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segunda-feira, 22 de novembro de 2021

NEM MAIS TRANSPARÊNCIA, NEM MENOS VERGONHA


Não fora a investigação liderada pelo juiz Carlos Alexandre, provavelmente nada se saberia sobre mais um escândalo em Portugal e na ONU.

Desde 10 de Março de 2020 até 8 de Novembro de 2021, nem uma palavra da organização internacional sobre os abusos perpetrados em nome da paz, perdão, dos diamantes.

Apenas um lacónico comunicado que transparece surpresa e, obviamente, promessa de disponibilidade para cooperar na investigação da Justiça portuguesa, mas sem confirmar a abertura de um inquérito.

O silêncio de 20 meses da ONU, em relação ao caso dos diamantes nas Forças Armadas em missão na República Centro Africana, pode indignar, mas não surpreende.

Nem mesmo a denúncia de António Silva Ribeiro, Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, que exibiu a carta enviada à ONU na audição parlamentar do passado dia 19, mudou o curso dos acontecimentos ou mereceu qualquer comentário oficial adicional.

Tal como muitos dos seus antecessores, António Guterres, secretário-geral da ONU, não mudou o paradigma: nem mais transparência, nem menos vergonha.

Afinal, o historial de escândalos já vem de longe.

E nem a última demissão de Anders Gunnar Kompass, diplomata sueco, em 2016, mudou o que quer que seja na tradicional política de encobrimento de todo o tipo de abusos.

Em Portugal, além das historietas oficiais sobre o caso dos diamantes, que mais parecem mentiras infantis, estão reunidas as condições para tudo ficar enredado nas malhas do tempo da Justiça à portuguesa.

E, no caso dos diamantes, o envolvimento cumulativo das Forças Armadas portuguesas e de angolanos ainda torna mais difícil qualquer esperança numa atitude de Estado, digna e limpa.

Já sabíamos, de acordo com a percepção dos portugueses, que há uma Justiça para ricos e outra para pobres.

No país de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa é mesmo assim, como já provaram outros casos – Manuel Vicente, Ricardo Salgado e ainda José Sócrates passados sete anos da sua prisão preventiva.

Resta saber se é admissível que o presidente, nas suas declarações oficiais, de modo hábil, implícito e quase sub-reptício, continue a sugerir um perímetro para tentar condicionar a Justiça, das razões de Estado ao prestígio das Forças Armadas.