segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O QUE ESCONDE MARCELO?

 

Os factos são o que são, e as consequências também.

E, para já, há uma única certeza: a abertura da crise é da responsabilidade do presidente.

Políticos, analistas e comentadores, de todos os quadrantes, têm criticado a precipitação do anúncio da dissolução da Assembleia da República, ainda antes de estar esgotada a negociação do Orçamento do Estado para 2022.

E alguns até denunciam a flagrante e descabida ingerência na vida parlamentar e partidária.

Existiam outros caminhos, desde a elaboração de um novo orçamento até à apresentação de uma moção de confiança e/ou de censura, ou ainda o pedido de demissão do primeiro-ministro.

Assim, é de desejar que Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da formalização da data das eleições antecipadas, avance uma qualquer revelação que justifique o comportamento, à primeira vista, tão politicamente aventureiro.

Isto sem excluir, tendo em conta o histórico da personagem, a hipótese de dar o dito-por-não-dito.

Admitindo que o país vai mesmo a eleições, nas actuais circunstâncias económicas, financeiras e até pandémicas, é urgente uma cristalina prestação de contas, não basta invocar os poderes formais.

Tanto mais que, na próxima campanha eleitoral, os partidos não vão carregar as responsabilidades que não lhes cabem.

É exigível uma explicação coerente, caso contrário impõe-se investigar se o presidente está em condições para exercer o cargo ou então se existia um acordo prévio desconhecido dos portugueses.

Apesar de alguns achaques de autoritarismo, aparentemente explicáveis pela idade, a primeira possibilidade parece estar excluída.

Ora, a segunda ainda não está.

Aliás, face ao anúncio da dissolução, a pronta aceitação do primeiro-ministro, a roçar a submissão política, legitima a racionalidade e a pertinência de todas as suspeitas.

E ninguém esquece, ou pode desvalorizar, que a decisão presidencial foi anunciada com o conhecimento de uma disputa na liderança do PSD e do CDS/PP.

Aqui chegados, eis mais uma súbita cambalhota: depois do impulso, da urgência e da azáfama, o presidente anda agora a encanar a perna à rã, retardando a realização das eleições.

A bizarria já foi sibilinamente notada por Pedro Santana Lopes: «Há aqui qualquer coisa que parece que nos escapa».

O que esconde Marcelo Rebelo de Sousa?

Um pacto, com António Costa?

Cedências a outros políticos e protagonistas?

O presidente não pode tudo para apenas assumir uma centralidade que apazigúe a megalomania institucional.

A situação é demasiado grave para ficar por mais silêncios.

Ou por declarações espúrias e labirínticas, como tem acontecido com BES, GES, Novo Banco, Tancos, Covid, PRR e combate à corrupção.

Em situações semelhantes, os votos dos portugueses, bem ou mal, têm validado a utilização da “bomba atómica” constitucional.

E se tal não acontecer em 2022?

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

PSD: DEPOIS DE MAIS DE TRÊS ANOS SEM “PICA”



Com melhor ou pior orçamento, negociado à última da hora, o país sabe o que conta com António Costa: crescimento anémico, reformas estruturais adiadas, sobrevivência garantida pela União Europeia e muita propaganda.

E o PSD, como pode fazer a diferença?

O economicismo e o autoritarismo de Rui Rio não são os melhores argumentos para derrotar António Costa, como tem sido amplamente demonstrado.

Por isso, percebe-se, que o actual presidente do PSD jogue no apodrecimento do governo, em vez de batalhar no terreno com novas ideias.

Por sua vez, Paulo Rangel tem outros trunfos.

Mais cosmopolita, afirmativo e interventivo, o ainda eurodeputado tem a vantagem de já ter ultrapassado o fanatismo da velha direita, designadamente as finanças públicas salazarentas e o “papão” comunista e/ou maçónico.

Mas ainda falta saber qual é o seu plano para conquistar o poder, no partido e no país, bem como conhecer as principais referências da sua equipa.

No PSD, ninguém pode esquecer que uma parte do país ainda está traumatizado com Pedro Passos Coelho, com os cortes designadamente nas pensões.

É neste contexto que a disputa da liderança do PSD assume enorme importância.

Num ambiente de estagnação, com estrangulamentos que perduram, a estratégia fria do chicote dificilmente será capaz de derrubar a ilusão da austeridade encapotada.

De igual modo, o discurso patrioteiro e a diabolização de quem vive “acima das possibilidades” não mobilizam ninguém.

O dilema do futuro líder do PSD é aceitar esta evidência sem abdicar do rigor, transparência e criatividade para tirar o país do marasmo.

"Não acrescentar crise à crise” ainda continua a colher mais do que qualquer ameaça da chegada do diabo.

Para protagonizar a mudança, para ser capaz de chegar ao poder, o futuro líder do PSD tem de renovar a atitude, o discurso e os protagonistas.

E tem de assumir um discurso competente, pela positiva.

E, se a economia e as finanças são fundamentais, é na reforma da Justiça que Paulo Rangel pode garantir a vantagem para chegar à liderança do PSD e assumir uma candidatura a primeiro-ministro.

Depois de mais de três anos sem “pica”…