sexta-feira, 29 de julho de 2011

Secretas: Desonestidade tem limites



O debate político sobre os Serviços de Informações continua a ser pautado pela tradicional promiscuidade, indigência e desonestidade intelectual.

Um coro de protestos tem sido audível a propósito da transferência de um espião para uma empresa privada:  a Ongoing.

É uma crítica tardia, mas certeira.

Mas, já agora, onde estavam estes críticos quando o ex-primeiro-ministro, José Sócrates, transformou um espião no seu principal assessor político?

Ou melhor, se um alto quadro do governo pode passar para o topo da gestão de uma empresa pública ou privada, e vice-versa, por que razão um espião não pode passar para a consultadoria empresarial pública e privada, quiçá, e vice-versa?

Afinal, a existir critério, então estamos a falar de altos quadros com acesso a informação classificada que circulam por onde querem sem qualquer regra de prudência instituída.

Não terá chegado a hora de acabar com esta farsa?

A trapalhada que ficou conhecida como o "caso Bairrão" é a consequência do caos em que os serviços vivem há demasiado tempo.

Infelizmente, a forma como o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, reagiu às notícias é mais do mesmo.

Não basta anunciar inquéritos. É preciso fazer mais. É urgente cortar com os lobbies que sustentam este modelo de Serviços de Informações porque eventualmente lhes garantem impunidades e/ou privilégios injustificados.

Os Serviços de Informações não podem funcionar à solta pelo simples facto de que o Segredo de Estado garante uma total impunidade, nem tão pouco podem sustentar a sua utilidade com os préstimos a este ou aquele governo, a esta ou aquela empresa, em detrimento dos interesses colectivos e de Estado.

Pedro Passos Coelho tem de libertar-se dos lobbies que defendem o actual modelo, promovendo uma reforma das secretas no sentido de uma profissionalização urgente, em que a regra do segredo não sacrifique a fiscalização e a transparência.

Resta saber se tem competência para a fazer, liberdade para a levar a cabo e vontade para a concluir no espaço de uma legislatura.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

EUA: O aliado que tem dias

O murro no estômago do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, provocado pelo corte do rating da República, levantou um coro de protestos de toda a ordem, uns mais patrioteiros do que outros, mas sempre num uníssono tom de orgulho ferido.

Como se não bastasse a humilhação, a Moody's ainda teve o atrevimento de clarificar que a decisão de atirar o país para o nível do lixo já tinha levado em linha de conta as últimas medidas draconianas, o que só veio enfurecer ainda mais a super estrutura nacional.

Esvaziada a fúria, com uma pitada de emoção q.b., a análise da triste realidade portuguesa passou a ser feita através do prisma da guerra em curso entre o dólar e o euro.

Assim, não faltaram vozes autorizadas a clamar por uma reacção firme da União Europeia contra o tão despropositado ataque norte-americano.

Encurralados no meio desta guerra global, muito por culpa da própria governação, parece não haver trunfos que valham para inverter o actual curso dos acontecimentos: nem o poderoso Durão Barroso, nem a tão estratégica aliança com a super potência do outro lado do Atlântico parecem servir para amainar ventos tão desfavoráveis.

Até a cotação da momentânea cegueira do Estado português em relação aos aviões da CIA, carregados de sequestrados para Guantánamo, parece ter sido atirada para o lixo, qual crédito mal parado em tempos de crise.

Como avisa o adágio, quem se coloca permanentemente de joelhos, só tem o que merece.

domingo, 3 de julho de 2011

Nacional-Choraminguice

   


Depois da ameaça dos estrangeiros tomarem conta das estações de televisão, o que veio a acontecer, parcialmente, mesmo depois de uma chuva de benesses atribuídas no tempo do guterrismo, os dois principais "patrões" da comunicação social puxaram pelos galões para voltar a pedintar um proteccionismo injustificado.

Não é novidade. Foi sempre assim, desde 1992.

Nos momentos de reforço da concorrência no negócio das televisões, a escassez da publicidade foi sempre um argumento esgrimido com total desfaçatez.

A choraminguice dos patrões da SIC e da TVI, a propósito da privatização da RTP, representa o triste panorama do empreendedorismo português.

Ou seja, sempre com o risco na boca, mas com o Estado no bolso.

Agora, a única diferença é a alteração da estratégia da ameaça.

Paes do Amaral e Pinto Balsemão invocaram eventuais riscos para a sustentabilidade dos jornais e das rádios para pressionar o governo a adiar o inevitável: a privatização da RTP.

Ainda que tal desvelo e desassossego possam ser justificados pelas respectivas almas de jornalistas, a verdade é que ambos não se atreveram a invocar igual perigo para o futuro das estações de televisão que dominam.

Seria de mais, sobretudo para os accionistas de ambos os grupos.

Num país em que as empresas estão a encerrar a um ritmo vertiginoso ainda há quem tenha o descaramento de vir a público pedinchar prerrogativas especiais.

E as outras empresas, que estão sujeitas a uma concorrência feroz?

E os novos desempregados, que perderam os respectivos postos de trabalho por causa da actual crise de mercado e da selvagem política de preços?

A Nacional-Choraminguice dos "patrões" da comunicação social é um péssimo exemplo, que não pode ser premiado pelo governo de Portugal que prometeu a mudança.