalorizados por outros crimes passados no Afeganistão, Chechénia, Iraque, Jugoslávia, Líbia, Palestina, Síria, etc.

Aliás, Alexei Navalny é tão intolerável como Julian Assange e Edward Snowden.

O pragmatismo e a geometria variável dos governantes mundiais continuam a levar à guerra, à barbárie e a milhões de refugiados.

As vítimas nunca foram mais importantes do que os interesses geo-estratégicos, bem como outros escondidos e inconfessáveis.

A guerra, a corrupção e os tráficos (armas, drogas duras e seres humanos) são inaceitáveis, seja qual for o regime, a latitude, o credo e o número de vítimas.

Depois da agressão e invasão da Ucrânia, as opiniões públicas demonstram não admitir o recurso às armas, sejam quais forem as justificações.

De Putin a Scholz, o fim da Guerra na Europa está mais dependente da coragem e pressão das opiniões públicas, sobretudo alemã e russa, do que das palavras pias dos líderes mundiais.

 

segunda-feira, 7 de março de 2022

ARMA SECRETA DE PUTIN


A globalização normalizou as ditaduras, desde a Rússia à China, transformando-as em potentados económicos e comerciais.

A esquerda no poder, com a direita das negociatas, vergou os valores aos novos mercados.

Tony Blair, Barack Obama e Angela Merkl mantêm o silêncio face à agressão e invasão da Ucrânia, enquanto António Costa lhe chama, Zmente, “acção militar”.

Desde a melhoria de vida até à inspiração do modelo democrático, tudo serviu para pactuar com os ditadores.

Segundo o Eurostat, a União Europeia registou um défice comercial com a Rússia, em 2021, de 69 mil milhões de euros, perdas que acumula desde 2008 para pagar energia e matérias-primas.

A todo o gás rumo ao desastre, as sanções à Rússia vão penalizar também as restantes economias.

A arma secreta de Putin vai além do nuclear: a reacção dos cidadãos ocidentais quando a crise apertar.

A corrupção de Estado foi sempre o trunfo dos pragmáticos, indiferentes ao financiamento do aparelho militar russo.

Os mortos da invasão da Crimeia e de Maidan (2014) não fizeram travar Putin, muito menos a avidez de comércio e especulação a qualquer preço.

Quanto ao congelamento dos activos da Rússia e dos seus oligarcas em Portugal, o presidente fica calado, o PM já está em “modo” maioria absoluta e Rui Rio ruma à Madeira.

Depois de erros e traficâncias, o Mundo ocidental voltar-se-á, novamente, para a China.

Vêm aí mais uns restos.

A III Guerra Mundial já não é uma mera ficção.


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

COBERTOS DE SANGUE


Sentados nos seus gabinetes, certamente com várias “smart” TV, telemóveis 5G e mais um par de gadgets, os líderes dos países ocidentais assistem a mais uma matança.

Obviamente, indignam-se, protestam e até avançam sanções financeiras e económicas, algumas das quais para encher o olho da opinião pública.

Entretanto, as cidades cobrem-se de azul e amarelo, multiplicam-se as emoções e as manifestações e disparam os alertas nucleares.

Nenhuma razão, nenhuma, parcial ou total, justifica uma agressão e invasão militares, porque a guerra é inaceitável.

Depois de disparado o primeiro tiro, quando tomba o primeiro civil inocente, já é sempre tarde de mais.

A Ucrânia é mais um capítulo da “brincadeira” ocidental com o dinheiro sujo, mais comissão menos comissão. 

Confundir Justiça e Segurança, permitindo que os espiões, e os serviços de informações, assaltem o topo do poder político, nunca será uma solução.

Pactuar com os ditadores e as ditaduras terá sempre um elevado preço.

Seja qual for a propaganda, venha ela donde vier, só poderá haver prosperidade e paz quando os instrumentos que eternizam o arbítrio, a corrupção e a selvajaria forem atacados de frente.

Ora, até ao momento, as offshores do imenso imundo mundial continuam intocáveis.

Pela amostra presente, a legalização dos lobbies apenas serviu para melhor continuar a promover com toda a transparência as negociatas, desde as de Estado às do tirano mais abjecto.

Enquanto for possível esconder impunemente o dinheiro proveniente do crime, o mar de lágrimas que corre pelo mundo fora não será suficiente para lavar os governantes cobertos de sangue.

A indústria de armamento rejubila com mais uma guerra que ainda não se sabe como poderá acabar.

Portugal não pode continuar a ter parceiros estratégicos que apoiam e suportam Vladimir Putin.

Hoje, Ucrânia; amanhã, Taiwan.