A tentativa de resumir a Guerra na Europa
a um conflito entre a Rússia e a Ucrânia é uma desonestidade factual monstruosa.
É uma armadilha semântica em que políticos
e comentadores intelectualmente honestos, sejam de esquerda ou de direita, não
podem cair.
A verdade é que estamos perante um
agressor e invasor (Rússia) e um agredido (Ucrânia), como reconhecem todas as entidades
internacionais, desde 24 de Fevereiro passado.
De facto, há uma certa esquerda falida que tenta branquear o carniceiro, até veiculando imagens de origem duvidosa dos crimes – pasme-se! – ucranianos.
Este truque, abjecto, faz parte de um movimento tão velho quanto amplo, sempre travestido de preocupações com a paz mundial, que apenas visa consolidar o que ilegalmente foi conquistado pela brutalidade das armas.
Já o
conhecemos há muito tempo, basta lembrar aqueles que sempre defenderam a União
Soviética, mesmo depois de Budapeste (1956) e de Praga (1968).
Hoje, ainda vão mais longe no cinismo político, insistindo em defender a Rússia, mesmo depois da invasão da Crimeia (2014) e dos massacres de Alepo (2016), agora repetidos em Borodyanka, Bucha e Mariupol.
Curiosamente, estes algozes da Democracia, que andam sempre com os direitos humanos na boca, tombam nas contradições de um frentismo avençado.
Depois do alinhamento de Viktor Orban com Vladimir Putin, o financiamento russo da extrema-direita de Marine Le Pen, entre outros, é sumariamente atirado para debaixo do tapete.
O resultado da primeira volta das eleições presidenciais francesas é mais um alerta ao establishment que não pode ser ignorado.
A
perspectiva de ter um fantoche de Putin e dos seus apaniguados a liderar a França
é tão ameaçadora como fechar os olhos aos crimes de guerra de Putin e do seu
exército na Ucrânia.