Mais de um mês após a agressão e a invasão da Ucrânia não faltam relatos e estatísticas dos massacres.
Milhares de mortes e milhões de refugiados enchem os ecrãs das televisões e as bocas de governantes, políticos, empresários, jornalistas e comentadores.
Não faltam “peças” lancinantes sobre os ucranianos pacíficos derrubados às mãos do carniceiro russo.
Os ataques a casas, famílias, hospitais e museus dão a real dimensão do outro lado do horror da guerra.
O cavalgar da tragédia, explorando a emoção até à indecência, vai fazendo a história.
Aqueles que alimentaram Vladimir Putin no passado ainda tentam desesperadamente garantir-lhe uma saída airosa com futuro.
Agora, despudorada e cinicamente, até juram que é por temerem a ameaça nuclear, quando na verdade é tão-só o vergar às armas, quiçá, pensando em negociatas futuras.
No meio de tanta devastação, que tudo tem arrasado, impressiona a imaculada rede de condutas que continua a transportar o gás da Rússia para o Ocidente.
Por ora, nem o agressor (Rússia), nem a vítima (Ucrânia), nem os beneficiários (europeus), nem mesmo os comissários do costume ousaram colocar em crise os interesses que estão a montante da barbárie.
A apatia e a cumplicidade, em relação a um qualquer ditador, têm custos incalculáveis, ontem como hoje, porque as escaladas verbal e militar não se previnem a jusante da guerra.
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