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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
Saúde e os sem perdão
Longe vão os tempos em que alguns políticos assumiram, publicamente, que a Saúde tinha de ser a prioridade, de José Manuel Durão Barroso a António José Seguro.
Custa assistir ao sofrimento e à morte de doentes que confiaram num Serviço Nacional de Saúde (SNS) que se transformou numa farsa do regime.
Ao mesmo tempo que o presidente da República, o primeiro-ministro, o ministro das Finanças e demais partidos políticos exibem o certificado europeu de “bom aluno”, multiplicam-se as notícias sobre o aumento das listas de espera, a falta de médicos, enfermeiros e medicamentos, bem como o caos instalado nos hospitais e urgências.
Nem a extrema esquerda parece estar muito incomodada com a enormidade a que assistimos, hoje, com passividade criminosa.
Se os recursos não são ilimitados, então é necessário redefinir a alocação dos meios financeiros.
Tal como aconteceu no combate à corrupção, ao longo de anos a fio, foi o debate, a imprensa e a pressão da opinião pública que obrigaram governantes, polícias e magistrados a fazerem mais e melhor.
Tarda, por isso, que a Justiça acorde em relação aos crimes perpetrados, diariamente, na Saúde, sem receio de responsabilizar o Estado e os seus agentes, impondo indemnizações pesadas e metendo na cadeia quem não cumpre o seu dever.
Devem investigadores e magistrados do Ministério Público ficarem surdos e mudos perante os aflitivos atropelos na prestação dos cuidados de Saúde?
Os juízes podem continuar a permitir que os médicos justifiquem casos de negligência gritantes com a falta de meios humanos e de diagnóstico, os quais, infelizmente, quando chegam a tribunal, os que chegam, são passados a penas leves e a coimas insignificantes?
Tarda uma explicação cabal para não fazer o que é muito urgente ser feito, pois a questão não é de esquerda nem de direita, é apenas de humanidade e civilização, enfim, de regime.
Os meios do Estado estão identificados, tal e qual como as despesas, por isso é preciso cortar nalgum lado ou ir buscar dinheiro a quem o tem para garantir que o SNS funciona para todos, não apenas para quem tem uma cunha para ser melhor tratado ou ser operado sem ter de estar meses ou anos à espera.
Seja no sector público ou através dos privados, os portugueses, sobretudo os mais desvalidos e idosos, têm o direito de serem respeitados e tratados como seres humanos.
É tempo de acabar com os patéticos exemplos de Paulo Macedo e Adalberto Campos Fernandes, sobretudo pelo seu atrevimento em conviver, pacificamente, para não dizer irresponsavelmente, com a incúria que grassa no sector.
À beira de fazer 39 anos, o SNS só poderá melhorar se os próprios agentes da Saúde assim o exigirem. E a denúncia é uma forma de trazer para a luz do dia o que alguns, e são muitos, infelizmente, querem continuar a varrer para debaixo do tapete.
O exemplo dado pelos enfermeiros, e até por médicos que se demitem para não pactuar com a ignomínia, são actos de civismo e de grande coragem que devem ser escutados com atenção e respeito.
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