A gratuidade e a universalidade do Serviço Nacional de Saúde têm gerado um gigantesco equívoco nas últimas décadas.
Como não implica pagamento imediato, mais taxa menos taxa, o cidadão tem tolerado abusos, desorganização, corrupção e até gritante falta de qualidade.
Como sempre sofre quem é mais pobre e tem menos influência e capacidade de reivindicação.
Em pandemia, a situação agravou-se ainda mais com milhões de consultas e milhares de cirurgias adiadas.
Mas o que era um facto só negado pela propaganda oficial passou a ser uma política de Estado assumida.
Gouveia e Melo, vestindo a pele do bafiento saudosismo militarista, anunciou o reforço do plano de vacinação à custa da qualidade da prestação do serviço.
O SNS de caserna está em passo de marcha.
Em boa verdade, não é a franqueza do vice-almirante que choca, mas sim o silêncio do presidente, do primeiro-ministro, dos deputados, em suma, da esmagadora maioria dos cidadãos.
Não podemos ir a um centro comercial, a um restaurante, a um bar, e até circular fora de horas, mas podemos ir para uma fila com centenas de pessoas, sujeitos a torrar ao sol, para sermos vacinados.
E, de notar, dizem que o plano de vacinação está a correr bem, ainda que sem divulgação de informação oficial que permita um escrutínio sério e rigoroso.
Agora, por um instante, imaginem se estivesse a correr mal…
A falta respeito pelos cidadãos, no SNS como noutros serviços públicos, é apenas mais um sinal da degradação do regime.
A constatação faz parte de todos os relatórios independentes, mas é preciso recordar que o SNS não é borla nem oferecido pelo Estado liderado pela Esquerda, é pago com os impostos dos portugueses.
O pior que nos podia acontecer, como tem acontecido com ou sem pandemia, é a confirmação de um SNS para os pobrezinhos agradecidos que comem, calam e lá vão cantando, rindo e morrendo.
Também vamos ter militares, com camuflados, de armas em punho, à porta dos centros de vacinação?