Tong Ying-Kit, cidadão de Hong Kong, que foi condenado a nove anos de prisão ao abrigo da lei de segurança, não aviva a memória dos "bons portugueses".
De Aníbal Cavaco Silva a Jorge Sampaio, de António Guterres – , actual secretário-geral da ONU, o então primeiro-ministro de Portugal à data da transferência de soberania de Hong Kong e Macau para a China –, a muitos outros.
É a confirmação do abandono dos “chinocas”, como alguns do alto da sua parolice apelidavam as populações dos dois territórios.
Hoje, 24 anos depois, numa das mais fascinantes e cosmopolitas capitais mundiais, a liberdade morre, diariamente, às mãos da ditadura chinesa.
Porém, como outros exemplos de cidadania, Tong Ying-Kit ainda faz acreditar.
O antigo empregado de mesa, de 24 anos, que não viu Tiananmen, em directo, mas tem memória do que representou o massacre, é de outras massas.
Entretanto, o rio de cobardia política escorre gordurosamente entre os dedos das mãos dos líderes dos países carimbados pela nova "Rota da Seda".
Uns tachos e uns penachos sempre amansaram a consciência de "estadistas", uns fabricados de plástico, outros aromatizados pelos negócios da China.
Os impérios foram sempre assim construídos, mais guerra, menos guerra, com mais sangue ou menos sangue.
E a exibição de poder, hoje, continua à medida de mais abusos e arbítrios.
Até António Costa decreta a "libertação" – mas só para Portugal –, como se tal dependesse unicamente dele.
Aliás, a arrogância politicamente insolente, tique de ditadores, também é comungada por Marcelo Rebelo de Sousa, quando quer impor a todo o custo a sua obstinada “ciência” na vacinação dos mais jovens.
Sobre o que se passa na China, nada.
Ambos continuam a fazer de conta, não vá qualquer palavra comprometer mais alguns trocos.
A resistência contra as ditaduras, sejam elas quais forem, políticas ou sanitárias, em Hong Kong ou no "Mundo Livre", é sempre um sinal de esperança na derrota dos amanhãs radiosos e da falsa segurança enfeitada.
A prepotência está bem presente no dia-a-dia, à custa da indiferença de muitos que vão abafando a resistência de poucos.
Na China, Tong Ying-Kit foi condenado por vontade de um tribunal.
Por cá, os amigos do poder ao mais alto nível, a contas com a Justiça, passeiam com à-vontade.
O autoritarismo, musculado ou dissimulado, fomenta invariavelmente um Estado totalitário, como Snowden e Assange denunciaram.
Tong Ying-Kit foi apenas o primeiro a senti-lo na pele, depois de clamar: «Libertar Hong Kong, revolução do nosso tempo».
Afinal, os perseguidos também são abandonados e ignorados, porque os vencedores têm sempre uma história acomodada à medida dos heróis incensados.