segunda-feira, 9 de agosto de 2021

BERARDO, RANGEL, SALGADO, SÓCRATES E VIEIRA: É POSSÍVEL MAIS?


Nos últimos anos, um grupo de cinco "ilustres" foi suficiente para comprovar a vulnerabilidade do regime democrático.

Certamente, outros haverá na sombra, uns já identificados, outros por descobrir.

A queda do império Espírito Santo, qual castelo de gosma à custa de cumplicidades ao mais alto nível, funcionou como o gatilho.

Nem o BCP e a CGD escaparam a tanto escarro de colarinho branco.

Berardo (cultura), Rangel (justiça), Salgado (banca), Sócrates (política) e Vieira (desporto) são exemplos da condenação do país a uma vida pior e mais pobre.

A evidência é factual e inquestionável.

Os tribunais tratarão das questões criminais.

Entretanto, importa saber: é possível repetir tais façanhas com as consequências, implicações e custos conhecidos?

A resposta não podia ser mais desanimadora.

O clima político piora, com a catástrofe sanitária e a bazuca a abrirem auto-estradas para todas as negociatas.

A regulação, cada vez mais governamentalizada, afunda em formalismos que resultam numa ineficiência assombrosa.

A falta de meios de investigadores, procuradores e juízes – e a sempre recusada autonomia financeira – garante uma impunidade aviltante, nem que seja pelo arrastamento processual.

O escrutínio da comunicação social, salvo raras excepções, está refém da subserviência e da sobrevivência.

Antes já era assim, agora a situação é ainda mais grave, pelo que ninguém ficará surpreendido se um ou mais novos artistas de idêntica “classe” rebentarem em breve.

O assalto de Tancos (2017), o afastamento de Joana Marques Vidal (2018), a escolha do Procurador europeu (2019), o processo do Banco Português de Fomento (2020) e o autoritarismo sanitário (2021) são sinais arrepiantes.

A repetição da letra do fado manhoso seria a gota para fazer transbordar o copo da paciência, apesar de a propaganda dificultar o inevitável despertar dos cidadãos.

Marcelo Rebelo de Sousa não faz a diferença, sendo que tem agravado vertiginosamente o "pântano" com um branqueamento ímpar, ultimamente temperado por achaques de despotismo.

Navegando à vista, e repetindo a muleta do amigo, ou melhor dos amigos, António Costa fabrica fantasias enquanto prepara a carreira internacional, restando saber se a Europa está disponível, até ao último cêntimo, para o engolir.

E, à cautela, os mesmos que andaram a fazer a cama a Rui Rio, nos últimos três anos, já preparam um transporte da rua São Caetano, número 9, à Lapa, para a reforma, no Porto. 

Os protagonistas vão mudando, a encruzilhada é a mesma e o resultado continua previsível.


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

COBARDIA QUE ACOMODA A CHINA


Tong Ying-Kit, cidadão de Hong Kong, que foi condenado a nove anos de prisão ao abrigo da lei de segurança, não aviva a memória dos "bons portugueses".

De Aníbal Cavaco Silva a Jorge Sampaio, de António Guterres – , actual secretário-geral da ONU, o então primeiro-ministro de Portugal à data da transferência de soberania de Hong Kong e Macau para a China –, a muitos outros.

É a confirmação do abandono dos “chinocas”, como alguns do alto da sua parolice apelidavam as populações dos dois territórios.

Hoje, 24 anos depois, numa das mais fascinantes e cosmopolitas capitais mundiais, a liberdade morre, diariamente, às mãos da ditadura chinesa.

Porém, como outros exemplos de cidadania, Tong Ying-Kit ainda faz acreditar.

O antigo empregado de mesa, de 24 anos, que não viu Tiananmen, em directo, mas tem memória do que representou o massacre, é de outras massas.

Entretanto, o rio de cobardia política escorre gordurosamente entre os dedos das mãos dos líderes dos países carimbados pela nova "Rota da Seda".

Uns tachos e uns penachos sempre amansaram a consciência de "estadistas", uns fabricados de plástico, outros aromatizados pelos negócios da China.

Os impérios foram sempre assim construídos, mais guerra, menos guerra, com mais sangue ou menos sangue.

E a exibição de poder, hoje, continua à medida de mais abusos e arbítrios.

Até António Costa decreta a "libertação" – mas só para Portugal –, como se tal dependesse unicamente dele.

Aliás, a arrogância politicamente insolente, tique de ditadores, também é comungada por Marcelo Rebelo de Sousa, quando quer impor a todo o custo a sua obstinada “ciência” na vacinação dos mais jovens.

Sobre o que se passa na China, nada.

Ambos continuam a fazer de conta, não vá qualquer palavra comprometer mais alguns trocos.

A resistência contra as ditaduras, sejam elas quais forem, políticas ou sanitárias, em Hong Kong ou no "Mundo Livre", é sempre um sinal de esperança na derrota dos amanhãs radiosos e da falsa segurança enfeitada.

A prepotência está bem presente no dia-a-dia, à custa da indiferença de muitos que vão abafando a resistência de poucos.

Na China, Tong Ying-Kit foi condenado por vontade de um tribunal.

Por cá, os amigos do poder ao mais alto nível, a contas com a Justiça, passeiam com à-vontade.

O autoritarismo, musculado ou dissimulado, fomenta invariavelmente um Estado totalitário, como Snowden e Assange denunciaram.

Tong Ying-Kit foi apenas o primeiro a senti-lo na pele, depois de clamar: «Libertar Hong Kong, revolução do nosso tempo».

Afinal, os perseguidos também são abandonados e ignorados, porque os vencedores têm sempre uma história acomodada à medida dos heróis incensados.