segunda-feira, 13 de julho de 2020

VALHA-NOS A EUROPA


A semana começa com o credo na boca.

Os olhos e os corações estão concentrados nas negociações europeias para a aprovação do Fundo de Recuperação.

A cimeira europeia dos próximos dias 17 e 18 de Julho vai decidir o nosso futuro.

Sim, dependemos totalmente da solidariedade europeia para comer e tentar respirar nos próximos anos.

Mais uma vez, Portugal, com os socialistas na liderança do governo, é apanhado com as calças na mão, desta vez por causa da pandemia.

Ninguém, mas mesmo ninguém, se atreve a colocar a hipótese de não haver um acordo que faça chover mais dinheiro.

Mas nem tudo são rosas.

A eleição do novo presidente do Eurogrupo, um desastre diplomático para Portugal, não é um bom augúrio.

Apesar do apoio alemão a Nadia Calviño – candidata apoiada por António Costa – foi o irlandês Paschal Donohoe que venceu.

Em tempos de pandemia, e com a Alemanha cada vez menos disponível para pagar os interesses de cada um dos países, algo está a mudar entre os 27 países membros da União Europeia.

E o inicio desta mudança surge precisamente no momento em que Portugal ultrapassou os 260 mil milhões de euros de dívida pública, o valor mais elevado de sempre.

Não estamos tão mal como a Itália, mas também não temos a força da economia italiana, nem poderemos contar com a ajuda da afundada economia espanhola liderada por um governo PSOE/Unidas Podemos.

E o sacrossanto binómio exportações/turismo está em reparação.

É neste contexto que o país tomou conhecimento do "plano" de António Costa e Silva, um documento vago e sempre ao serviço, que nos faz regressar ao passado da discussão do TGV, com um toque de "La Seda" da nova fronteira de produção de hidrogénio.

Já não temos desculpa, porque já vimos e pagámos este filme de terror demasiadas vezes.

E nem mesmo o anunciado plano estratégico para a década, desta vez do PSD, serve para sossegar os mais realistas.

E vai ser, novamente – temos de ter Fé! –, um valha-nos a Europa.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

A "NOVA" VERSÃO DE TANCOS


O ambiente de medo e o cheiro nauseabundo das trapalhadas e das negociatas fazem lembrar o fim de mandato de Aníbal Cavaco Silva e José Sócrates.

E na última semana tudo se passou como se nada de extraordinário e grave tivesse ocorrido.

Estranho?

Não!

A presidência está transformada no bailete do Vira, o governo age sem responsabilidade ou receio de ser responsabilizado, o PSD liquida o principal instrumento institucional da oposição, grassa a subserviência, impera o fundamentalismo e falta o escrutínio.

O falhanço no combate à pandemia, a nacionalização da EFACEC e o reforço da posição do Estado na TAP, derrotas monumentais do governo de António Costa, são apenas mais três exemplos do padrão em que mergulhámos há muito tempo.

COVID-19: O aumento dos casos na área metropolitana de Lisboa, a escandalosa falácia de membros do governo sobre os transportes públicos, os desmentidos dos números oficiais de infectados e o "chumbo" do Reino Unido seriam suficientes para causar um terramoto político.

EFACEC: Depois de ignorar avisos, livros e até a queixa de Ana Gomes em Bruxelas, sobre a compra da empresa à luz da legislação europeia anti-branqueamento de capitais, António Costa anunciou a nacionalização (só faltou a imperial), expondo o Estado a mais um contencioso.

TAP: O falhanço da reversão da reprivatização e a assumpção de gigantescas dívidas quatro anos depois demonstram como o governo age sem responsabilidade política e não teme qualquer responsabilização da parte do PR, da oposição e demais entidades judiciais e de controlo.

Apesar de inquinarem o presente e representarem uma enorme ameaça tudo continua como se ninguém fosse responsável, nem mesmo pelas vergonhosas cláusulas secretas agora descobertas.

O desastre, a mentira, a incúria e o fundamentalismo ideológico passam entre os pingos da chuva de um país que começa a arder na indiferença até do anúncio oficial do regresso da censura.

Também fica a constatação de termos chegado, novamente, ao lodaçal que já experimentámos no passado com custos e consequências tão trágicas.

É caso para perguntar com toda a legitimidade: será que todos andam a enganar António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa ou será que ambos andam a mentir ao país há demasiado tempo?

Até parece que voltamos a viver ao ritmo da saga de Tancos...





segunda-feira, 29 de junho de 2020

PATRIOTEIROS E FINGIDOS


O último governador de Macau, do alto da sua impunidade institucional, considerava maus portugueses aqueles que criticavam a administração portuguesa, numa espécie de versão cavaquista do então "deixem-nos trabalhar".

Não tarda nada, a propósito da Covid-19, ainda vamos assistir à mesma rábula tão típica de uma concepção do mundo paroquial em que, aliás, o secretismo e os apelos à união são tão-só uma tentativa infame de alijar responsabilidades.

Apontar os erros clamorosos, para não dizer criminosos, ao falhanço no combate à pandemia continua a ser, na lógica dos patrioteiros de algibeira, uma espécie de ataque ao interesse nacional.

Não importa a verdade, a realidade e o sofrimento de quem vive um dia-a-dia cada vez mais infernal com serviços de hospitais fechados e transportes públicos que mais não são do que uma via verde para ficar doente.

Apenas interessa a boa imagem de Portugal, como se fosse possível garanti-la, na era da informação global, com truques canhestros  e um "milagre" mal-amanhado.

E, assim, lá se vai inventando um bode-expiatório – ontem eram os mais velhos e hoje são os jovens , deixando cair até, preventivamente, o aviso de que não há espaço para uma crise política, tanto mais que a culpa é sempre dos outros.

Infelizmente, os patrioteiros e fingidos continuam impunes, apesar de comprometerem o futuro do país, fazendo gato-sapato de quem tem de enfrentar o vírus e recusa ser tratado como carne para Champions.

O resultado está à vista: debaixo dos discursos oficiais e da capa do Estado estão os números crescentes e assustadores de infectados em Portugal.

Aliás, o desnorte é tal que só faltava mesmo desvalorizar a interdição da entrada de portugueses em diversos países europeus, entre os quais alguns dos principais aliados.

Não valeu a pena tanta ficção, tanta lamechice, tanta opacidade, tanta sabujice política e tanta desonestidade intelectual.

A estratégia de passar verniz por cima dos problemas  a que despudoradamente já se chamou a extraordinária capacidade de improviso dos portugueses , revela até que ponto atravessamos momentos dramáticos e ameaçadores.

O presidente da República e o primeiro-ministro deviam meter a mão na consciência, reflectindo seriamente enquanto é tempo, pois o que o país precisa é de mais acção e menos palavreado, mais prevenção e menos bazófia e mais competência e menos incúria.

É que o nosso futuro não pode depender de patrioteiros e de fingidos.















segunda-feira, 22 de junho de 2020

JOVENS ACORDAM


Faço parte daqueles que acreditam que os mais novos são sempre uma esperança.

E nunca aceitei a tese simplista que os jovens vivem alheados da realidade social e política.

Por canais informais, e segundo os seus interesses, a juventude é atenta ao que se passa à sua volta, tanto mais que tem de lutar e aproveitar todas as oportunidades para ter um emprego condigno e aspirar a uma vida.

A verdade é outra: Há várias gerações de jovens que têm sido massacradas pelos desmandos do poder político e pelas sucessivas crises.

E, agora, subitamente, com a pandemia, passaram a alvo do poder institucional por assumirem simplesmente um comportamento em linha com os exemplos e as mensagens do poder.

É caso para perguntar: Será que as festas e os ajuntamentos dos jovens nos últimos dias são uma forma de dizerem ao poder presidencial, executivo e político que basta de tanto arbítrio e hipocrisia?

Ou melhor, estaremos face a uma espécie de statement de protesto?

Vale a pena esperar, ver e reflectir!

É que não é possível apagar as últimas "brincadeiras" de Estado, como as manifestações, as comemorações e os espectáculos com a "afável" cobertura do regime.

Aliás, os ajuntamentos em Braga e no Porto, a festa na praia de Carcavelos e o aniversário em Lagos não são suficientes para explicar o "milagre" de casos e mais casos na área metropolitana de Lisboa.

E as últimas ameaças do primeiro-ministro e do presidente da República dirigidas aos jovens, brandindo a intervenção das forças policiais para quem não se resigna com a ausência escandalosa de critérios, é a prova do desnorte que graça ao mais alto nível.

Aliás, veja-se só o último exemplo que deve deixar qualquer jovem (ou menos jovem) confundido: o espectáculo que foi brindado com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa no Campo Pequeno acaba de ser proibido no Porto.

Os mais jovens parecem não aceitar mais esta etapa do bailete, pelo que fazem questão de reunir desafiando a autoridade de quem tem vindo a perder toda a credibilidade. 

Mesmo sabendo que as "brincadeiras", sejam elas de quem forem, têm consequências, quando descobertas e expostas.

É preciso parar e ponderar, adoptando uma abordagem verdadeira, transparente, responsável, coerente e pedagógica, em vez de apresentar as últimas festarolas da juventude como reuniões de hordas de macacos.

À luz do comportamento dos principais órgãos de soberania, agentes do Estado e demais afins sempre disponíveis para tudo justificar seria possível esperar outro comportamento da parte dos jovens?

Não!

A pressão que está a ser feita sobre os jovens é injusta e descabida, porque o seu comportamento é apenas o resultado de um frenesi das autoridades apostadas numa espécie de campeonato da propaganda e do disparate.

Como sublinhou Miguel Poiares Maduro, «não somos os melhores do Mundo. Mas deveríamos querer ser! Para isso, temos de trabalhar a partir da realidade».

Os recados desesperados, as ameaças veladas e as perseguições cobardes são sempre a marca dos medíocres e dos fracos, incapazes de assumirem os seus erros e de estar à altura de um período crítico.

Há quem ainda não tenha aprendido que os tiques arbitrários e autoritários, bem como os truques e a opacidade, com mais ou menos descaramento, impunidade e corrupção à mistura,  mais tarde ou mais cedo acabam mal.

Os últimos que se julgaram donos-disto-tudo já bateram com os costados na cadeia ou ainda andam às voltas com a Justiça.

Ou como diria o outro: às vezes, com o tempo, o(s) macaco(s) empoleirado(s) na grande árvore dana(m)-se!