Enquanto o Mundo gira perigosamente, de Gaza a Kyiv, por cá o precipício também está cada vez mais perto.
Não há uma única voz que publicamente defenda integralmente a actuação de Marcelo Rebelo de Sousa no caso das gémeas do Hospital de Santa Maria.
Se ainda há quem tenha dúvidas, não é preciso ser um génio para ter a certeza absoluta de que o presidente não fez o que se impunha.
Desde logo, meter o Dr. Nuno Rebelo de Sousa na linha.
Bastava dar o exemplo, com um telefonema paternal, dizendo-lhe para não repetir o atrevimento de interceder por terceiros junto de Belém.
Até bastava não dar seguimento a tal afoiteza, mas o presidente preferiu a troca de telefonemas e mensagens com os médicos, com a cautela de plástico para a eventualidade do caso se tornar público.
O presidente pode ser descontraído e até muito distraído – como com Ricardo Salgado e Tancos –, mas depois da notícia das gémeas tratadas nem sequer teve o cuidado de saber o que havia acontecido.
A inteligência nem sempre é prática, a formalidade nem sempre é a salvação e a familiaridade em cargos de Estado é sempre institucionalmente fatal.
António Costa que o diga, mesmo "frustrado e magoado", pois apresentou imediatamente a demissão após a revelação pública de indícios criminais.
Não há como branquear o que Marcelo devia ter feito, mas não fez, pelo que só há uma solução: renunciar, num último gesto de dignidade institucional, política e pessoal.
P. S. Todos aqueles que têm sido vítimas por se oporem à lógica de influências, favores e abuso de poder merecem o maior respeito, porque são os exemplos da cidadania que importam e contam na República.
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