A hecatombe do Bloco de Esquerda e do PCP e a explosão do Chega e da Iniciativa Liberal atiraram o país para as mãos de uma governação que havia manifestamente falhado.
Agora, sem a desculpa dos empecilhos à esquerda, com a direita ainda mais radicalizada e varrida a importância de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa vai enfrentar a sua própria aventura.
E se o receio lhe deu a vitória, a realidade obrigá-lo-á a subir penosamente o Gólgota, tais são os erros do passado e os riscos que estão no horizonte.
O medo também foi vencedor das eleições legislativas antecipadas.
A maioria absoluta do PS foi o refúgio que os portugueses consideraram mais seguro no actual tempo de crise excepcional.
O PSD não foi capaz de entender que a hora era de dar mais segurança, deixando-se embalar pela sereia do Bloco Central e por sondagens cuja credibilidade definitivamente morreu.
Rui Rio estava teimosamente preparado para o país, mas os portugueses ainda não estão confiantes numa mudança sustentada em mais rigor.
O caos na Justiça, Saúde e Educação não foram suficientes para mudar, pois a alternativa ancorada em mais exigência foi percepcionada como um risco insuportável.
Mais demérito do PSD do que mérito do PS.
O povo português entendeu colectivamente que devia dar mais uma oportunidade a António Costa.
Fê-lo expressivamente, fazendo baixar a abstenção.
«O povo votou, o PS ganhou».
Foi assim que António Costa sintetizou a maioria absoluta do PS.
Só resta saber se a grande ilusão manterá os mesmos protagonistas e a estabilidade política e social durante quatro anos face à oposição dura e crua do Chega e da Iniciativa Liberal.
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