segunda-feira, 26 de abril de 2021
FAZER DE CONTA 47 ANOS DEPOIS
segunda-feira, 19 de abril de 2021
SÓCRATES SEGURO
A Operação Marquês é apenas a ponta do iceberg da corrupção em Portugal.
Tendo em conta a evolução do processo, das decisões dos sucessivos recursos para os tribunais superiores até à decisão instrutória, o momento de fazer Justiça não tardará.
E, no momento do trânsito em julgado, será mais fácil ver com nitidez o filme da corrupção que tem liquidado o desenvolvimento e o crescimento de Portugal.
A confirmarem-se as provas que constam do megaprocesso, que nos dão um retrato fiel e alargado do poder político e executivo, da banca e das empresas, tudo indica que o ex-primeiro-ministro acertará contas no instante próprio.
Em todos os grandes processos judiciais contra a corrupção, à medida da plausibilidade da condenação, não fica pedra sobre pedra.
Desde a "Operação Mãos Limpas até à "Lava Jato", ao passo que a Justiça cumpriu o seu papel, foram vários os condenados que desvendaram o que não fora então alcançado pela Justiça.
E se não foi possível atacar o "polvo" de uma forma mais profunda e eficaz, tal apenas se deveu à interferência do poder político, das mais diversas formas, para se proteger a si próprio.
Não vale a pena tentar confundir esta realidade histórica com um eventual alheamento da política no funcionamento da Justiça.
Usar uma mentira instrumental com objectivos outros, quiçá, pessoais e partidários, nem serve a transparência nem a República.
José Sócrates não tem perfil para aceitar ser um bode expiatório, quando conhece bem como funciona o país ao mais alto nível.
Se é fundamental que Sócrates tenha direito a que se faça Justiça, com todas as garantias processuais, não é menos importante deixar a Justiça funcionar, garantindo-lhe toda a segurança até ao fim do processo.
Portugal ficaria a ganhar.
segunda-feira, 12 de abril de 2021
OPERAÇÃO MARQUÊS: O CLIQUE QUE FALTAVA
O despacho
de pronúncia da Operação Marquês já fez correr rios de tinta, entre vestes
rasgadas por um lado e pelo outro, tal e qual como no intervalo de um jogo de
futebol.
E, pasme-se,
tudo resumido à "derrota" do Ministério Público e à
"vitória" do ex-primeiro-ministro que foi corrompido e pronunciado
por seis crimes que ainda lhe podem valer muitos anos de cadeia.
A
futebolização do país dá nisto, uma mescla de boçalidade, cinismo e fanatismo.
Ivo Rosa
disse ao que vinha: colocou sob suspeita a distribuição inicial do processo e
acusou o Ministério Público de incompetência e motivações políticas.
Os críticos acusam
o juiz de acolitar Sócrates e demais arguidos, mas ainda ninguém aventou a
hipótese de também ter sido corrompido, quiçá estar debaixo de coacção ou
chantagem.
O despacho de
Ivo Rosa é apenas mais um.
Coube-lhe
decidir e fundamentar o seu juízo que, felizmente, está sob recurso, pelo que é
grotesco fazer a discussão típica do fora de jogo e do penalti que foram ou
ficaram por marcar.
O desfecho
instrutório não pode ser desvalorizado, nem tão-pouco aliviados os seus termos,
erros grosseiros e legalidade, porque até Sócrates e amigalhaços têm direito a
um colectivo.
Para já,
antes de perder tempo com o copo meio cheio ou meio vazio, importa reconhecer,
sem fatalismos, que se cumpriu mais uma etapa.
A lentidão é
exasperante?
É verdade!
Assim é
impossível combater a corrupção?
Também é
verdade.
Não está nas mãos do juiz compensar a balburdia legislativa e a falta de meios que têm condenado os megaprocessos, seja no caso Marquês ou Portucale (submarinos).
E também não cabe a Sócrates e demais arguidos, pronunciados ou não, prescindir de garantias, por mais mirabolante que seja a fabricação, mais Kafka menos Zola, do previsível truque à brasileira em curso.
O esgar que traiu Sócrates, ao vivo e a cores, em directo, no preciso instante em que o juiz o começou a tratar como mentiroso, corrupto e meliante, com estrondo, vale mais do que mil palavras.
A competência, a racionalidade e a transparência continuam a ser antídotos contra os “justiceiros” e os branqueadores de prime time.
O debate é
sempre útil, porque acrescenta escrutínio, mas continua a valer o princípio da
separação de poderes: à justiça o que é da justiça, à política o que é da
política.
A Operação
Marquês pode ser o clique que faltava para despertar os magistrados,
porque Portugal está a morrer às mãos dos tribunais que estão a administrar a
Justiça em nome do povo.