Numa realidade democrática consolidada e adulta não há instituições nem profissões boas nem más, nem tão-pouco umas mais importantes do que as outras.
É tão importante um bombeiro como um médico, um camionista como um polícia, um canalizador como um enfermeiro, um jornalista como um magistrado e um governante como um lixeiro.
Todos eles são essenciais para realizar uma vida em sociedade.
E não é por serem alvos de críticas que a sua honorabilidade e o regime democrático são colocados em causa.
Em épocas de incêndios, por exemplo, há muitos e muitos anos que está demonstrada à saciedade a falta de qualidade dos bombeiros e a fraca eficácia do sistema de protecção civil recheado de apparatchiks.
E não é por isso que podemos afirmar que são dispensáveis.
Aliás, também está amplamente comprovado a falta de qualidade da classe política e dos governantes.
E não é por isso que vamos prescindir dos partidos políticos e de um modelo de governação democrático.
É verdade que há instituições e profissões mais ou menos maçadoras, uns por força da sua capacidade de intervenção, outros pela mobilização capaz de fazer greves.
Seja a comprar golas inflamáveis para protecção dos fogos, seja a parar o país.
Mas o problema é outro: aqueles que se julgam sagrados e imunes à crítica, ao escrutínio e à mudança.
Os bombeiros estão entre aqueles que, pela nobreza da sua acção, se julgam intocáveis.
E os governantes perpetuam uma realidade que nos obriga a continuar a ver o país a arder desalmadamente.
O mesmo se poderia aplicar a todas as outras situações que envolvem esta espécie de castas que fazem tão bem como mal, e que é urgente modernizar e colocar numa trajectória útil.
Ou seja, em Democracia, se as golas maçadoras são intoleráveis, as vacas sagradas alimentadas por fantasias reles e oportunistas são imperdoáveis.