segunda-feira, 24 de novembro de 2025

A MONSTRUOSIDADE DAS SOCIEDADES




As intervenções do senador Claude Malhuret, desde 2023, sobre a invasão da Ucrânia e o genocídio em Gaza, são um brilhante repositório das contradições ocidentais.

As palavras do médico fundador dos “Médecins Sans Frontières”, político centrista à antiga, defensor implacável dos direitos humanos e da democracia liberal, são inspiradoras.

São mote para avaliar a falência norte-americana e europeia e até servir como ponto de partida para a discussão sobre a monstruosidade das sociedades que suportam a chacina de civis inocentes.

Afinal, as matanças na Ucrânia e na Palestina só são possíveis graças às cumplicidades globais que têm permitido alimentar as máquinas de guerra russa e israelita.

Da BBC à RTP, entre muitos outros, as máquinas de propaganda oficial lá continuam ao serviço (dos seus criminosos) de Estado, ora por acção, ora por omissão.

O que resta?

Assistir às imagens grotescas de morte, fome e destruição, sem um vislumbre de mobilização global que obrigue os Estados e os governos a agirem dentro da legalidade.

Os jornalistas do século XXI têm sido as próprias vítimas da guerra, documentando atrocidades que antigamente ficavam nas gavetas de governantes e chefias editoriais.

Ainda que correndo os riscos de manipulação, tal como os Media, as redes sociais têm servido para globalizar a verdade.

O impacte desta nova realidade tem permitido distinguir de uma forma vítrea os facínoras no poder que, seguramente, não estão apenas circunscritos à Rússia e a Israel.

Em época de debates entre os candidatos presidenciais, cujo escrutínio de fachada não tem acrescentado muito, não admira que, por ora, alguns temas sejam deliberadamente abafados, como por exemplo o genocídio em curso em Gaza.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

EU O ACUSO, NETANYAHU


Majdal ʿAsqalān, vila palestina do sul da Palestina histórica, é mais um exemplo de massacre e deslocação de palestinianos, que ocorreu durante a guerra de 1948 (Nakba, “catástrofe”), obrigando à fuga de 750 mil palestinianos, com a destruição de 500 vilas e cidades.

Depois de capturada a 5 de novembro de 1948 (Operação Yoav), actualmente a moderna cidade israelita de Ashkelon (אשקלון) continua a prosperar, apesar dos múltiplos protestos da comunidade internacional e sucessivas condenações na ONU.

A política assassina de Israel, nos últimos 77 anos, também foi alvo de críticas da comunidade artística, tendo dado origem ao protesto de Vanessa Redgrave, quando recebeu um Óscar em 1978, um dos momentos históricos da cerimónia de Hollywood.

Na véspera do início dos debates entre os candidatos presidenciais ninguém sabe qual será a posição do futuro presidente da República em relação à Palestina.

Portugal vai continuar a ser cúmplice activo do genocídio em Gaza e do assalto às propriedades dos palestinianos na Cisjordânia?

O silêncio dos candidatos presidenciais só é possível por causa da falta de escrutínio da generalidade dos Media portugueses, aliás um embuste editorial que não é exclusivo de Portugal, pois basta atentar à moribunda BBC.

A vertigem das superpotências e a falência do multilateralismo têm permitido a Israel a política do crime consumado, perpetuando uma realidade que resulta da maior e mais assustadora impunidade.

Tal como noutros abusos idênticos, mais ou menos facínoras, a reposição da legalidade no Médio Oriente não advirá da mediação da comunidade ocidental nem dos seus valores de fachada.

A barbárie só pode ser derrotada pela cidadania, como revelou a deputada Naama Lazimi no Knesset (11/11/2025): «Eu o acuso, Benjamin Netanyahu, pelos eventos do 7 de Outubro. (...) Eu o acuso de financiar o Hamas».

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

DAR DEMASIADAMENTE NAS VISTAS


A 13 de Outubro de 2025, durante uma conferência de imprensa, em Bruxelas, Gabriele Nunziati fez a pergunta mais simples e devastadora:

– A União Europeia afirma que a Rússia deve pagar pela reconstrução da Ucrânia. Israel deveria pagar pela reconstrução de Gaza?

Sem resposta, o jornalista da agência de notícias italiana “Nova” foi demitido, pouco tempo depois.

A pergunta continua a assaltar a mente mesmo daqueles, cada vez menos, que ingenuamente ainda acreditam nos valores ocidentais e europeus.

As redes sociais têm permitido muito mais do que estados de alma e teorias da conspiração, pois estão a questionar e a desconstruir os maiores embustes da humanidade que mataram milhões de pessoas.

As atrocidades de Israel em Gaza e na Cisjordânia são do conhecimento global maioritariamente graças aos telemóveis, as "armas" das vítimas do genocídio e dos pobres do século XXI.

Nada continuará a ser igual pelo que se percebe a reacção de pavor dos pequenos cúmplices e afins.

A eleição de Zohran Mandani é a primeira grande reposta dos cidadãos ao "Estado de loucos".

A cidade de Nova Iorque, com mais de 10% de judeus, ou seja um número superior ao existente na capital de Israel, foi capaz de eleger um presidente muçulmano.

O que se segue?

Mais atentados gigantescos, para confundir os cidadãos?

A invasão e esmagamento de mais e mais países?

A repetição de assassinatos políticos, como aquele de 22 de Novembro de 1963, em que John F. Kennedy foi assassinado em Dallas?

Os senhores da guerra – Netanhyau, Putin, Trump, entre outros –, estão a dar demasiadamente nas vistas, têm cada vez menos margem para operações negras (militares e secretas), pois perderam o controlo da informação global.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

FACÍNORAS AINDA MAIS EXPOSTOS


O alarme internacional foi dado a 2 de Novembro, quando Yifat Tomer-Yerushalmi foi dada como desaparecida.

Dois dias antes, a major-general do IDF, a primeira mulher a liderar o Corpo de Advogados Geral Militar de Israel, depois de alegadamente se demitir, deixava uma nota à família – "Amo-vos, cuidem-se".

Em causa a autorização para a divulgação de um vídeo comprovando a tortura e os abusos sexuais sobre detidos palestinianos suspeitos de envolvimento com o Hamas em Sde Teiman, instalação de detenção militar localizada no deserto do Negev, em Israel.

As reacções da ONU, que classificou estes actos como "tortura generalizada e sistémica", incluindo violência sexual, e de outras organizações internacionais, como a B'Tselem, assaltaram as redes sociais e os Media nacionais e internacionais.

O caso foi tão sério que os Estados cúmplices do genocídio em Gaza mantiveram um rigoroso silêncio, que se arrasta pesadamente desde a revelação das imagens transmitidas pelo Canal 12 de Israel, a 7 Agosto de 2024.

As reacções de Benjamin Netanyahu, e demais membros do governo de Israel, estiveram à altura dos mais reles facínoras ainda mais expostos, condenando a fuga de informação, mas nunca os crimes em si.

E faltava o hino à farsa do sistema judicial militar israelita: os cinco soldados israelitas acusados de abuso agravado surgiram em conferência de imprensa, a 2 de Novembro, com máscaras para ocultar as suas identidades, dificultando a investigação de crimes de guerra do TPI.

Yifat Tomer-Yerushalmi é mais um exemplo da importância da cidadania, a única acção que actualmente pode travar os assassinos impunes que lideram Israel.

Resta esperar que a militar israelita, com um curriculum ímpar, não acabe assassinada numa cela de prisão, ou tenha o mesmo fim de Eliran Mizrachi, o soldado israelita que se suicidou para não ter de regressar a Gaza.

Ou ainda que tenha de percorrer o mesmo calvário de Edward Snowden e Julian Assange, entre outros, que não se conformam com o terrorismo de Estado.